Entrevista com Pedro Fonteles, dirigente da UJS e do PCdoB que rompeu com suas organizações e acaba de ingressar no Juntos! e no PSOL
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Entrevista com Pedro Fonteles, dirigente da UJS e do PCdoB que rompeu com suas organizações e acaba de ingressar no Juntos! e no PSOL

Entrevista do Juntos com Pedro Fonteles, ex-militante da UJS e do PCdoB e que passa a militar com o Juntos e o PSOL, construindo uma nova alternativa de juventude!

Thiago Aguiar 14 mar 2013, 16:54

foto (2) No último fim de semana, recebemos uma grande notícia, que encheu de orgulho nossos militantes de norte a sul do país. Durante as atividades do CONEG da UNE, pudemos consolidar um processo de diálogo com o companheiro Pedro Fonteles, então diretor executivo da UNE, membro da Direção Nacional da UJS e da Executiva Estadual do PCdoB do Pará. Em debate, o resgate da importância do internacionalismo na intervenção dos revolucionários, os desafios abertos à esquerda pela crise econômica mundial e a mudança na situação internacional, os processos revolucionários no norte da África e no Oriente Médio, as lutas do movimento de massas na Europa contra a política do capital financeiro e seus governos, além dos desafios para construir uma forte corrente revolucionária internacional na América Latina.

Com importância decisiva, convergimos na necessidade de construir uma alternativa anticapitalista para o Brasil, uma ferramenta política capaz de aglutinar os lutadores para derrotar os velhos partidos e fortalecer a luta pelo socialismo em nosso país. Pedro chegou à conclusão de que o PCdoB não está à altura dos desafios que a história abre para os lutadores de nossa geração. Por isso, decidiu abandonar sua antiga organização, filiar-se ao PSOL e construir conosco o Juntos!.

Dando as boas-vindas a nosso novo camarada, realizamos em Uberlândia uma entrevista com Pedro em que ele pôde nos contar sobre sua trajetória, suas motivações para ingressar no Juntos! e no PSOL e os desafios abertos à juventude brasileira com a abertura da Comissão da Verdade da UNE. Acompanhem a seguir:

Juntos!: Pedro, conte-nos um pouco como se desenvolveu sua trajetória militante.

Pedro Fonteles: Iniciei minha militância política organizada precisamente em novembro de 2008, ao ingressar nas fileiras da UJS e do PCdoB. Fazia movimento estudantil em minha faculdade, a FIBRA – Faculdade Integrada Brasil Amazônia, era do Centro Acadêmico de História e fui delegado ao CONEB da UNE de Salvador. Logo depois, vieram o Fórum Social Mundial em Belém e tantas outras tarefas que cumpri ao longo dos meses. Ainda em 2009, assumi a presidência da UAP – União Acadêmica Paraense, entidade filiada à UNE, e representativa dos estudantes universitários do Pará no Biênio 2009-2011. Fui eleito também para a Direção Estadual e a Executiva Estadual do PCdoB/PA.

Em junho de 2011, assumi uma nova tarefa. Fui eleito presidente estadual da UJS/PA e membro da sua Direção Nacional. Posteriormente, fui conduzido ao trabalho nacional do movimento estudantil, como parte da Executiva da UNE pela UJS, onde atuei até o rompimento político que tive com o PCdoB.

Mas minha militância política nunca passou apenas pelo movimento estudantil ou organizativo de juventude. Sempre tive muita inserção no debate sobre Direitos Humanos, chegando a publicar um livro chamado “Guerrilha do Araguaia – Luta e Apropriação da Massa Campesina”.

J!: Pedro, que divergências levaram a seu rompimento com o PCdoB e a UJS?

P.F.: O mundo está em plena ebulição. Vivenciamos um período de profunda crise do sistema capitalista por todo o mundo, marcada pela recessão econômica e perda de direitos conquistados pelos trabalhadores e pela juventude. Na Europa, por exemplo, os governos não apresentam uma saída ao povo, mas sim uma saída para o sistema financeiro – uma saída cada vez mais à direita, marcada pela imposição política e ideológica do sistema financeiro internacional, levando milhares ao desemprego.

