Em Buenos Aires, Acampamento Internacional é uma imensa vitória para o Juntos!
Estamos confiantes que a realização de nosso primeiro acampamento internacional foi um passo decisivo na consolidação do Juntos! como uma juventude conectada com as lutas de nosso período e que possa dizer, hoje, como nunca, que o socialismo vive e vencerá porque o futuro é nosso!
Thiago Aguiar*
Pelo menos para 1500 jovens, de 10 países, a segunda-feira posterior ao feriado de Páscoa foi o primeiro dia da continuidade de nossas vidas. De 28 a 31 de março ocorreu, em Buenos Aires, o Acampamento Internacional da Juventude Anti-imperialista e Anticapitalista convocado pelo Juntos!, pela Juventud Socialista do MST (Argentina), Marea Socialista(Venezuela)e pelo COEN (Peru). Como parte entusiasmada de um esforço para conectar as distintas lutas que ocorrem ao redor do mundo e coordenar os esforços da juventude que enfrenta os efeitos da crise econômica mundial, o acampamento foi uma expressão dos processos de mobilização e de construção de fortes alternativas políticas dos indignados e da juventude que luta no mundo.
Um evento histórico
O acampamento organizou-se ao redor do debate sobre os grandes temas que estão marcando a mudança na situação internacional: a crise do capitalismo de 2007-2008, a situação atual das lutas na América Latina e a formulação de uma política anticapitalista ampla que mobilize a juventude para a luta por outro futuro. Mesas, oficinas, paineis e grupos permitiram o intercâmbio sobre uma série de questões que têm comovido e mobilizado a juventude em nossos países, como o enfrentamento de Julian Assange, através do Wikileaks, com o imperialismo estadunidense; o combate aos projetos extrativistas e a exploração capitalista do meio-ambiente; a presença e atuação de corporações como a Monsanto na América Latina; a luta dos estudantes e da juventude chilena em defesa da educação; a luta das mulheres e LGBTs pela ampliação dos direitos democráticos; a responsabilidade da corrupção estatal e empresarial nas tragédias que marcaram a juventude de nossos países como na boate Kiss e em Cromañon, entre tantos outros temas.
O ato de abertura, com a presença de diversos dirigentes políticos e lideranças da juventude, levou às muitas centenas de presentes a confiança e a sensação de que estamos avançando, a passos firmes, na consolidação de uma tradição internacionalista que permita construir organizações de juventude amplas e combativas, que busquem estar à altura dos desafios e das tarefas abertas por este novo período histórico. Do Caribe à Terra do Fogo. Da Amazônia à cidade maravilhosa dos brasileiros. Dos Andes, do coração da Bolívia dos valentes mineiros, passando pela Porto Alegre dos Fóruns Sociais e pela imensa São Paulo, saímos todos com mais força para lutar e mais convencimento do papel que nossas organizações de juventude devem ter.
Daciolo em nosso acampamento: as lutas estiveram presentes!
O acampamento contou com a presença das mais genuínas lutas de nosso tempo. Daciolo, líder da heroica greve dos bombeiros do Rio, perseguido pelo governo Cabral e recém-filiado ao PSOL, esteve presente, levando a saudação de seus companheiros e colocando-se a serviço das lutas dos trabalhadores e da juventude por salário, pela ampliação dos direitos democráticos e pela construção de uma alternativa anticapitalista para o Brasil e o mundo. Luciana Genro, por sua vez, destacou o papel dos governos de Lula e Dilma em sua tentativa de frear o avanço dos processos de mobilização pelos quais a América Latina passou na última década e reafirmou a necessidade de derrotar a velha política corrupta a serviço das corporações e do sistema financeiro. Contamos com a presença também de experientes quadros da esquerda, como Roberto Robaina, da Executiva Nacional do PSOL e veterano dirigente Pedro Fuentes, entre tantos. Tal presença foi um ponto de unidade entre as diferentes gerações de revolucionários.
Do Peru, fez-se presente a voz dos ativistas que derrotaram o projeto de megamineração Conga, em Cajamarca, enfrentando a traição das bandeiras históricas dos movimentos sociais promovida pelo governo Humala. O deputado peruano Jorge Rimarachín levou a saudação dos milhares de militantes que estão construindo um novo partido político para ser a representação dessas lutas e da esquerda que não se rendeu e nem se vendeu naquele país. Já os companheiros de Marea Socialista, da Venezuela, trouxeram ao acampamento a força dos milhões de venezuelanos que ocupam as ruas de suas cidades para homenagear a memória do comandante Hugo Chávez e tomar para si os rumos da revolução bolivariana, enfrentando a direita e o imperialismo e lutando pela eleição de Maduro que em breve ocorrerá. Do Brasil, além da enorme bancada do Juntos!, ficamos muito contentes com a presença e as contribuições dos companheiros Rodrigo Santaella, do Enlace, e Rebecca Freitas, do CSOL.
