Vale tudo para (tentar) não perder um DCE?
Chapa 2 na apuração

Vale tudo para (tentar) não perder um DCE?

Um debate acerca da política da Chapa 1 – Por Toda a UFF (UJS, Kizomba, Levante Popular da Juventude, Paratodos e Juventude Socialista) nas eleições para o DCE da UFF Fernando Santa Cruz 2022/2023.

Fabiana Amorim e Jeferson Roza 16 nov 2022, 12:07

A vitória da Chapa 2 – Pra Virar o Jogo, Oposição de Esquerda, no DCE da UFF Fernando Santa Cruz, com mais de 68% dos votos e 7.917 votos, foi gigantesca para além dos frios números que o resultado final comprovou. Depois de quase 4 anos sem eleições, construímos (UJC, Juntos, Correnteza, Travessia, Vamos à Luta, Ecoar, Rebeldia e estudantes independentes) uma campanha-movimento, que cresceu durante o processo, encantou e arrastou estudantes independentes que se identificaram com a necessidade de um DCE da UFF mais presente, mobilizado e independente. Porém, as respostas escolhidas pelos coletivos que compuseram a última gestão do DCE (UJS, Levante, PT e PDT)  para justificar uma gestão desastrosa, foi a de optar pelo rebaixamento de debates caros para o movimento estudantil, numa defensiva que agitou sermos “contra cotas, contra o REUNI, contra os pólos do interior e contra o Lula”.

Antes de tudo é importante localizar em qual momento as eleições do DCE UFF Fernando Santa Cruz, um dos mais importantes do país aconteceram. A primeira semana de campanha iniciou quando ainda estávamos na reta final do segundo turno. Felizmente, consolidamos a derrota eleitoral de Bolsonaro. Mas após o resultado ficou evidente que a extrema-direita seguirá existindo e tendo força no Brasil, o que nos coloca responsabilidades que vão para além dos debates entre os setores da esquerda. Nossa principal tarefa seguirá sendo esmagar o fascismo, punir Bolsonaro e não permitir que a extrema-direita saia impune dos tantos crimes que cometeu.

O movimento estudantil, portanto, seguirá tendo um papel decisivo nessa disputa. Por um lado, lutando pela defesa da educação pública e de qualidade, pela recomposição do orçamento perdido nos últimos anos, pela popularização do ensino superior, pela defesa das cotas, e para que as universidades sigam sendo territórios antifascistas. Por outro, disputando maioria social, articulando movimentos sociais e mobilizando para lutar por transformações estruturais na sociedade brasileira e por punição aos crimes que a extrema-direita cometeu.

Por isso, acreditamos ter sido de uma irresponsabilidade sem tamanho, num momento onde concretamente precisamos derrotar os supremacistas brancos e a extrema direita,  que atuam para retroceder com os direitos do povo negro e indígena, agitar falsamente de que há algum setor no movimento estudantil contra as cotas na universidade. Sabe-se que o debate que era feito e que até hoje reivindicamos é sobre a necessidade das cotas serem  acompanhadas das políticas de permânencia e o livre acesso ao ensino superior, direito que existe por exemplo na Argentina. As organizações sabem que estivemos lado a lado na campanha construída pela UNE pela renovação da Lei de Cotas (As Cotas Abrem Portas), e que jamais seremos contra a única política de reparação histórica implementada num país marcado por mais 300 anos de escravidão. Por que optaram por confundir os estudantes num momento em que além de demonstrar diferenças também precisamos apontar nossas tarefas comuns?

Outro debate bastante deturpado e costumeiramente utilizado nas disputas de DCE é o de termos sido contra a expansão das universidades. Trazer debates de quase 20 anos atrás, sem explicar o contexto e as condições, não ajuda no fortalecimento de um movimento estudantil consciente sobre correlação de forças e construção de um programa conectado com as nossas reais necessidades. No primeiro governo Lula, bastante diferente inclusive da situação deste novo governo eleito, tínhamos uma situação de avanço dos movimentos populares e de uma onda da esquerda na América Latina, além de uma situação econômica favorável. O papel do movimento estudantil era de pressionar para garantir por exemplo os 10% do PIB para a educação imediatamente, para que o processo de expansão não gerasse exatamente o que temos visto hoje: evasão nas universidades, uma UFF interiorizada mas com bandejão apenas em Niterói.

O problema para nós nunca foi a interiorização ou a expansão da universidade, mas sim que esse processo tenha sido feito sem investimento. E hoje as universidades sobrevivem sem dinheiro algum para expansão, precisando de emendas parlamentares, parcerias com prefeituras e secretarias para conseguir concluir obras tão fundamentais que garantem a existência de um dos pilares que a universidade deve garantir, que é a permanência estudantil. Alimentação, transporte, moradia devem ser direitos para que a universidade seja de fato democrática.

O resultado das eleições do DCE da UFF 2022/2023, mostraram também que os estudantes da Universidade Federal Fluminense estão cansados de um movimento estudantil que ao invés de debater propostas concretas para universidade, se utiliza da política da baixaria, do escracho a organizações e das fake news para conquistar alguns votos. Já passou da hora de superar esse modo de fazer política, que só serve para afastar os estudantes e despolitizar os debates. Não podemos naturalizar essa prática num momento em que o movimento estudantil deve estar unificado para derrotar as ideias fascistas e lutar por orçamento digno para educação pública.

A disputa das entidades não pode estar acima da responsabilidade política que temos com o fortalecimento da consciência política do movimento estudantil, da disputa de projeto e de ideias para que nossas pautas avancem. Defendemos que as disputas aconteçam no marco da política, que não sejam feitas com base em fake news e debates descontextualizados porque acreditamos que são os estudantes, acima de qualquer organização ou chapa de DCE, os sujeitos do Movimento Estudantil. Isso significa que, se as grandes conquistas, como foram as cotas, só são conquistadas com um engajamento massivo por parte dos estudantes, é necessário respeitar as experiências que os estudantes decidem fazer, mesmo que não sejam o que nossas organizações acreditam ser o melhor, sem buscar distorcer resultados eleitorais com base em fake news, fraudes, ou impugnação de urnas legítimas. Assim como não existe “socialismo num só país”, não existe política que se justifique por si mesma para ganhar uma entidade, sem que esteja conectada com as necessidades globais do movimento. 


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