Esse quadro de guerras, ataques às liberdades democráticas, retirada dos direitos conquistados e rebaixamento das relações humanas, que são característica desse sistema opressor, tem levado a um processo de aumento das tensões sociais e por conseqüência de mobilizações e indignação dos trabalhadores e da juventude por todo o mundo! As mobilizações no mundo árabe, os indignados de Madri e em Londres, o movimento “Ocuppy Wall Street”, as rebeliões da juventude chilena ou as greves gerais que os trabalhadores na Grécia tem convocado são frutos da clareza de enfrentamento da luta classes que nos está posta.

Nesse sentido, o Brasil também não está deslocado do cenário de crise econômica internacional. O governo brasileiro tem cada vez mais cortado investimentos em setores estratégicos. Em 2012, foram cortes de R$ 55 bilhões no orçamento. Saúde e Educação, diversas vezes anunciadas como prioritárias pela chefa do Estado brasileiro, sofreram juntas corte de R$ 7,4 bilhões. No entanto, foi investido dinheiro público para salvar montadoras e os grandes empresários, sendo ainda que quase a metade do orçamento federal, exatos 42% do PIB, está destinada ao pagamento da dívida pública brasileira. Ou seja, é um governo que não está comprometido efetivamente com os trabalhadores e a juventude do Brasil, mas sim com as oligarquias financeiras, os banqueiros e a política econômica nefasta aplicada desde o governo de FHC.

Não é o modelo de desenvolvimento baseado em consumo e exportação de commodities, aplicado pelo governo brasileiro, que garantirá um novo Brasil, independente, soberano e plenamente desenvolvido. Precisamos de investimento massivo em educação: colocar a universidade como setor estratégico do desenvolvimento do país, ciência e tecnologia e uma nova política industrial. Acontece que o resultado dessa política é o arrocho salarial, as greves que explodem no Brasil e também a falta de perspectiva para a juventude brasileira.

Por conta da governabilidade e das alianças com setores da direita e da velha política, o PT e sua base aliada, portanto também o PCdoB, não apenas não dão a resposta necessária como usam seu aparato e a superestrutura para frear as mobilizações e os enfretamentos que acontecem em nosso país. Não cabe e nunca coube a capitulação, a conciliação de classes ou a humanização do capitalismo. Ou se enfrenta de maneira altiva e se organizam os trabalhadores e a juventude para se inspirar nas experiências que estão a ocorrer, ocupar as ruas e ampliar as greves para derrotar esse sistema ou se joga um papel contrarrevolucionário. Não é possível governar com conciliação de classes: no começo, meio e fim sempre são a classe operária e a juventude que têm perdas e estagnações.

Portanto, penso que o PCdoB tem aplicado uma política da ordem burguesa e da manutenção do status quo da sociedade. E em nome da manutenção do projeto de governo Lula-Dilma, aliando-se ao que existe de pior na vida política do Brasil, com figuras como Sarney, Calheiros, Eduardo Paes e Jader Barbalho, de oligarquias regionais como da família Andrade no Pará ou de figuras ligadas ao latifúndio como o Deputado Federal Giovany Queiroz ou a Senadora Kátia Abreu. Penso que o PCdoB não está se construindo como uma alternativa de esquerda e socialista de poder político dentro do Estado burguês.

J!: O que o motivou a ingressar as fileiras do Juntos! e do PSOL?

P.F: Quero me somar ao Partido Socialismo e Liberdade – PSOL e à corrente Movimento Esquerda Socialista – MES, para estar ao lado dos que constroem uma alternativa, da esquerda revolucionária, de poder aos trabalhadores, sem rebaixamento de programa, moderação na intervenção ou concessões ao capital financeiro internacional, desmistificando e superando a opção de governo de alianças com a direita e com a velha política que Lula e Dilma fazem. Quero fazer uma militância com caráter também internacionalista e construir um partido que seja uma ferramenta e instrumentos de aceleração das mobilizações e da transformação.

Ingressar e construir o Juntos! é me juntar à juventude rebelde e coerente que tem a característica de não deixar a história passar, que participa das mobilizações pelo mundo ocupando ruas e praças, com clareza dos novos desafios que se apresentam para a juventude brasileira, e que tem autonomia para apontar os caminhos e as respostas. No Juntos! estão os que se indignam com qualquer injustiça no mundo. Mas como “Indignarse no es suficiente”, por isso me somo às fileiras do Juntos! para construir novas manhãs para a juventude do Brasil e do mundo!

