Em cada morro uma história diferente, que a polícia mata gente inocente
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Em cada morro uma história diferente, que a polícia mata gente inocente

Desde 21 de novembro de 2014 a cidade de Mogi das Cruzes foi palco de seis chacinas que deixaram 20 homens e adolescentes mortos e outros 19 feridos, a cidade tem destaque no mapa desse surto de chacinas que vem assombrando toda a Grande SP.

Wallace Miapet 30 set 2015, 22:15

Desde 21 de novembro de 2014 a cidade de Mogi das Cruzes foi palco de seis chacinas que deixaram 20 homens e adolescentes mortos e outros 19 feridos, a cidade tem destaque no mapa desse surto de chacinas que vem assombrando toda a Grande SP. Muitos talvez, não ficaram sabendo ou se lembram desses casos, são notícias que já nascem velhas, nada fora da “normalidade”, são mais jovens, negros, pobres e favelados assassinados por um sistema racista, cujo motor é o ódio de classes. Não é a primeira vez que eu utilizo desse espaço para tratar sobre esse caso, mas dessa vez um novo capítulo dessa história foi escrito. Nesta sexta-feira dois PM’s foram presos pela chacina que ocorreu no meu bairro, Vila Caputera, no começo desse ano onde três jovens foram mortos, Christian Silveira Filho, Ivan Marcos dos Santos Souza e Lucas Tomas de Abreu, dois deles dois ex-alunos de minha escola, eles tinham entre 17 e 20 anos, além deles mais dois ficaram feridos. Mais uma notícia que já nasce velha, pra todos nós que já conhecemos qual o “apreço’ das PM’s desse país pelos direitos humanos e a quem essa agencia mortífera do estado serve.

Nunca foi tão urgente debater sobre as policias no Brasil, vivemos uma crise humanitária silenciosa, não devidamente coberta pela mídia, não acompanhada pelo poder público, sob o silêncio sorridente de São Paulo que em suas marchas de “revoltados” aplaudem o secretário de segurança na mesma semana onde 19 jovens são mortos em Osasco, Barueri e região. Uma coisa é fato, os policiais não apertam esse gatilho sozinhos, o estado brasileiro é responsável por essas mortes, pela negligência e por manterem, em pleno regime democrático, órgãos de repressão como são as nossas PM’s.

A polícia militar para fins de organização é uma força auxiliar e reserva do Exército Brasileiro, ou seja o a lógica operante é a da guerra, sim uma polícia que deveria lidar com o povo, age como se estivesse lidando com um inimigo de guerra. A PM no Brasil tem origem no Império, num contexto onde após o primeiro reinado, onde o Brasil era governado regentes, Dom Pedro II ainda não havia atingido sua maioridade, esses regentes não muito aceitos pelo povo que o consideravam ilegítimos para governar começaram a enfrentar revoltas como a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, a Balaiada, no Maranhão e a Sabinada, na Bahia.

Esses movimentos foram considerados perigosos para estabilidade do Império, o que levou o então ministro da justiça, o padre Antonio Diogo Feijó a propor a criação na então capital do Império um Corpo de Guardas Municipais Permanentes, o que se efetivou em 10 de outubro de 1831, com um decreto oficial, que permitia também que outras províncias criassem suas guardas. Já partir da constituição de 1946 as Corporações de Estados passaram a se chamar polícia militar. Na sua história recente a PM desempenhou um papel importante na manutenção da repressão durante o regime militar, durante esse período ela modernizou e desenvolveu seu aparato repressivo, sendo notória sua participação em mortes, torturas, prisões ilegais e repressão a movimentos políticos que ocorreram durante a ditadura, o que faz dessa instituição um entulho do regime militar, onde ainda impera a mesma ideologia fascista que infelizmente findou com a ditadura.

Essa breve recapitulação da história das nossas PM’s são importantes para entendermos a polícia que temos hoje em dia, que apoiada a uma suposta guerra as drogas, é utilizada como instrumento de criminalização da pobreza que serve, apenas, a esse sistema que precisa se livrar de seus supérfluos, de seus restos incômodos que provam que essa sociedade não deu certo, pra isso tem como armas as mortes e as prisões arbitrárias, que lotam nosso jazigos e presídios.

Apenas para termos isso mais claro, em números, tomemos de exemplo a PMESP (Polícia Militar do Estado de São Paulo). Um estudo divulgado em 2012 concluiu que a instituição matou quase nove vezes mais do que a polícia norte-americana. De 2006 a 2010, 2.262 pessoas foram mortas após supostos confrontos com PM’s, enquanto em todo território dos Estados Unidos, foram registrados 1.963 “homicídios justificados”, o equivalente às resistências seguidas de mortes registradas em SP. Já nos primeiros oito meses de 2015, no mínimo, 56 pessoas foram mortas em chacinas, a letalidade também é a maior dos três últimos anos em todo o Estado. Até agora, foram em média 4,7 mortes em cada ocorrência, contra 3,1 em 2014, 3 em 2013 e 3,4 em 2012.

Por isso tudo, urge a necessidade de discutir um novo modelo de policiamento, calcado no respeito aos direitos humanos, básicos a cada cidadão como é sempre bom lembrar. Uma polícia promotora da paz e da justiça, uma policia do povo e para o povo. Pela memória de nossos por mortos, pelo Christian, pelo Ivan, pelo Lucas e tantos outros que acabaram se tornando estatísticas de números que gostaríamos que fossem invisíveis.


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