CARTA DO COLETIVO JUNTOS RUMO AO I ENCONTRO DOS ESTUDANTES DA AMAZÔNIA
Intervenção do Juntos contra a Cargill

CARTA DO COLETIVO JUNTOS RUMO AO I ENCONTRO DOS ESTUDANTES DA AMAZÔNIA

Se muito vale o que já foi feito, mas vale o que será! Por isso, convocamos todos, todas e todes a estarem conosco nessas lutas e construir uma agenda em defesa da educação e da Amazônia. Vem com o Juntos! para o I Encontro de Estudantes da Amazônia construir um movimento estudantil com a cara dos que que lutam por um mundo sem exploração à floresta e aos seus povos.

Juntos! 1 dez 2021, 12:21

29 de novembro de 2021

A política anti-educação que Bolsonaro aplica nas Universidades podem ter consequências devastadoras na produção científica e conhecimento a partir/sobre/para o território amazônida com povos secularmente marginalizados e explorados. O corte de verbas na educação pública tem como reflexo a falta de incentivo à ciência e à estruturação das instituições de ensino, o que significa o apagamento do que é produzido no norte do país por pesquisadores ribeirinhos, quilombolas e indígenas.

As Universidades, construídas inicialmente para abrigar os filhos e filhas das elites econômicas, hoje encaram uma mudança expressiva no seu perfil acadêmico após a Lei de Cotas/2012. Entretanto, as instituições do norte em sua totalidade tiveram-na implementada somente em 2016, um atraso que pode ser ainda mais danoso sem a prorrogação da lei, a maior política de assistência estudantil que faz as Universidades se pintarem de povos indígenas e quilombolas com a oportunidade de construírem ciência a partir da história que a História não conta.

Os ataques à educação são apenas a ponta do icerberg do que os povos amazonidas vivem. O desmatamento da Amazônia cresceu 51% nos últimos 11 meses. O garimpo ilegal além de destruir o território, contamina nossos peixes com mercúrio e mata crianças indígenas, como as Yanomami em Roraima. As lideranças indígenas, quilombolas, do campo são constantemente perseguidas. Vivemos uma luta urgente em defesa das vidas amazônidas.

Nesse cenário, o I Encontro dos Estudantes da Amazônia, que ocorrerá em São Luís durante os dias 02, 03 e 04 de dezembro de 2021, deve apontar a necessidade de construir luta contra os ataques às Universidades, tendo como seu principal ponto de materialidade a defesa da prorrogação da Lei de Cotas em 10 anos, como propõe a Deputada Federal Vivi Reis (PSOL/PA), relatora do projeto na Comissão de Direitos Humanos e Minorias do Congresso Nacional, que recentemente esteve na COP 26 questionando o falso compromisso das grandes potências mundiais, que seguem com suas multinacionais implementando uma lógica colonialista e predatória em muitos países e defendendo que apenas com a luta internacional é possível superar a crise ambiental que vivemos, numa luta que precisa ser necessariamente para derrubar o sistema capitalista. Se hoje assistimos às mudanças climáticas e grandes tragédias ambientais ocorrerem pelo mundo, é porque estamos chegando no limite de um sistema de produção em grande escala, que destrói os recursos naturais e o território dos povos, colocando a expansão de seus lucros acima da garantia da vida. Acreditamos que não há mediação com os que faturam na barbárie, sendo assim, o ecossocialismo é a máxima em defesa de uma nova relação com o bem viver.

Dessa forma, o I Encontro de Estudantes da Amazônia deve ser um espaço onde o movimento estudantil saia comprometido com as lutas não só da educação, mas de defesa do território. A Amazônia e seus povos, que são historicamente ameaçados, hoje enfrentam um aprofundamento dessa política ecocida orquestrada e legitimada por Bolsonaro. Esse desgoverno ficou reconhecido internacionalmente pela destruição da Amazônia e do Pantanal, pelo genocídio promovido aos povos indígenas especialmente durante a pandemia. E é por isso que para defender a Amazônia, precisamos exigir o Fora Bolsonaro já! e nao apenas aguardar as eleições de 2022.

Precisamos de uma agenda de mobilização permanente em defesa das bolsas para indígenas e quilombolas, que desde 2019 não são abertos novos editais pelo MEC nas Universidades, pois esse estrangulamento do orçamento da educação tira a possibilidade de transformarem o perfil dessas instituições. 

O movimento estudantil deve ser muito responsável com as lutas travadas na Amazônia. O Juntos! carrega em sua gênese a luta ambiental, desde a sua fundação em 2011 estamos nas ruas em defesa da Amazônia quando travamos uma grande batalha contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, frente a governos ditos de esquerda que seguiram a mesma lógica de atender aos interesses do agronegócio. Acreditamos que nessa luta não há empate. Ou se defende a Amazônia e seus povos, ou o agronegócio, os grileiros e latifundiários. Em 10 anos de organização do nosso coletivo, construímos muitas lutas em defesa do nosso território e mais recentemente nos Acampamentos Terra Livre, Luta Pela Vida, na Marcha de Mulheres Indígenas e no I Fórum de Ensino Superior de Estudantes Indígenas e Quilombolas, que deram um exemplo de luta e auto-organização no ano de 2021 contra o projeto do Marco Temporal e pedindo a saída do governo Bolsonaro.

O agronegócio, garimpo, a derrubada de madeira ilegal, as hidreletricas nos nossos rios, tudo isso faz parte de um pacote de ataques do andar de cima. A verdade é que tudo que é produzido na nossa região não serve ao nosso povo. A energia não é nossa, a comida não é nossa, tudo é exportado, e o que sobra para nós é a destruição, enquanto alguns poucos lucram com nossas vidas. Assim, é fundamental que a luta ambiental esteja conectada à uma agenda anticapitalista. Onde a terra esteja a serviço de combater a fome e a desigualdade, e não para gerar lucro às meia dúzia.  Nós do Juntos! acreditamos que para sermos consequentes com a luta da Amazônia, é necessário levar adiante bandeiras  históricas dos movimentos sociais: a demarcação do território dos povos indígenas, a reforma agrária para que a terra seja para quem nela produz alimentos e a taxação das grandes fortunas, patrimônios e heranças, para que essa crise paguem os que a criaram. Não é mais aceitável que existam pelo menos 20 milhões de brasileiros passando fome, enquanto vivemos em um país de tanta biodiversidade. Nem a fome, nem os Bilionários, nem a destruição da Amazônia devem existir!

     Se muito vale o que já foi feito, mas vale o que será! Por isso, convocamos todos, todas e todes a estarem conosco nessas lutas e construir uma agenda em defesa da educação e da Amazônia. Vem com o Juntos! para o I Encontro de Estudantes da Amazônia construir um movimento estudantil com a cara dos que que lutam por um mundo sem exploração à floresta e aos seus povos.


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