Stalin matou foi pouco?
O debate necessário levantado pela infeliz canção “Stalin matou foi pouco” interpretada e compartilhada por militantes da UJC
Recentemente surgiu na linha do tempo um vídeo de jovens militantes da União da Juventude Comunista (juventude do Partido Comunista Brasileiro) interpretando uma música com o refrão “Stalin matou foi pouco”. Em poucos segundos roda na tela uma sequência de frames que constrangem comunistas e punks.
A situação abriu a oportunidade de discussão sobre Stalin e isso exige mais que algumas rimas pobres.
Quando falamos sobre o papel de Stalin, o que está em discussão é o fio de continuidade do marxismo-leninismo com o movimento revolucionário que teve como experiência mais avançada a Revolução Russa de 1917.
Para quem reivindica o comunismo, associar-se a Stalin é uma contradição irremediável.
A herança de Stalin nada tem a ver com o fio de continuidade do trabalho revolucionário de Marx e Lênin. Trata-se de um rompimento fundamental para qualificar o “movimento stalinista”. Stalin foi agente ativo do processo contra revolucionário que liquidou as conquistas da Revolução Russa e restaurou o capitalismo na União Soviética.
A biografia de Stalin e seu ascenso como liderança após a morte de Lenin é manchada por um processo de burocratização violenta, assassinato da vanguarda do Partido Bolchevique, transformação do aparelho revolucionário numa polícia política para perseguir revolucionários como León Trotsky – que combateu o stalinismo defendendo o legado de Lenin e a fidelidade à Revolução de Outubro de 1917 e os princípios originais do comunismo.
Trotsky, com Lenin, comandou a revolução russa, organizou o Exército Vermelho e derrotou 21 potências imperialistas que invadiram a Rússia como resposta à revolução.
Nas suas últimas semanas de vida, Lenin sugeriu que Stalin deixasse o cargo de Secretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista da URSS. Lênin apontou Trotsky como quadro capaz de assumir a tarefa.
O legado de Stalin foi a degeneração da União Soviética e o aparelhamento dos partidos comunistas pelo mundo. Um desastre para quem defende a revolução socialista mundial.
No legado de Trotsky merece destaque a contribuição para manter viva a ideia central do comunismo defendido por Marx e Lênin enquanto se consolidava a vitória da contra revolução através da desfiguração stalinista da bandeira comunista.
Para contribuir com a discussão aberta, felizmente a Revista Movimento publicou recentemente O que é ser trotskista no século XXI escrito por Pedro Fuentes. Leitura fundamental.
Pedro é dirigente do Movimento Esquerda Socialista e do PSOL e carrega uma trajetória de militância em defesa da reorganização internacional das forças revolucionárias. Militante fundamental na continuidade do legado de Lenin e Trotsky.
A violência stalinista perseguiu e matou inúmeros quadros revolucionários que não se sujeitaram à capitulação e insistiram no trabalho comunista.
Em agosto de 1940, finalmente Stalin obteve êxito com o plano para matar Trotsky. Um agente da burocracia soviética, traidor infiltrado na casa de Trotsky, executou a tarefa utilizando uma picareta.
Voltando à motivação inicial do texto. É necessário registrar que escutamos com rispidez insuportável o refrão “Stalin matou foi pouco” vindo de militantes de uma organização considerada aliada na luta contra a extrema-direita e o fascismo que está aberta no Brasil em 2021.
Stalin matou o processo revolucionário que estava em curso na Rússia. Matou a revolução internacional utilizando o aparelho soviético. Matou gerações de revolucionários, cientistas, artistas, homens e mulheres que contribuíram para o progresso da humanidade. Stalin matou Trotsky. Stalin matou foi muito mas não foi o suficiente para liquidar o fio de continuidade que se mantém vivo pelo trabalho de Trotsky e de muitos outros revolucionários.