A religião não pode estar a serviço da intolerância
Silas_Malafaia_Juntos_Amar

A religião não pode estar a serviço da intolerância

Com muita raiva em sua defesa após a publicação na Revista Forbes, Silas Malafaia, que se diz empresário e pastor, novamente ataca as LGBTs em programa de televisão no domingo. E o Junt@s Pelo Direito de Amar segue na defesa intransigente da PLC 122

Felipe Chagas 4 fev 2013, 18:59

Com muita raiva em sua defesa após a publicação na Revista Forbes, Silas Malafaia, que se diz empresário e pastor, novamente ataca as LGBTs em programa de televisão no domingo.

                                por Felipe Chagas*

Silas_Malafaia_Juntos_AmarNão é a primeira vez que a população LGBT é energeticamente atacada em rede nacional no horário nobre, como aconteceu no programa de entrevistas de Marília Gabriela na TV aberta quando chamou para uma conversa franca aquele que se diz pastor, empresário e psicólogo de almas, Silas Malafaia.

O segundo bloco do programa do SBT trouxe o que há de mais expurgo e avesso aos conceitos éticos e de direitos humanos que se pode ter em um ser humano que se diz esclarecido e em plenas capacidades mentais. Furtivamente a entrevistadora abre os trabalhos colocando o tema com o discurso de posse do reeleito presidente norte americano Barack Obama, onde em texto diz: “Nossa jornada não estará completa enquanto nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como qualquer pessoa” e brinca, seriamente, que na igreja de Silas ele não seria reeleito.

Enfaticamente, sempre que pode, o pastor coloca em mesmo plano LGBTs, assassinos, dependentes de drogas e bandidos, numa clara tentativa de colocar a população contra si própria, enquanto enriquece às custas dos trabalhadores e cumpre um papel de defesa do poder econômico. Mas não para por aí. Durante uma discussão de quase uma hora, toca em um assunto importante, a PLC 122 que está em tramitação no Senado e na Câmara desde 2006 que tenta criminalizar a homofobia no Brasil.

Segundo o pastor, a PLC 122 atribui direitos extra aos LGBTs em detrimento da coletividade. Com muita perspicácia a entrevistadora defende que os únicos direitos que tentam ser garantidos são os de serem respeitados, não serem mortos, agredidos e perseguidos, por conta da sua orientação sexual ou identidade de gênero como recentemente aconteceu em uma lanchonete da rede estadunidense McDonald’s em Campinas, interior de São Paulo, quando um casal homoafetivo brincava com as batatas fritas e foi reprimido por uma funcionária da rede.

Impulsionado pelo projeto de lei, o pastor defende que se aprovada, a Lei colocará em um outro patamar a população LGBT. Exaramente o contrário. A PLC 122 garante os mesmos direitos a todas as pessoas, apenas incluindo como preconceito civil a perseguição seja ideológica, seja ética ou seja moral aos LGBTs que não estão incluidos nos textos das leis que já estão em vigor.

Uma das coisas que espantam no discurso do líder religioso é exatamente o seu embasamento que tenta influenciar diretamente a construção legislativa do Brasil. Em se tratando de um Estado Laico, o conjunto de Leis deve, além de abranger toda a população, defendê-las em todos os aspectos e isso deve incluir “discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero” (atual texto do art. 1º da PLC 122).

Mesmo que ele não influencie diretamente a constituição do Estado, como bem anotou a jornalista, possui grande influencia principalmente entre os fiéis de sua igreja para que eles o façam ou discriminem ou tenham preconceito com as LGBTs. Um Estado laico não pode aceitar leis que se baseiam em textos religiosos, pura e simplesmente por ser laico.

No final do bloco é proposto um problema em que casais LGBTs adotam crianças de casais heteros que o abandonaram, hoje sabe-se que muitos orfanatos são bastante lotados e as crianças ficam abandonados ao próprio destino: “você acha que um casal homossexual não pode criar uma criança e fazer dela um belo cidadão e uma bela cidadã e criar um cidadão digno, com todos seus direitos, com toda sua inteligência, com todo seu amor e compaixão pelo outro?”. Furiosamente a resposta foi mais do que esperada, “não”; e disse mais, segundo ele um casal homoafetivo não é capaz de criar uma criança perfeita e defende que qualquer tipo de família diferente daquela de pai, mãe e prole não é capaz de desenvolver uma unidade familiar. Podemos citar aqui as inúmeras famílias que tem como formação pais solteiros, separados, crianças criadas por avós e até mesmo, como colocou a entrevistadora, familias LGBTs que adotam crianças. O problema não é como a família se forma e sim em que sociedade ela nasce e cresce.

Não muito distante, algum tempo atrás o pastor Malafaia se destacou na mídia ao ser convidado pela Câmara para dar seu parecer como psicólogo a respeito de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia, onde proibia aos psicólogos indicar o tratamento à “cura gay”, que é totalmente descabido e sem embasameno científico. O Deputado Federal Jean Wyllys  (PSOL – RJ) que é homossexual assumido e ativista LGBT em uma fala simples de alguns minutos conseguiu refutar boa parte da entrevista do pastor concedida no último domingo ao SBT, além de problematizar o fato de o Brasil não ter paixão religiosa, ou seja, ser um Estado laico em que as determinações não podem ter por base qualquer tipo de religião ou fé religiosa, e apontou o interesse de certos grupos religiosos de intervir em alguns assuntos, principalmente no que se refere aos direitos LGBTs e se esquecem de outras questões como o tráfico de mulheres, o abuso infantil e o trabalho escravo, problemas sérios que ainda existem no nosso país.

Vale lembrar, também,  que o pastor Silas Malafaia, além de ser um dos mais ricos pastores do Brasil segundo a revista Forbes, possui um canal de televisão aberta que é concessão pública e utiliza desse espaço para incitar o discurso de ódio às LGBTs. Não podemos permitir que em um Estado laico, qualquer pessoa ou grupo favoreça, incite, apoie ou divulge qualquer tipo de discurso de preconceito ou de ódio com seus espaços. O Juntos repudia qualquer ato ou discurso de preconceito contra qualquer tipo de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero e luta diariamente contra esse tipo de discurso.

Fazemos lembrar os inúmeros ataques em 2012 contra a população LGBT e não podemos deixar que isso aconteça em 2013. O Juntos apoia a aprovação da PLC 122 pela criminalização da homofobia e do Casamento Civil Igualitário em todos os Estados da Federação e luta diariamente para que não mais aconteçam casos de preconceito, ódio, discriminação ou perseguição contra um dos grupos da sociedade que mais sofrem agressões pelo simples fato de amar. Venha construir conosco uma sociedade mais humana, vamos Juntos lutar por outro futuro!

*Felipe Chagas é militante do Juntos! São Paulo e do Junt@s Pelo Direito de Amar!


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