Julian Assange: condenação de Manning é sinal de fraqueza
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Julian Assange: condenação de Manning é sinal de fraqueza

Nesta terça-feira, 30 de julho, o soldado americano Bradley Manning foi condenado por espionagem por ter vazado documentos secretos para o WikiLeaks.

Julian Assange 31 jul 2013, 01:31

Hoje Bradley Manning, um whistleblower, foi condenado por uma corte militar em Fort Meade por 19 crimes por ter fornecido à imprena informações – incluindo 5 acusações diferentes de “espionagem”. Ele pode ser condenado à pena máxima de 136 anos de prisão.

A acusação de “auxiliar o inimigo” foi descartada. Ela só foi incluída, ao que parece, para permitir que se tornasse razoável chamar jornalismo de “espionagem”. Não é razoável.

Os vazamentos de Bradley Manning expuseram crimes de guerra, iniciaram revoluções e induziram reformas democráticas. Manning é a essência do que é um whistleblower, ou denunciante.

Essa é a primeira condenação por espionagem de um whistleblower. Trata-se de um precedente perigoso e um exemplo de extremismo em nome da segurança nacional. É um julgamento com uma visão curta, que não pode ser tolerada, e que deve ser revertido. Jamais se deve considerar “espionagem” a publicação de informações verdadeiras.

O presidente Obama processou mais whistleblowers e jornalistas do que todos os presidentes que o antecederam juntos.

Em 2008, o então candidato Barack Obama concorreu com uma plataforma que elogiava aqueles que vazavam infromações como um ato de coragem e patriotismo. Essa plataforma foi profundamente traída. A sua campanha descrevia os whistleblowers como guardiães da sociedade quando os governos abusam da sua autoridade. Ela foi removida da internet na semana passada.

Ao longo do julgamento houve ainda mais uma ausência notável: a ausência de qualquer vítima. A acusação não mostrou nenhuma evidência – nem tentou argumentar – que qualquer pessoa tenha sido ferida como resultado das revelações de Bradley Manning. O governo também nunca acusou Manning de trabalhar para um poder inimigo.

A única “vítima” foi o orgulho ferido do governo americano, mas o abuso contra esse jovem nunca foi a solução para restaurá-lo. Em vez disso, os abusos impostos a Bradley Manning deixaram o mundo com uma repugnância de como a administração Obama chegou tão baixo. Não é um sinal de força, mas de fraqueza.

O juiza permitiu que a acusação alterasse substancialmente as acusações após ambos os lados terem terminado suas argumentações, e permitiu que a acusação se valesse de 141 testemunhas, e vários depoimentos em segredo. O governo manteve Bradley Manning em uma gaiola, nu e isolado, para quebrá-lo, um ato formalmente condenado pelo relator especial da ONU para tortura.

Esse nunca foi um julgamento justo.

A administração Obama tem reduzido as liberdades democráticas nos Estados Unidos. Com o veredicto de hoje, Obama cortou muito mais. A administração tem a firme intenção de deter e silenciar whistleblowers, e de enfraquecer a liberdade da imprensa.

A Primeira Emenda dos EUA garante que “O Congresso não deve aprovar nenhuma lei… que cerceie a liberdade de expressão e de imprensa”. Qual parte deste “não” Barack Obama deixou de compreender?

* Julian Assange é fundador e editor-chefe do WikiLeaks.

Fonte: Agência Pública


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