A Cabanagem é agora, o Fora Bolsonaro também! O legado dos cabanos na luta em defesa da Amazônia e dos seus povos!
Ilustração: Paulo Magno/ @ilustramagno

A Cabanagem é agora, o Fora Bolsonaro também! O legado dos cabanos na luta em defesa da Amazônia e dos seus povos!

É essencial derrubar Bolsonaro agora, é urgente! Seguir o legado cabano é não esperar que as eleições burguesas definam nosso futuro, e sim construí-lo com nossas mãos, é honrar a radicalidade daqueles e daquelas que fizeram desta terra referência na luta!

Matheus Lisboa e Wesley David 9 jan 2022, 15:08

No dia 07, fez 187 anos da explosão da Cabanagem em Belém do Pará. Nas primeiras horas da manhã de 07 de janeiro de 1835, milhares de caboclos, indígenas e negros tomaram o forte e o Palácio do Governo, matando o presidente da província Bernardo Lobo de Souza e sua equipe de governo. Era o início da primeira insurreição popular no Brasil que alcançava o poder, que durou pouco menos de um ano e meio, mas que se radicalizou por toda a Amazônia brasileira e internacional durante cinco longos anos de luta e resistência.

Diferente de alguns líderes cabanos como Félix Malcher, Francisco Vinagre e Eduardo Angelim, que se tornaram presidentes de província e que desejavam a formação de um novo governo, o povo cabano queria uma transformação profunda nas estruturas opressoras coloniais da sociedade que perduram mesmo depois da adesão do Pará à Independência do Brasil, em 1823.

A Cabanagem é agora! 187 anos depois, os povos da Amazônia seguem sendo explorados, só que dessa vez sob a lógica desenvolvimentista do neoliberalismo, os grandes projetos na região a exemplo da construção das usinas hidroelétricas de Belo Monte, Tucuruí, Santo Antônio e Jirau, bem como a Zona Franca de Manaus ignoram a existência dos povos que aqui habitam e dilaceram a floresta e os rios, destruindo famílias em nome de um desenvolvimento que não chega aqui.

No Brasil de Bolsonaro o negacionismo é sobrenome, Manaus viveu a pior crise de sua história sendo epicentro da pandemia de COVID19 no país e exemplo triste para o mundo, covas coletivas eram comuns nos noticiários, milhares de mortos na cidade mais populosa da Amazônia. Na contramão da crise, Bolsonaro e seus aliados passavam a boiada, o mundo viu os índices de desmatamento, queimadas e o garimpo na Amazônia aumentarem como nunca se viu, sob o atestado de aceite do então Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, criminoso, que viajava frequentemente ao Pará atrás de seus amigos madeireiros. 

Os desafios nos dias de hoje são gigantes, as regras do jogo do neoliberalismo e da globalização demandam critérios que devem satisfazer o interesse de quem está no poder a serviço daqueles que enxergam para a Amazônia um projeto político desenvolvimentista e predatório que afeta diretamente os povos que há séculos resistem nesse espaço e que lutam constantemente para manter a Amazônia de pé. É necessário seguir o legado da Cabanagem e lutar contra esses grandes projetos ecocidas que ameaçam a nossa gente, a nossa biodiversidade, a nossa cultura e a nossa história. Projetos como a Ferrogrão e a Hidrelétrica de São Luís do Tapajós, no Pará, são grandes ameaças aos cidadãos que habitam uma região que hoje segue marcada pela destruição dos rios pelos garimpos ilegais, incentivadas tanto pelo discurso destrutivo de Jair Bolsonaro quanto pelo aval do Governador do Pará, Helder Barbalho, que recentemente sancionou o Dia do Garimpeiro, além de facilitar a grilagem de terras no Pará com um decreto estadual que reduz o preço de venda de áreas públicas estaduais.

Nesse sentido, o debate sobre a internacionalização da Amazônia, apesar de antigo, sempre está na pauta do dia, pois esta é a região mais importante do globo. No entanto, a Amazônia segue sendo a periferia do Brasil e é mais que necessário reverter essa lógica, continuamos fornecendo energia para todo o país (e inclusive para fora) e pagando a conta de energia elétrica mais cara do país, apesar das já conhecidas consequências de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau. É fundamental que o resto do país – e do mundo – entendam a Amazônia para além da floresta, a pauta da conservação é importante mas não é única, na Amazônia brasileira 90% da população vive nas cidades e não na zona rural, esse dado é importante para entender inclusive porque as cidades da Amazônia (junto com as do nordeste) têm os piores índices de desenvolvimento humano do país. Assim, entender a problemática da Amazônia e de seus povos é imprescindível não somente para a preservação do território mais precioso do planeta, mas para o resto do país e do mundo finalmente nos entenderem de maneira completa. 

Por fim, neste 7 de janeiro sigamos lembrando que os nossos passos vêm de longe. A luta daqueles e daquelas que lutaram por liberdade, pela defesa da terra, por justiça social, num período de incertezas no início do Império, devem seguir viva em nossas lutas do presente para que não possamos aceitar nenhum tipo de exploração. Ao lembrarmos da Cabanagem hoje devemos refletir sobre que projeto político queremos para a Amazônia e as pessoas que aqui vivem, e nesse projeto não cabem negociatas, acordões e conciliações com quem quer acentuar os problemas já existentes aqui. É necessário lutar pela demarcação de terras indígenas e quilombolas, lutar por uma vida mais digna para as populações que vivem à mercê da ausência do Estado nas cidades, lutar por alternativas econômicas que gerem renda sem degradar o meio ambiente e quebrar com uma lógica secular que desmata, gera miséria e ceifa a vida de quem defende este território amazônico. Que o legado do povo cabano da Amazônia siga vivo em nossas mentes e corações e que seja exemplo para o restante do Brasil aprender a lutar com a força que vem do Norte. Por isso, é essencial derrubar Bolsonaro agora, é urgente! Seguir o legado cabano é não esperar que as eleições burguesas definam nosso futuro, e sim construí-lo com nossas mãos, é honrar a radicalidade daqueles e daquelas que fizeram desta terra referência na luta!

Viva a Cabanagem!


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