O enfrentamento com a política de austeridade imposta pelo FMI, pelos governos e pelo sistema financeiro na Europa esteve representada pela voz de importantes partidos do continente como o Bloco de Esquerda português e a Izquierda Anticapitalista da Espanha, além de outras organizações. Junto com os chilenos do Partido Igualdad, parte fundamental da construção de uma resposta política ao enfrentamento promovido pelos estudantes e jovens do país contra a política neoliberal de Piñera, mostraram que começa a se construir no mundo uma confluência política, resultado da necessidade e da ânsia por construir novas sínteses políticas entre os que lutam nessa conjuntura.
Um esforço recompensado: já somos outro Juntos!
O Juntos!, desde o princípio, viu com grande entusiasmo a possibilidade de organizar um acampamento internacional da juventude que contribuísse na formação de uma nova geração de militantes conectados com os processos vivos de luta que acontecem ao redor do mundo. Durante meses, realizamos acampamentos regionais preparatórios, editamos dois números de nosso jornal que abordaram esta construção e levamos o acampamento a diversos estados de nosso país (Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo). Suas experiências, lutas e sotaques somaram-se numa delegação de 300 militantes brasileiros à Argentina, num esforço militante que certamente nos colocou num patamar novo. As campanhas de arrecadação envolveram festas, rifas, venda de bolo ou sorvete para os amigos e ativistas nas escolas, cursinhos, universidades e bairros, mostrando a força de nossa militância para construir essa atividade internacionalista. Foram dezenas de milhares de quilômetros rodados, horas e horas de noites mal dormidas nos ônibus e uma certeza imensa: valeu a pena!
Nossa delegação foi composta por ativistas dos diversos movimentos de juventude, dirigentes estudantis, jovens lideranças políticas como a Vereadora de Porto Alegre, Fernanda Melchionna, professores, militantes da Rede Emancipa de cursinhos populares, do Coletivo Juntas!, organizadores do movimento LGBT, ambientalistas, numa riqueza profunda e plural.
Temos a convicção de que o acampamento foi um salto individual e coletivo. Saímos de Buenos Aires muito diferentes do que éramos quando chegamos. Levaremos esta experiência a nossa militância cotidiana, fortalecendo a construção de nosso movimento, que em breve já passará por um grande desafio: fortalecer a Oposição de Esquerda e construir uma bancada forte, grande e combativa que polarize o Congresso da UNE, apontando para a necessidade de construir uma verdadeira maré da juventude que mude os rumos do movimento estudantil brasileiro.
Coordenar nossas lutas continentais e fortalecer uma alternativa
A plenária final, em clima de unidade e alegria, apontou para a necessidade de ampliar a coordenação entre nossas distintas organizações e construir campanhas que fortaleçam uma alternativa internacionalista para a juventude. A campanha pela libertação de Julian Assange empolgou o conjunto dos jovens ali presentes para pressionar o imperialismo e exigir sua libertação da prisão a que foi submetido na embaixada do Equador, onde está refugiado. A solidariedade à formação do novo partido anticapitalista e anti-imperialista no Peru, o envio de companheiros para a Venezuela para apoiar, junto aos companheiros de Marea Socialista, a campanha de Maduro, o enfrentamento aos projetos de magamineração em nosso continente, entre outras campanhas, foram incorporadas na Declaração de Buenos Aires, que também indicou uma jornada de lutas nos próximos meses em nossos países.
Vamos receber milhares de ativistas de todo o mundo no Brasil!
Por último, decidimos que, a princípio em 2014, realizaremos o próximo Acampamento Internacional da Juventude Anti-imperialista e Anticapitalista no Brasil! Nele, avançaremos na construção de um polo latino-americano e mundial fortaleça a luta da juventude indignada e anticapitalista que luta por outro futuro! Lá, receberemos milhares de ativistas de vários países do mundo e poderemos retribuir a linda acolhida com que fomos recebidos por nossos queridos companheiros da Juventude Socialista do MST.
Estamos confiantes que a realização de nosso primeiro acampamento internacional foi um passo decisivo na consolidação do Juntos! como uma juventude conectada com as lutas de nosso período e que possa dizer, hoje, como nunca, que o socialismo vive e vencerá porque o futuro é nosso!
*Membro do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos!