Movimento #foraVBL: O primeiro grito pelo transporte público de qualidade em Imperatriz – MA
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Movimento #foraVBL: O primeiro grito pelo transporte público de qualidade em Imperatriz – MA

Imperatriz sempre foi uma cidade com um transporte coletivo de péssima qualidade. Os ônibus sempre foram lotados, sucateados e atrasados.

Brenda Herênio 19 mar 2013, 11:22

*Brenda Herênio

Imperatriz sempre foi uma cidade com um transporte coletivo de péssima qualidade. Os ônibus sempre foram lotados, sucateados e atrasados. A VBL, empresa responsável por 70% das rotas da cidade, nunca se agiu efetivamente para sanar tais problemas, nem agora, nem quando se chamava TCI. Tal situação perdurou por mais de 20 anos, e a população sempre pareceu aceitar isso. Pareceu, vale frisar. Em seu interior, cada indivíduo da populaçãoDSC_0089 imperatrizense que depende do serviço de transporte público para se locomover, sempre desejou que essa situação mudasse de alguma forma. Todos sempre quiseram que aquelas condições desumanas de transporte fossem extintas e que o serviço de ônibus respeitasse o preço da passagem (uma das maiores do país). Mas tais desejos sempre se mantiveram em sua maior parte do tempo dentro deles, manifestando-se apenas como agressões verbais aos motoristas e cobradores. Estes desejos nunca foram atendidos. Mas eis que, assim como V surgiu em meio a um futuro distópico do Reino Unido concebido por Allan Moore e David Lloyd nos quadrinhos e no filme, os estudantes se levantam reivindicando um transporte público de qualidade que faça jus ao preço abusivo da taxa de passagem: surge assim o movimento social conhecido por #foraVBL.

Em quê o protagonista de uma novela gráfica dos anos 80 tem a ver com o #foraVBL? 

Na referida novela gráfica, “V for Vendetta”- (V de Vingança), a população do Reino Unido, em um distópico e imaginário ano de 1997, sofre com a opressão promovida por um governo claramente seguidor de ideais totalitários. Em meio a tal cenário fictício, surge V, um anarquista mascarado de identidade desconhecida que tenta derrubar o Estado através de ações diretas. Com o desenrolar da roteiro, o povo deste distópico futuro sente-se inspirado pelas ações de V e começa a se levantar contra o governo. Ao final, quando V é atingido por um disparo de arma de fogo que lhe é letal, ele diz que nunca poderá morrer, pois ele não é um homem, mas uma ideia. Assim o protagonista morre, sem ter sua identidade revelada. Sua discípula assume a máscara de V e continua seu legado de luta contra a opressão. Assim percebe-se que o que tornava V o que ele era, não era o homem por trás da máscara, mas a ideia que máscara representava.

Encarando o protagonista dessa forma, é visto que ele é imortal, pois seus ideais sempre inspirarão outras pessoas a não se submeterem à opressão totalitarista. Baseando-se no acima exposto, o que V tem a ver com o #foraVBL? Assim como V é imortal por suas ideias, o #foraVBL será sempre vivo enquanto alguém estiver reivindicando um transporte de qualidade. Não é um exagero comparar a deplorável situação de Imperatriz com o distópico futuro do Reino Unido que Moore e Lloyd imaginaram: eu, durante uma audiência “pública” na Câmara dos Vereadores há algumas semanas atrás, como líder do movimento #foraVBL, fui impedida por alguns legisladores municipais de expôr a opinião do povo sobre a da situação do transporte coletivo atual sob o pretexto de uma suposta “sacralidade da tribuna”. Se uma teologia a respeito de uma estrutura de mármore é motivo para nos impedir de falar, então pouca coisa nos afasta do totalitarismo que Moore e Lloyd imaginaram. Mas o fato deles não quererem ouvir o movimento, que fala em nome de todos que usam o transporte coletivo público, não o impede de se manifestar: enquanto o #foraVBL ainda lutar para que os passageiros de transporte coletivo sejam respeitados, ele continuará.

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“Idéias não são só carne e osso. Idéias são à prova de balas.” V de Vingança

 

Apesar do nome, este movimento não é apenas contra a VBL. Os ideais que inspiram o #foraVBL são os mesmos que inspiram V: lutar contra o desrespeito ao povo. Por isso, não queremos que este movimento se encerre em Imperatriz, ou se encerre com a saída da VBL. Queremos que ele se espalhe por outras cidades, que os ideais que inspiraram o #foraVBL inspirem outros movimentos em outros locais. Pedimos que os outros lutem como nós estamos lutando, e como os que vieram antes de nós também lutaram. Não sintam medo da opressão, mas a encarem de frente. Já diz Kelsen, um teórico do direito, que moral e direito não são a mesma coisa. Baseado nisso podemos entender que nem toda lei é moral, nem toda teologia legislativa justifica a censura de nossos anseios e opiniões, nem todo desrespeito juridicamente baseado é moralmente justificável. Por isso, independente do valor moral que o Estado possua, continuemos lutando por nossos anseios, que, neste momento, é um transporte público de qualidade, nem que para isso seja preciso tirar a VBL de Imperatriz do Maranhão.

Nada muda até que a mente mude. A mudança de mente é algo a longo prazo, e por ser um movimento pioneiro no interior do Maranhão, tenho sentido muita dificuldade em fazer as pessoas se indignarem e saírem da inércia. O movimento #foraVBL começou na universidade, mas não é unicamente estudantil, e particularmente, acho que é essa a ideia que outros movimentos deveriam adotar. A mobilização pode e deve começar por nós, estudantes, mas o esclarecimento e a conscientização da população em geral é primordial para que os poderes públicos levem a
sério nossa indignação e nossas reivindicações.

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Muitos movimentos se perdem no caminho porque a conscientização é algo a longo prazo, é complicado, e por muitas vezes, desgastante. Fazer um imperatrizense entender que o valor que ele paga pela passagem de um ônibus sucateado é absurdo, e que ele tem o direito de ir ás ruas manifestar esse problema, leva algum tempo. Mas é um investimento que vale a pena, porque prepara a população para futuros movimentos. O problema é de todos e todos devem lutar pela solução dele.

Nosso movimento não tem prazo de validade. Enquanto a situação do transporte coletivo em Imperatriz – MA não melhorar, o #foraVBL vai não só continuar existindo, mas também agindo.

*Brenda Herênio – Líder no movimento #foraVBL e estudante de Jornalismo, filiada as ideias do juntos.

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