Angela Davis, uma mulher do fim do mundo
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Angela Davis, uma mulher do fim do mundo

Considerada “muito perigosa” pelo ex presidente Richard Nixon, Angela Yvonne Davis, mulher negra, Pantera Negra e militante do Partido Comunista completou 72 anos de (r)existência no dia 26 de janeiro.

Marcela Lisboa 27 jan 2016, 17:37

Angela Davis, uma mulher do fim do mundo Considerada “muito perigosa” pelo ex presidente Richard Nixon, Angela Yvonne Davis, mulher negra, Pantera Negra e militante do Partido Comunista completou 72 anos de (r)existência no dia 26 de janeiro. Angela começou a vida política muito cedo. Filha de militantes, aos 12 anos já cruzava o país de ônibus com os viajantes da liberdade na luta contra o segregacionismo. Naquela época ainda não era possível dimensionar a importância daquela vivência. Em poucos anos ela se consolidara como referência na luta contra o tratamento dado a população negra no sistema carcerário, principalmente após a prisão de três militantes negros: George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette, conhecidos como os “irmãos Soledad”.

Perseguida tanto por seus ideais socialistas quanto por sua militância, ela foi demitida de seu cargo de professora de filosofia da Universidade da Califórnia (UCLA). Após ser acusada de ser a dona das armas de um sequestro que resultou na morte de um juiz, Davis se viu obrigada a fugir. “Eu teria morrido”, disse ela anos depois. Odiada pelo governador Ronald Regan e temida por Richard Nixon, a pantera negra entrou para a lista dos dez mais procurados do FBI.

Após dois meses de intensa procura, ela se entregou. Enquanto esteve presa, escreveu “Angela Davis – Autobiografia de uma revolucionária” o que, segundo ela, fez com que não desistisse de seguir resistindo. Em seu apoio, diversas manifestações em apoio a Angela aconteceram ao redor do mundo. Já não seria possível conter o levante que havia começado. Só em Paris foram quase 100 mil às ruas pedindo sua liberdade. Entre os presentes, Jean-Paul Sartre e Herbert Marcuse. Sob forte pressão popular, após 18 meses de confinamento aguardando julgamento, finalmente foi inocentada e liberta.

Angela foi considerada uma das mulheres mais perigosas do mundo. Alguns diziam que ela falava demais, pensava demais, era consciente demais. Mas o que é que tem de errado nisso? Quem tem medo da mulher preta consciente? A sociedade como um todo parece estar tão acostumada com os papeis que nós, mulheres negras, ocupamos historicamente que, ao rompermos com esta lógica, nos tornamos “muito perigosas”.

Como mulher, se sentia preterida tanto no Movimento Negro quanto no Partido Comunista. Como mulher negra, ela enfrentava o peso do mundo. Definitivamente, Angela, aos 72 anos, além de símbolo de resistência para o povo negro, para as mulheres e para os que sonham com um mundo livre das amarras do capitalismo, é uma mulher do fim do mundo.

“Eu sabia que era estranho ver uma mulher negra a levantar-se e a dizer-nos coisas sobre os direitos das mulheres. Fomos todas deitadas abaixo e ninguém pensou que nos poríamos de pé outra vez; mas já tínhamos seguido um longo caminho, estaríamos de pé novamente e agora eu estou aqui”.

Angela em Mulher, Raça e Classe.


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