A juventude negra
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A juventude negra

A expansão do crime como tráfico de drogas nos grandes centros do país – entre eles: Rio de Janeiro e São Paulo – mostravam que na década de 70, a juventude perdida e sem causa, enxergava nas grandes quadrilhas de assalto a banco e a entrada ao trafico de drogas como uma nova alternativa para ter uma renda nos morros e nas favelas dessas cidades. Então essa juventude, já esquecida pelas esferas do poder e criminalizada pelas mídias, encontrou um caminho mais fácil para sair da miséria, entrando no crime dentro da sua comunidade.

Preto Michel 13 mar 2012, 15:34

*Preto Michel

A juventude negra, homens e mulheres, sempre à margem escondida em nosso país, e aparecendo, apenas, através de noticiários preconceituosos discriminatórios e tendenciosos por parte das grandes mídias televisivas e lidas. A expansão do crime como tráfico de drogas nos grandes centros do país – entre eles: Rio de Janeiro e São Paulo – mostravam que na década de 70, a juventude perdida e sem causa, enxergava nas grandes quadrilhas de assalto a banco e a entrada ao trafico de drogas como uma nova alternativa para ter uma renda nos morros e nas favelas dessas cidades. Então essa juventude, já esquecida pelas esferas do poder e criminalizada pelas mídias, encontrou um caminho mais fácil para sair da miséria, entrando no crime dentro da sua comunidade.

Felizmente apareceu a cultura hip hop no Brasil em meados dos anos 80, um ritmo que entrou no país através da dança, puxadas pelo grande sucesso dos grupos de funk norte Americanos, em especial James Brow. O funk foi a primeira inspiração para a cultura hip hop entrar no Brasil, jovens negros saíam de seus trabalhos e se encontravam na estação São Bento, no centro de São Paulo, e ali organizavam-se em grupos fazendo movimentos de danças, conversando sobre assuntos pertinentes sobre cultura e principalmente sobre seus problemas em suas comunidades como: o preconceito racial, violência policial e o grande consumo de drogas, entre elas: maconha e cocaína.

O movimento cresceu e além das pessoas que gostavam de música, apareciam por lá pichadores, cantores, poetas, militantes de partidos de esquerda e movimentos negros, a música e a dança davam o tom do movimento cultural que mais tarde ganharia o país com o nome de cultura hip hop.

No Pará não foi diferente, o hip hop chegou aqui anos depois – em meados dos anos 90 – quando algumas rádios da cidade (radio transamérica) começaram a tocar um ritmo de musica falado ou rimado. As músicas eram de um grupo de São Paulo que já tinha lançado dois discos, o grupo era conhecido como Racionais MCs. Assim vários jovens negros escutavam a música, mas não tinham conhecimento da tal cultura hip hop.

Três bairros, na época, se destacam pela grande concentração de jovens que se reuniam em um lugar específico para escutar a tal musica rimada. Estes bairros eram:Terra Firme, Guamá e Guanabara (área metropolitana de Belém), mas foi no bairro da terra firme que surgiu a primeira organização da cultura hip hop, a chamada NRP (Nação de Resistência Periférica) nesse momento a cultura hip hop já havia se estabelecido em quase todo país, tendo suas quatro linguagens artísticas: música (rap,) produção musical (DJ), arte plástica (grafite) e a dança (break dance) como os motivos para a aproximação desses jovens que, na sua maioria, eram e são negros.

Aqui em Belém o movimento hip hop foi capacitado e orientado pelo movimento negro, em especial o CEDENPA (Centro de Defesa e Estudo do negro no Pará), esse movimento fez com que todos os membros participantes estudassem, se informassem e se conscientizassem da importância de buscar nossas raízes africanas, entendendo nossa história, de como fomos trazidos para cá e como esse processo contribuiu para que hoje haja desigualdade social, preconceito e uma política de extermínio da juventude negra no Brasil.

Então, quando o movimento afirma que é negro, é porque todas as linguagens artísticas e toda a filosofia do movimento têm uma raiz chamada África, essa raiz é o horizonte para todas as nossas ações nas comunidades em que vivemos e atuamos.

*Preto Michel é militante do Juntos, faz parte do movimento Hip Hop e atual presidente da APACC (Associação Paraense em Apoio a Comunidades Carentes)


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