Não é chuva, é garimpo: o Rio Tapajós pede socorro!
Via Juntos! Santarém

Não é chuva, é garimpo: o Rio Tapajós pede socorro!

Um dos cenários mais lindos do mundo está perdendo sua grandiosidade por conta da exploração assassina que o capitalismo faz aqui na nossa casa

Alexandre Arapiun 20 jan 2022, 09:00

Vocês sabem quem é o rio Tapajós e qual a importância dele para a nossa região? O Tapajós é um dos maiores responsáveis pela fama dos mais espetaculares cenários entre as praias do mundo. É o rio que banha Santarém, Alter do Chão (o famoso Caribe Brasileiro), Ponta de Pedras. Um dos cenários mais lindos do mundo está perdendo sua grandiosidade por conta da exploração assassina que o capitalismo faz aqui na nossa casa (lê-se com tom de desespero).

Mas o Tapajós não é só espaço para agradar turista. É casa de muita gente. É casa dos Tupinambás, dos Munduruku, Maytapu, dos Kumaruaras, dos Borari, dos Arara Vermelha… é casa dos nossos ancestrais e encantados. É o lugar que banha os curumins e as cunhantã quando pulam na água dando “mortal”, o lugar que sustenta família e alimenta até a cidade. O lugar de história ancestral, de cura, dos nossos pajés, parteiras, benzedeiras, puxadeiras. Tudo isso é história, é vida, é conexão. E de pensar que tudo isso pode se afogar em lama.

O rio Tapajós que antes era azul esverdeado está mudando de coloração porque o garimpo que atua na região joga no rio os dejetos que resta desse crime ambiental. O mercúrio já matava muitos parentes e parentas que se alimentavam dos peixes do rio. A ordem é simples: a) os garimpeiros entram na região, muitas das vezes de forma ilegal, mas nem tanto assim já que o governador Helder Barbalho criou até um dia de homenagem a essas pessoas e disse que eles são atores “fundamentais” para a história da região; b) começam a fazer a extração dos materiais e quem for tentar impedi-los acabam sendo mortos ou ameaçados; c) ao extrair o material eles usam metil-mercúrio, metal pesado utilizado para separar o ouro; d) esse material cai no rio e os peixes comem e, por consequência, nós comemos os peixes e nos contaminamos. E morremos. É quase uma cadeia alimentar de morte.

Agora, se não bastasse, nosso rio está morrendo. Não é nem tão assustador assim que eu diga que Bolsonaro ajudou a impulsionar isso, mas ele também tem culpa, precisamos afirmar. Hidrovias, portos, hidrelétricas, ferrogrãos, marco temporal, mineração, graneleiros, tudo isso é ataque simultâneo. Qual priorizar? Todas! Porque todas nos matam, só muda a forma. Há quem diga que é culpa da chuva, mas é garimpo.

Escrevo isso aqui não como alguém que sabe qual o caminho certo a se seguir para salvar nosso rio, mas sei que algumas coisas são certas: parar o garimpo, parar Bolsonaro, parar o Hélder, construir uma luta de base estruturada na mudança dessa lógica de exploração do nosso território já são grandes passos. Nós temos que pensar logo em uma saída, tempo é o que não temos.


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