A Turquia também é aqui: entrevista com Serkan Özkan
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A Turquia também é aqui: entrevista com Serkan Özkan

Serkan Özkan é estudante da Universidade de Cukurova, em Adana, ao sul da Turquia, tem 25 anos, e participa ativamente das mobilizações pela derrubada do primeiro-ministro, Tayyip Erdogan

Sayuri Kubo 9 jun 2013, 22:17

Serkan Özkan é estudante da Universidade de Cukurova, em Adana, ao sul da Turquia, tem 25 anos, e participa ativamente das mobilizações pela derrubada do primeiro-ministro, Tayyip Erdogan

A Turquia está em chamas, as chamas da revolução por uma democracia real e pela liberdade do povo, há exatamente 9 dias. Desde 2011, vimos o povo árabe derrubar ditaduras com muita mobilização por parte do povo que sofre com a intensa repressão policial. Foi assim com a deposição de Ben Ali (Tunísia), Hosni Mubarak (Egito), e Muamar Kadafi (Líbia). Enquanto isso, em um processo muito mais longo e sangrento, seguem as mobilizações na Síria, contra Bassar al-Assad. Entretanto, o clima da Turquia é um pouco diverso, segundo Serkan Özkan. Jovens protestam contra a política do governo de cortar árvores, por exemplo, para a construção de um shopping center no Parque Gezi. Suas armas são apenas ideias e livros. Situação muito parecida com o que acontece no Brasil, da Amazônia, ao sul do país, como aconteceu em Porto Alegre, na última semana. Na Turquia, as mobilizações já duram 9 dias, com milhares de pessoas nas ruas, contra Erdogan.

431860_10151666372144743_45949320_n Para o Juntos, a Turquia é aqui. Essa realidade se manifesta durante os diversos protestos por um transporte público, de qualidade, contra o aumento da tarifa em diversas cidades do país, ou ainda na luta pela Educação Pública, moradia, entre tantas outras pautas. Que nossos irmãos e irmãs árabes sirvam de exemplo à juventude brasileira. Confira a entrevista:

Juntos: Você se organiza em algum grupo?
Serkan Özkan: Não, sou apenas um estudante universitário, da Universidade Cukurova, em Andana.

Juntos: A maioria das pessoas que estão participando das mobilizações são estudantes, ou há pessoas de todas as idades?
SO: Há pessoas de todas as idades. As mobilizações são muito pacíficas. Muitas vezes com crianças e também idosos.

Juntos: Como está a repressão policial?
SO: Em um primeiro momento, eles eram muito violentos, sim. Porém, agora, eles tentam nos convencer a não protestar. Porém, há muita pressão do governo para que a polícia ataque os manifestantes, então, ontem (8 de junho), em Ankara e Adana, eles atacaram alguns protestantes. Até agora 6 policiais cometeram suicídio, pois eles não querem fazem isso. Muitos deles dizem “cuidem de meu filho, para assegurar seu futuro”. Nossa luta não é contra eles, pois são trabalhadores também. Nossa luta é contra o governo.

Juntos: Como o Governo está reagindo?
SO: Eles são bem agressivos. Por exemplo, em um parque nacional chamado Gezi, em Istambul, o governo quer cortar árvores, para ganhar dinheiro de forma ilegal, pois na Turquia temos leis de preservação ao Meio Ambiente. Um grupo de pessoas se reuniu no Gezi de madrugada, para impedir o corte de árvores. A polícia apareceu de repente às 5 horas da manhã e começou a queimar as tendas, jogar gás de pimenta, sendo que 16 pessoas foram presas.

Juntos: Quais são os próximos passos das manifestações?
SO: Agora nós queremos que o governo seja deposto.

Juntos: Vocês tem alguma ideia de quem poderia assumir o governo, caso isso aconteça?
SO: Agora nós nem começamos a brigar de fato. Para ser honesto, nós não queremos brigar. Somos pacíficos. Mas não sei o que vai acontecer, porque 98% dos turcos são muçulmanos, e o governo é islâmico. Eles são muito fortes, mas nós temos os ideias de Mustafa Kemal Ataturk.

Juntos: O que você pode dizer sobre Ataturk?
SO: Ele é o criador da República da Turquia, nosso lider. Morreu em 1938.

Juntos: Vocês se chama de çapulers, o que isso significa?
SO: Çapulers significa assaltantes. O primeiro-ministro, Erdogan, nos chama de assaltantes, vândalos, ladrões. Nós estamos tentando mudar esse rumor. Então, começamos a chamar uns aos outros de “çapulcu”, em turco, e o mundo está reproduzindo em diversas línguas. Um exemplo de que não somos vândalos é que depois de todas as manifestações, nós fazemos mutirões de limpeza para deixar os parques e ruas limpos.

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Juntos: Você acha que o que ocorreu no Egito, Tunísia e Líbia é uma inspiração ao povo turco? De que forma?
SO: Na Líbia, Egito e Tunísia, eles não tem um sistema de eleições democráticas. Não têm liberdade para “pensar”. Aqui é diferente. Há pessoas laicas que estão protestando contra o governo islâmico. Todo mundo estava pensando, quando a primavera árabe ocorreu, que isso iria se espalhar para a Turquia, mas os eventos se espalharam de forma distinta, com paz e pela defesa da natureza.

971177_10151670313279743_1670064445_n Juntos: Como é a cobertura da mídia?
SO: É bem difícil. A mídia é pró-governo, e os repórteres que são a favor da mobilização estão sendo presos. Nós não podemos gravar vídeos livremente, pois a mídia é censurada. Estamos usando as redes sociais como Facebook e Twitter. Por isso, é tão importante vocês divulgarem notícias daqui. Isso irá contagiar o mundo, posso sentir.

Juntos: Se você pudesse descrever qual é o seu grande sonhos para a Turquia, qual seria?
SO: Bela pergunta! Estou sorrindo. Na verdade, nós não estamos tão mal para ter um sonho. O que eu quero dizer é nós estamos sendo forçados a isso, mas nos países árabes as pessoas estão lutando para mudar o país. Porém, aqui na Turquia, nós sempre quisemos viver com independência e liberdade. Está em nosso sangue. Eu não tenho sonhos, mas quero que o governo seja deposto.

* Sayuri Kubo é jornalista, fotógrafa e militante do Juntos! São Paulo


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