Chegou a vez do Brasil
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Chegou a vez do Brasil

As manifestações de rua da juventude brasileira foram o sinal mais evidente que estamos em um novo tempo. Depois das vitórias de Porto Alegre e Goiânia, a juventude paulistana desafiou a polícia, numa mobilização que se alastrou para dezenas de cidades.

994795_10151639640513605_266958155_n As manifestações de rua da juventude brasileira são um sinal evidente que estamos em um novo tempo. Depois das vitórias de Porto Alegre e Goiânia, a juventude paulistana desafiou a polícia, numa mobilização que se alastrou para dezenas de cidades. Na última semana tivemos 15 mil em São Paulo, 10 mil no Rio de Janeiro, 4 mil em Porto Alegre, além dos protestos em Niterói, Fortaleza, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Santarém, Natal, Sorocaba, entre outras. Para essa semana temos marcadas mais de cento e cinquenta manifestações por todo o país, de forma espontânea, e dezenas de manifestações em outros países, organizadas em solidariedade à nossa luta contra o aumento das passagens.

As manifestações contra o aumento expressam uma ampla gama de demandas reprimidas, a partir da juventude e do conjunto da população. Para além da luta pela redução da tarifa, a mobilização ganhou novas e decisivas pautas. A brutal repressão policial colocou na ordem o problema fundamental de que tipo de democracia que vivemos. O mundo conheceu as imagens terríveis da intervenção violenta da polícia, que transformou a cidade de São Paulo num cenário de guerra civil, na última quinta-feira. Isso não calou a juventude, que, de forma organizada e coesa, levantou a cabeça. Uma geração que mostrou que não tem medo. Uma geração que já mudou a forma de ser da juventude brasileira.

A matéria do jornal El País sobre o ato dos 15 mil em São Paulo é emblemática “Talvez o Brasil a partir de agora tenha que se acostumar com as manifestações de rua já tão conhecidas em outros países”. De fato, os últimos acontecimentos revelam que o Brasil é parte dos novos tempos, o tempo das ruas e das praças. Os grandiosos atos contra o aumento das passagens que explodem em várias cidades são a ponte que liga o Brasil à juventude indignada da Espanha, aos estudantes chilenos, às revoluções árabes e à jornada de lutas na Turquia. Cada um desses países tem pautas e objetivos peculiares. Todavia, o que os une é a indignação da juventude e do povo com os representantes da velha política, que governam a serviço dos ricos e poderosos. Os donos do poder empurram para o povo os custos da crise econômica mundial. A resposta vem das ruas!

No Brasil, a juventude mostrou seu poder nas ruas. A mobilização nacional colocou os governantes todos na defensiva. Isso gerou ataques oriundos da imprensa tradicional e do próprio Estado. Os grandes meios tentam de toda forma deslegitimar o movimento e as organizações que o constroem. Não poucas vezes os manifestantes foram chamados de “vândalos”, acusados de praticar violência gratuita. “Informações” como esta mostram que a grande mídia não mede esforços para defender os seus aliados de classe, cujos interesses são colocados em xeque quando milhares de jovens tomam as ruas para lutar por uma cidade diferente.

A maré virou. Se criou uma corrente de solidariedade impressionante: os alunos da medicina da USP vão montar um posto especial para atender os feridos; 4 mil advogados se dispuseram a trabalhar voluntariamente nas passeatas; a população está orientada a colocar uma peça branca na janela como forma de demonstrar apoio.

A maior parte da imprensa esconde o fato de que os confrontos físicos são causados pela repressão brutal da Polícia, que atinge inclusive jornalistas que fazem a cobertura dos atos. A PM tem infiltrado seus agentes no meio das manifestações, uma prática idêntica ao que faziam as forças de segurança da ditadura militar. Por vezes são flagrados, a exemplo do policial que quebrou os vidros de uma viatura no intuito de acusar o movimento de práticas de vandalismo. A prisão de pessoas que portavam vinagre (usado para amenizar os efeitos das bombas de gás) mostra o nível de estupidez e autoritarismo das forças de segurança do Governador Geraldo Alckmin.

As ações da PM do estado de São Paulo mostram que o autoritarismo e o desrespeito à livre manifestação não foram enterrados com o fim do regime militar. Em tempos de Comissão da Verdade, que busca jogar luz no nosso passado recente de 20 anos de Ditadura, é preciso também combater os traços autoritários que persistem em instituições como a Polícia Militar. As mesmas forças repressivas que mataram Vladimir Herzog estão agora empenhadas em atacar a juventude brasileira que tenta construir um novo futuro para nosso país. Contam agora com a colaboração de novos atores políticos, como o ministro da justiça José Eduardo Cardozo do PT, que colocou a Polícia Federal à disposição do Governo de São Paulo para combater a juventude paulistana. O mesmo Cardozo que enviou a Força Nacional para o estado do Pará, com o objetivo de reprimir a luta dos povos indígenas contra a construção de hidrelétricas nos Rios Xingu e Tapajós. No entanto, a força de vontade e o ímpeto de mudança dessa nova geração são imbatíveis! Nunca seremos contidos pelo aparato repressivo da velha e da nova direita.

Esses elementos da realidade nos mostram a necessidade de travar uma luta política mais ampla em defesa do direito democrático à livre manifestação. Temos que exigir a demissão do ministro Cardozo, cuja atuação tem servido somente para reprimir as lutas legítimas do povo brasileiro por direitos. Sem liberdade de expressão e de crítica às políticas governamentais, não há democracia verdadeira!

Hoje o dia vai transbordar. Serão milhões que, de alguma ou outra forma, estarão juntos com SP. Milhões que estão dispostos a seguir em frente. A geração anterior teve o grande mérito de derrotar a ditadura, conquistar uma série de direitos fundamentais e ampliar as conquistas do povo brasileiro. O que se verificou é que a imprensa e o aparalho repressivo seguem atuando contra o povo e as manifestações da sociedade. Temos que lutar para desmantelar este aparato repressivo. A dissolução da Polícia Militar, a publicação dos relatórios da ABIN e dos serviços secretos estaduais, a organização de um controle civil sobre as atitudes da polícia são parte da luta que começa a ser empreendida. Para garantir um novo patamar democrático e de nossos direitos, precisamos de uma VITÓRIA. A derrota do aumento das tarifas pode abrir esse caminho.

E aos herdeiros de Fleury, aqueles que torturam, espancam e prendem nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Hoje será uma maré humana para responder. Nas lutas, o amanhã será nosso e muito maior! A rua é nossa e vamos vencer!

São Paulo, 17 de Junho de 2013
GTN JUNTOS!


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