O medo do “macho”
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O medo do “macho”

Hoje tive o desprazer de ler a coluna do Rodrigo Constantino (colunista da Veja) sobre o manifesto “Homens, Libertem-se”. Esse manifesto foi lançado com o objetivo de contestar o papel do homem dentro de uma sociedade machista, como a nossa, reivindicando o direito de broxar, falir e chorar.

Tássia Lopes 15 jul 2014, 23:31

“Não se nasce mulher, torna-se mulher” (BERVOUIR, Simone)

Essa frase, embora curta, nos traz inúmeras reflexões acerca de gênero. Todxs nascem seres humanxs, com o sexo biológico macho ou fêmea. O gênero feminino e masculino são construídos socialmente num sistema de opostos. Onde a mulher deve ser passiva e homem ativo numa relação, onde a mulher cuida da prole/casa e o homem mantém a família, onde a mulher tem sua sexualidade reprimida e o homem goza, onde o homem não chora e a mulher chora.

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Hoje tive o desprazer de ler a coluna do Rodrigo Constantino (colunista da Veja) sobre o manifesto “Homens, Libertem-se”. Esse manifesto foi lançado com o objetivo de contestar o papel do homem dentro de uma sociedade machista, como a nossa, reivindicando o direito de broxar, falir e chorar. Inúmeras personalidades como a cartunista Laerte, o músico Paulinho Moska e o deputado estadual do RJ Marcelo Freixo (PSOL) assinam.

Infelizmente Constantino não conseguiu entender. Esse manifesto tenta desconstruir o macho nesse sistema de opostos. Sistema que oprime as mulheres e homens que não seguem esse padrão. O colunista afirma que quem sai do padrão é gay, porém sabemos que isso perpassa por todas as orientações sexuais, inclusive hetero. Em seu texto, incomodado com o fato de homens poderem ser sensíveis, ele pergunta: “Mas qual seria, então, a distinção entre um macho e uma “biba” afetada, ou mesmo uma mulher?”

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Respondo: a diferença hoje é que mulheres continuam recebendo menos que homem, para o mesmo cargo e função. Está nos índices de assassinatos por homofobia e transfobia. Está nos dados que mostram que a grande maioria das mulheres que são assassinadas no Brasil são vítimas de seus companheiros (ou ex). Está no número de estupro, cuja maioria são cometidos por conhecidos das vítimas. Está numa sociedade em que mulheres trans tem uma única opção de emprego: a prostituição.

EXIGIMOS direitos e não diferenças.

E ao afirmar que mulheres não irão gostar desses homens do manifesto, respondo novamente: Sou mulher e o que eu detesto de verdade são esses machões que me inferiorizam pelo simples fato de ser mulher. Eu não quero ser protegida, não quero quem mantenha casa e filhos, não quero homem para controlar meu corpo e sexualidade, não quero homem que não aceita ter broxado e tenta colocar a culpa em qualquer coisa para não admitir que não estava no melhor momento para o sexo.

Quero homens que desconstruam todos esses valores machistas e estejam lado a lado das mulheres, jamais a frente. Por isso a importância da luta das mulheres e da iniciativa desse manifesto. Precisamos urgentemente desconstruir esses valores do patriarcado que tanto nos oprime. O patriarcado não deve parecer natural: juntxs vamos mudar!

 

*Tássia é do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos! e candidata a deputada estadual no RN.


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