Um final de semana no Rio Vermelho
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Um final de semana no Rio Vermelho

Convidada pelos companheiros do Juntos do Rio de Janeiro, estive no último fim de semana na Cidade Maravilhosa acompanhando os desdobramentos da grande manifestação dos Bombeiros.

Nathalie Drumond 17 jun 2011, 10:28

Convidada pelos companheiros do Juntos do Rio de Janeiro, estive no último fim de semana na Cidade Maravilhosa acompanhando os desdobramentos da grande manifestação dos Bombeiros.

Cheguei  cedo no sábado. Sem precisar de maiores explicações, comecei a me dar conta do que estava ocorrendo. Ao longo do trajeto até a Praça XV, em frente à ALERJ, muitas bandeiras vermelhas penduradas nos prédios e casas. Fitas da mesma cor amarradas na maioria dos carros. Finalmente na praça, centenas de pessoas vestiam vermelho. Ali era impossível não sentir emoção. Os 439 bombeiros presos após violenta ação do BOPE, sob ordens do governador Sérgio Cabral, haviam sido soltos há poucas horas. Todos muitos emocionados pela grande vitória.

Possivelmente, Cabral supôs que lograria o mesmo apoio popular que obteve quando da invasão do Morro do Alemão com forças militares. No entanto, ele usara o BOPE contra uma categoria que reivindicava condições dignas de trabalho para que pudesse seguir salvando vidas. Os bombeiros já eram no imaginário de toda a população grandes heróis, a partir de então passaram a ser grandes exemplos de resistência e luta política contra medidas autoritárias de tal governador.

O tiro saiu pela culatra. Toda a população do RJ colocou-se do lado dos bombeiros. Além disso, somaram-se à campanha salarial desta categoria os professores da rede estadual, os médicos e servidores da saúde, parte da polícia militar do RJ. Todo este apoio foi o motor da libertação dos 439 bombeiros naquela manhã e serviu de motivação para seguirem lutando. Segundo eles próprios, “juntos somos mais fortes, portanto, não daremos nenhum passo atrás”. Todos estavam com os bombeiros do Rio.

No domingo pela manhã nova surpresa. A concentração para a Marcha em Solidariedade estava marcada para às 10h da manhã em Copacabana, às 9h a população toda vestida de vermelho já se dirigia ao ponto de encontro. O clima era de final de Copa do Mundo, as ruas e os metrôs lotados. O Rio de Janeiro estava tomado de vermelho. Todos cantando palavras de ordem que faziam menção à causa dos bombeiros. Portavam bandeiras, cartazes, mensagens de solidariedade. Casais, crianças, pais, mães, avós. Trabalhadores. Todos juntos em solidariedade aos bombeiros. Copacabana reuniu uma multidão. De cima do carro de som não se podia ver nem o fim nem o começo da marcha, a orla da cidade do Rio de Janeiro estava pintada de vermelho.

O grande tema da manifestação era a anistia. Foi aberto contra os bombeiros um processo por indisciplina e danos à corporação, segundo o código militar eles podem ser condenados a até 12 anos de prisão. As associações, sindicatos e população em geral lutam agora para que os bombeiros sejam anistiados.

A marcha reuniu também os servidores públicos em campanha salarial. Estavam ali professores, médicos, policiais militares, os próprios bombeiros. Todos juntos – e com apoio da população – contra o governador Sérgio Cabral, por reajuste salarial e por melhorias nas condições de trabalho.

Também se pode registrar grandes demonstrações de respeito, confiança e apoio da população ali reunida a Marcelo Freixo e Janira Rocha, ambos deputados estaduais pelo PSOL. Os dois estiveram presentes desde o começo na luta dos bombeiros, foram grandes responsáveis pela sua soltura e hoje estão empenhados na campanha pela anistia. Bombeiros e a população fluminense colocavam-se ao lado deles ombro a ombro, como quem se dirigia a grandes parceiros de luta.

Naquele domingo em Copacabana, o Rio de Janeiro pintou-se de vermelho. Dezenas de milhares saíram às ruas para manifestar sua indignação e solidariedade. E aqueles que por algum motivo ficaram em casa, seguramente, estavam em sintonia com sentimento da maioria nas ruas.

Das histórias recentes que vivi e das que ouvi dizer, há tempos no Brasil não se registrava processo tão intenso de participação popular. Só me resta concluir uma coisa, são novos tempos. Os ventos de esperança que sopram na Tunísia, no Egito, na Espanha, na Grécia, hoje começam a soprar por aqui.


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