Aumento dos próprios salários: nisso os deputados concordam!

Parlamentares aumentam o próprio salário em 62% e aceitam apenas 6% para o salário mínimo. Entre os vários absurdos que acontecem na vida política do nosso país, um dos que mais chamou a atenção da população neste começo de ano foi com certeza o aumento dos parlamentares. Esse “auto-aumento” seria engraçado se não fosse triste, […]

Bruno Magalhães 15 abr 2011, 00:05

Parlamentares aumentam o próprio salário em 62% e aceitam apenas 6% para o salário mínimo.

Entre os vários absurdos que acontecem na vida política do nosso país, um dos que mais chamou a atenção da população neste começo de ano foi com certeza o aumento dos parlamentares. Esse “auto-aumento” seria engraçado se não fosse triste, deputados federais aumentando enormemente o próprio salário enquanto aceitam um ínfimo reajuste no salário mínimo do trabalhador.

Um deputado federal, que antes ganhava R$16,5 mil, passou a ganhar R$26,7 mil depois desse reajuste. O reajuste do salário mínimo, recebido por grande parte dos brasileiros, irá de R$ 515 para R$ 545. Enquanto o aumento dos deputados foi de mais de R$ 10 mil, os trabalhadores receberão apenas R$ 30 a mais no salário. Essa disparidade revela um absurdo: os responsáveis pela definição dos salários dão 62% de aumento para si mesmos, e menos de 6% para os trabalhadores. Dez vezes menos!

O PSOL foi o único partido contra a proposta e no final somente 35 deputados de diversos partidos (num total de 513) votaram contra o aumento. As desculpas dos deputados foram as mais esdrúxulas. O deputado Aberlardo Camarinha (PSB/SP) se justificou dizendo: “O deputado não tem um padrão de vida comum, é padrinho de casamento, padrinho de formatura (…) Eu duvido quem consiga viver com um salário de 11, 12 mil reais!”

O que o deputado não lembra é a enorme quantidade de trabalhadores brasileiros que ganham salário mínimo e de outros tantos que recebem com base nele e sofrem com a flutuação de preços e a queda no poder de compra. Também parece não conhecer a situação precária dos serviços públicos no país, onde educação, saúde, segurança, moradia e vários outros direitos essenciais não são garantidos.

Esses fatos mostram algo interessante sobre a situação política do nosso país. O que explica partidos como PT e PSDB, que há poucos meses se atacavam raivosamente, votarem juntos e tranquilamente esses “reajustes” tão polêmicos? O Brasil está dominado por uma “partidocracia”, na qual os partidos deixaram suas idéias de lado e funcionam prioritariamente para desviar recursos do Estado de formas legais e ilegais em benefício próprio. PMDB, PR, PTB, PDT, PSB e vários outros participam de todos os governos, incrustados na administração pública, mantendo seus privilégios através do controle do dinheiro público. Assim controlam as licitações, os serviços públicos e até mesmo as eleições, priorizando obras eleitoreiras em seus redutos políticos e mantendo seu poder com uma cara “democrática”.

O pior é que essa corrupção é feita de forma escancarada, publicada e noticiada nos jornais como algo normal. Grupos de empresários financiam a maioria dos deputados eleitos já de olho na galinha dos ovos de ouro do governo, e assim que chegam lá a grande maioria dos nossos representantes começam a trabalhar não para o povo, mas para si e para quem os financiou. As recentes mudanças de governo não têm resolvido essa questão, o PT também sucumbiu a tentação e hoje tira boa parte de seu apoio de figuras como José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor.

Para mudar essa situação, somente através da participação e mobilização popular. Foi assim que os aumentos salariais abusivos foram barrados em 2006 e é somente assim que os sanguessugas do Estado serão desalojados. Sem demonstrações populares de indignação e revolta, como as que ocorrem hoje no mundo árabe, não mudaremos essa absurda realidade.


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