Maceió afunda: desastre ambiental da Braskem, 50 anos de crime
Braskem e o resultado de décadas de ganância e destruição do meio ambiente
Nas últimas semanas de novembro, a cidade de Maceió, capital Alagoana, vivenciou mais um capítulo do maior Crime Ambiental em Zona Urbana do mundo. Após o agravamento da instabilidade do solo e aumento de tremores, a Defesa Civil Municipal emitiu, baseando-se em estudos, uma nota recomendando a não circulação na região próxima à mina 18 da Braskem, situada no bairro do Mutange. Posteriormente a decisão da Justiça Federal, forças policiais, Defesa Civil e outros órgãos governamentais iniciaram o processo violento e desumano de desocupação forçada da população local.
Os crimes ambientais relacionados ao Caso Braskem se estendem há 50 anos e possuem ligações com a Ditadura Militar e oligarquias locais. Criada pela iniciativa privada em 1966 como Salgema Indústrias Químicas S/A e estatizada pelo Governo Médici, nos tempos do chamado “Milagre Econômico”, em 1971, a empresa começou a instalar-se em Maceió no ano de 1974. José Geraldo Marques, professor da Ufal já alertava sobre as problemáticas da instalação da Salgema (Braskem) e seus riscos para o ecossistema local. Apesar disso, os governos locais prosseguiram com o andamento do projeto, em decorrência das fortes pressões econômicas, políticas e até mesmo sociais, uma vez que esse projeto era entendido por parte da população maceioense como uma grande oportunidade de desenvolvimento para a cidade.
No entanto, a inserção da Braskem em Maceió, como previsto, trouxe inúmeros prejuízos ao desenvolvimento urbano da cidade. A região do litoral sul, ponto principal de expansão e desenvolvimento da capital na época, tornou-se perigosa e insegura para a população nos bairros do Pontal da Barra e Trapiche da Barra. É preciso enfatizar que os manguezais, áreas de restinga e a lagoa foram destruídos ao longo de décadas, sem a menor possibilidade de intervenção tendo em vista o poder econômico e político que a empresa adquiriu, apoiada pelas já citadas oligarquias locais.
No ano de 2018, fortes tremores foram sentidos por parte da cidade. Diversas residências dos bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Farol e Bom Parto foram afetadas estruturalmente apresentando rachaduras que se agravaram com afundamento do solo causado pela mineração de sal-gema na região. Já em 2023, a comunidade local continua a enfrentar as consequências do afundamento, problema que vem tomando maior repercussão nos últimos anos e continua a causar preocupações ambientais e socioculturais, uma vez que escancara a falta de qualquer preocupação para além do lucro e acúmulo de capital, padrão de comportamento característico no sistema capitalista. Por fim, a utilização do poder financeiro e influência pela Braskem para silenciar as formas de expressão da população afetada pelo ocorrido, apenas intensifica e exibe a dimensão alarmante da situação.
Essa infelizmente não é a primeira nem será a última destruição fruto da ganância capitalista. Com a perpetuação desse sistema, não há futuro. E políticas como a privatização dos serviços públicos como da água no estado de São Paulo e a liberação de extração de mineradoras aprovada essa semana no Congresso, vão na contramão de cidades feitas para a vida e não para o lucro. Neste momento ocorre em Dubai a COP-26, na qual uma das expositoras é a própria Braskem, que se apresenta como exemplo de preservação enquanto destrói Maceió. Muitas palavras bonitas serão ditas nos Emirados Árabes, mas nós queremos alertar de que sem enfrentar os grandes interesses privados, o combate à devastação ambiental é uma agitação vazia.
Não é mais possível adiar essa tarefa, para salvar Maceió e a vida no planeta, devemos lutar contra o desenvolvimento das grandes organizações bilionárias que crescem e enriquecem em cima do sofrimento e das lágrimas de toda uma população.