Juntos!: Recentemente, foi lançada a Comissão da Verdade da UNE. Que perspectivas para a atuação do Juntos! você observa nesse debate?

Primeiro, é importante ressaltar que este tema da Comissão da Verdade tem pessoalmente uma grande relevância para mim. Meu pai, Paulo Fonteles, fundou e presidiu a SDDH (Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos), coordenou a primeira caravana dos desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia, denunciava a atuação dos militares no jornal “Tribuna da Classe Operária”, era advogado dos camponeses do sul do Pará na luta pela posse da terra, foi Deputado Estadual pelo PCdoB e foi covardemente assassinado pelas balas do latifúndio no dia 11 de junho de 1987! As mesmas balas que calaram Expedito Ribeiro de Souza, João Canuto, João Batista e tantos outros. As balas da famigerada UDR (União Democrática Ruralista), que tem em seus quadros parte da geração dos dirigentes do SNI que, após a redemocratização do Brasil, desceram aos estados, em especial os do Norte e Nordeste, para miliciar os latifundiários na luta pela posse da terra. O assassinato de meu pai teve participação destacada de um dirigente do SNI. E este crime está absolutamente impune até os dias atuais.

Quero aqui também fazer uma resposta a alguns que estão, de maneira rebaixada, fazendo ataques a mim, por conta da minha ruptura com o PCdoB, ligando isto à história de militância que meu pai teve neste partido – como se eu não fosse mais merecedor de meu DNA por não mais estar nas fileiras do PCdoB.

O legado de Paulo Fonteles está acima do controle do PCdoB. Suas idéias são patrimônio de todos os que lutam e sonham com um mundo sem violação dos direitos humanos, sem latifúndio e sem opressão. Suas idéias estão a serviço da luta mais atual de nossos dias, a luta pelo Socialismo! Tenho a certeza de que a sua construção partidária no PCdoB se deu por acreditar que, naquele momento, o PCdoB materializava suas idéias. Talvez, hoje, ele não estivesse mais nas fileiras do partido.

Sobre o debate da Comissão da Verdade, em primeiro plano, temos a necessidade de reconstruir a história do Brasil, particularmente a do período dos “anos de chumbo”, marcados pela profunda repressão política e pela recessão das liberdades democráticas.

Para nós, que atuamos na defesa da democracia no Brasil, a tarefa é mais do que revelar a verdade dos fatos. Sua importância projeta-se para além. É uma necessidade civilizacional do nosso povo, uma questão da dimensão democrática e, por isso, está mais do que nunca em curso.

Aliás, a disputa que travamos é uma disputa do velho contra o novo e precisa ser feita dentro do próprio governo brasileiro. Sabe-se, por exemplo, e é público, que quadros do SNI (Serviço Nacional de Informações) que atuaram a serviço do regime militar na repressão ainda permanecem nas esferas do Estado. Caso marcante é o do órgão de estado ABIN – Agência Brasileira de Inteligência –, que concentra uma parcela importante das informações em mãos dos que atuam contra a verdade e justiça.

O Juntos! terá sua intervenção nesse debate focado também para denunciar estes fatos. Não cabe, nos tempos atuais, que possamos conviver lado a lado aos que torturaram e que foram responsáveis pelo assassinato de Honestino Guimarães, por exemplo. Honrar a história de Honestino é levar seus assassinos a julgamento da Justiça.

Por isso, é importante esclarecer que esta Comissão da Verdade ainda está muito longe da necessidade que a reconstrução da história política que o Brasil exige. O Juntos! deve organizar uma profunda intervenção pela imediata abertura dos arquivos secretos do regime militar, mas também pela revisão da Lei de Anistia e para levar os torturadores e assassinos do regime militar a julgamento pelos seus crimes.

A revisão da Lei de Anistia e a punição dos torturados serão conquistadas não em uma comissão do governo brasileiro que, em nome de sua governabilidade no Parlamento, esconde este debate por não ter condições de responder por suas alianças com setores que no passado tiveram suas práticas ligadas justamente à repressão política. Ela será conquistada com a força dos movimentos sociais, ocupando as ruas e universidades e organizando uma grande intervenção neste tema! Este é o desafio que está posto ao Juntos! e não recuaremos dele!

*Thiago Aguiar é Diretor de Relações Internacionais da UNE pela Oposição de Esquerda e membro do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos!


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