O caos climático é a fratura exposta do capitalismo
Reprodução O Globo

O caos climático é a fratura exposta do capitalismo

Relato de quem vive, há trinta dias seguidos, os efeitos da crise humanitária, provocada pelas mudanças climáticas decorrentes do capital.

Porto Alegre, 30º dia das enchentes, dos alagamentos e da destruição vivida pela população gaúcha, fruto da crise climática e humana generalizada. Até a tarde desta quarta-feira (29), a tragédia soma 169 mortos e 44 ainda estão desaparecidos.

A situação é catastrófica: há um mês, vivemos a maior tragédia climática da história do país, em um dia que nunca acaba, se repete e piora cada vez mais. Enchentes e rios tomaram cidades por completas, pontes foram abaixo, ruas tomadas por lama e lixo, móveis, casas e vidas destruídas. 

Apesar de sofrermos com alguns militantes perdendo suas casas e outros tendo de ser realocados, nós, do Coletivo Juntos!, temos vigorado na linha de frente da emergência humanitária há mais de 720 horas ininterruptas. Dessa forma, escrevemos este texto em tom de denúncia.

O Juntos! denuncia, desde sua origem, os efeitos sociais e ambientais das mudanças climáticas. Impulsionamos mobilizações contra a construção da Usina de Belo Monte, e, nos últimos meses, nos organizamos nos quatro cantos do país em acampamentos, que pautaram o ecossocialismo como necessidade. 

A crise climática escancara a pior face do capitalismo, mostrando um cenário em que as grandes empresas e as potências mundiais poluem, destroem e desmatam o meio ambiente; em contrapartida, quem sempre sofre com as enchentes nas cidades, com a poluição nos rios, os deslizamentos em morros, são as pessoas mais pobres e, sobretudo, as pessoas negras. 

O papel do Juntos e de uma nova alternativa à esquerda é colocar o debate do ecossocialismo com centralidade. A única forma de salvar o planeta é mudando o sistema.

No último período, a  política ambiental foi marcada pela extrema-direita e pelo negacionismo. No governo Bolsonaro, com Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente, a devastação na Amazônia  foi massiva, povos ribeirinhos e indígenas foram atacados e a legislação ambiental foi atropelada.

No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, com sua política neoliberal, apresentou diversas flexibilizações nas leis ambientais desde o começo do seu governo, em 2019. 

Após as enchentes do final do ano passado, o Governador tucano não priorizou a área ambiental, destinando apenas 0,2% do orçamento para o enfrentamento de situações de calamidade.

Em Porto Alegre, uma das cidades mais afetadas pelas enchentes, o prefeito Melo tem muita culpa na catástrofe. Documentos comprovam que a prefeitura já sabia das  falhas do modelo de segurança do Rio Guaiba. Na última enchente, ainda em 2023, várias comportas estavam enferrujadas e algumas casas de bomba já estavam – e permanecem – inoperantes. Mesmo assim, após 30 dias, Melo segue se atrapalhando e diversas comunidades da capital continuam debaixo d’água.

A UFRGS tem sido um polo de resistência, por meio de seus estudantes, técnicos e professores. Mas, infelizmente, a administração central e a reitoria sumiram no momento mais importante para a população local. O reitor sequer entrou em contato com o Ministério da Educação para buscar recursos, ao mesmo tempo em que aparece na RBS, da Rede Globo, para se promover.

O DCE da UFRGS está sendo um marco em Porto Alegre, numa gigante rede de solidariedade. Cumprindo o seu papel de movimento social, o DCE UFRGS vem entregando mais de 2 mil marmitas por refeição aos atingidos, além de ter entregue toneladas de cobertores e de roupas, colchões, brinquedos, materiais de limpeza e higiene. No entanto, sabemos que apenas a solidariedade ativa não encerra o problema. Se faz necessário construirmos a luta política nas ruas!

Na medida em que as empresas não contribuem e os Governos locais não cumprem sua função, Porto Alegre tem sido um polo de mobilização popular, não só com voluntários, mas também nos espaços de debate e organização. 

O Juntos foi parte ativa e construtora do Movimento de Atingidos pela Enchente, mobilizando os bairros e suas lideranças, as comunidades e a juventude, que se unem para cobrar a responsabilidade dos governos locais e do governo federal, reivindicar auxílio financeiro e alimentar às famílias e a limpeza e reconstrução de casas e bairros atingidos. Além disso, o Movimento se organiza para lutar por uma nova política de habitação e moradia às famílias e para fazer com que os ricos paguem pela crise!

Porto Alegre encontra-se com dezenas de milhares de pessoas em abrigos e centenas de milhares de pessoas em casas de amigos, colegas ou parentes. A população dos refugiados climáticos é gigantesca, mas o pior está por vir. Os próximos meses serão de maior dificuldade para a população atingida e de muita  reconstrução. É tarefa dos militantes anticapitalistas  pressionarem para que os governos e as entidades contribuam com a reconstrução social, das necessidades mais emergenciais até a reconstrução de casas e cidades. 

O Coletivo Juntos!, o DCE UFRGS e o Movimento dos Atingidos pelas Enchentes seguirão em mobilização permanente nas demandas urgentes e na pressão contra a política dos governos neoliberais, a fim de buscar justiça social.


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