Espanha: PODEMOS exibe sua força e faz sonhar com “el cambio”
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Espanha: PODEMOS exibe sua força e faz sonhar com “el cambio”

“Hoje não estamos aqui para protestar, nós estamos aqui para dizer que a hora é agora”, disse Pablo Iglesias aos mais de 100.000 concentrados em Madrid

Alejandro López de Miguel 31 jan 2015, 13:55

Alejandro López de Miguel

PODEMOS executou toda uma demonstração de força neste sábado, reunindo mais de 100 000 pessoas nas ruas de Madri para participar da Marcha por el Cambio. “É o ano da mudança, podemos sonhar e podemos vencer”, foram as últimas palavras do discurso de seu secretário-geral, Pablo Iglesias, frente a um público aceso que ocupou a praça Puerta del Sol, transbordando também a maioria das ruas ao redor.

Com um discurso de mais de 20 minutos de duração, Iglesias fechou com chave de ouro uma mobilização que transcorreu com normalidade e que, nas palavras de todos os dirigentes do PODEMOS consultados por este diário, superou todas as expectativas. De fato, o plano original era percorre o quilômetro que separa a praça de Cibeles e a Puerta del Sol a partir do meio-dia, mas muito antes de que começasse a marcha o trajeto estava abarrotado por dezenas de milhares de pessoas que portavam cartazes e queriam ver de perto o líder do PODEMOS, e que não deixaram de entoar palavras-de-ordem como o clássico “Sí, se puede” ou o “Tic, tac, tic, tac” com o qual Podemos quer marcar a contagem do que falta para o fim do Governo conservador de Rajoy.

De fato, a marcha convocada pelo partido não buscava pedir nada ao Governo, como explicou Iglesias, senão tornar patente que uma “maioria social” não está disposta a seguir confiando no PP e no PSOE, que exige uma mudança. “Hoje não estamos aqui para protestar, estamos aqui para dizer que o momento é agora”, proclamou Iglesias, aclamado pelos presentes com o grito de “Presidente, presidente!”.

O discurso de Iglesias deixou claro que o objetivo número um do PODEMOS são as eleições gerais deste ano, e durante sua intervenção carregou duramente contra os poderes econômicos que impuseram a austeridade e fizeram comércio com os cidadãos espanhóis, convertidos em “Marca España”.

“Fazem falta sonhadores. Fazem falta Quixotes. Estamos orgulhosos desse sonhador a cavalo. Não permitamos que os vigaristas nos arrebatem. Nosso país não é uma marca, a Espanha é sua gente, nunca mais nosso país sem seus cidadãos”, exclamou Iglesias.

Nesta linha, o líder do PODEMOS explicou que sua concepção de pátria é aquela que “assegura que todas as crianças vão limpas e calçadas para uma escola pública”, “seja qual seja sua cor de pele”, assim como uma saúde gratuita: “A pátria não é um broche na lapela”.

“Durante muito tempo nos fizeram creer na mentira de que se os ricos vão bem nós também ficaremos bem, mas é mentira, é um conto convertido em pesadelo” apontou. De fato, Iglesias se valeu da menção aos sonhos para amarrar o seu discurso, repetindo em várias ocasiões que no PODEMOS “sonhamos, mas nós levamos muito a sério nossos sonhos”. “Não enchemos a Puerta del Sol para sonhar, mas para cumprir nossos sonhos. 2015 é o ano da mudança, e vamos ganhar as eleições do Partido Popular” exclamou.

“A Puerta del Sol, outra vez signo de futuro, dignidade e mudança”

Iglesias iniciava sua intervenção por volta das duas e meia da tarde valorizando o esforço das milhares de pessoas que se concentraram neste sábado em Madri. “Que bonito é ver a “gente” sorrir, vejo “gente” digna, vontade de construir entre todos”.

As referências ao 15-M no lugar onde nasceu há três anos e meio foram uma constante em todos os discursos, e o líder do PODEMOS foi um passo além ao estabelecer um paralelismo entre a Marcha del Cambio e o 2 de maio de 1808. “Esta Puerta del Sol assistiu à recuperação das liberdade”. “A Porta do Sol, outra vez signo de futuro, de dignidade e de Cambio”, observou.

Além do aspecto político, e na linha dos discursos de Carolina Bescansa, Íñigo Errejón, Juan Carlos Monedero ou Luis Alegre, Iglesias insistiu em que o protagonismo do ato deve recair sobre os mais de cem mil presentes. “Vocês são a força do ‘cambio’, obrigado por estar aqui”.

Os líderes do PODEMOS marcharam várias fileiras para atrás da cabeceira da manifestação, mas foram aclamados por milhares de pessoas que caminharam a seu lado.
Em particular, Iglesias e Monedero tomaram um banho de massas nos quase mil metros que percorreram nesta manhã, para depois passar com dificuldade ao cenário do Sol, completamente abarrotado.

“Na Grécia se fez mais que em seis dias que outros governos em anos”

O “vento da mudança” que chegou no domingo último da Grécia com a vitória do Syriza foi outra das chaves do discurso de Iglesias, que insistiu nas diferenças de contexto grego e o espanhol, para depois elogiar a gestão do novo primeiro-ministro helênico, Alexis Tsipras, apoiando-se no exemplo grego para defender a que a mudança na Espanha é possível.

Assim, Iglesias recordou das medidas anunciadas pelo novo Executivo nas mãos do Syriza, como forçar a readmissão de milhares de professores demitidos, assegurar que cerca de 300 000 lares voltem a ter luz. “Hoje na Grécia há um governo sério e responsável que trabalha para seu povo”, afirmou. “Quem dizia que não se pode? Quem dizia que um governo não pode mudar coisas? Na Grécia se fizeram mais em seis dias que outros governos em anos”, exclamou.

Além do apoio “irmãos gregos”, o líder do PODEMOS exaltou o esforço de quem participou das diferentes “mareas” cidadãs, plataformas anti-despejos, os trabalhadores de Aena, Coca-Cola, e outros tantos cidadãos que saíram às ruas para reivindicar seus direitos. Não esqueceram de outros como os Yayoflautas, “que defendendo sua dignidade defendem a de seus filhos e netos”, aos jovens no exílio que prometeram conseguir um país para que possam regressar, ou aos trabalhadores emigrados.

PODEMOS deixou cair as cortinas por volta das 3 da tarde ao ritmo de “Adagio a mi país” e de “Todo Cambia” de Mercedes Sosa. Gabriel Ortega, Salvador Amador e a jovem Lúa Míguez emprestaram suas vozes para interpretar os dois temas, e as milhares de pessoas concentradas se uniram a eles para fazer coro aos estribilhos.

O secretário-geral do PODEMOS defendeu o “cambio” para deixar um país distinto nas mãos das gerações futuras, e insistiu neste sábado em que o evento de hoje foi histórico, como tambem comentavam muitos dos presentes. 2015 amanhece carregado de eventos eleitorais, e Iglesias deixou muito claro hoje que vão disputar todas.

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Fonte: Diário Público

Tradução para o português: Charles Rosa


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