As vassouras nunca foram tão perigosas
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As vassouras nunca foram tão perigosas

A população e trabalhadores cariocas sabem que o problema do Rio de Janeiro não é a falta de recursos, mas sim a prioridade dos governos. Assim como o governo do estado, a prefeitura do Rio opta por beneficiar empresários e empreiteiros, enquanto as escolas públicas, hospitais e transportes passam por uma situação caótica.

Pedro He-Man e Thaís Coutinho 6 mar 2014, 11:00

*Por Pedro He-man e Thaís Coutinho

 Em pleno Carnaval carioca, mostrando o fluxo do ascenso político da luta de classes, a categoria dos Garis do Rio de Janeiro dá sua contribuição a mais uma etapa desse processo. A reivindicação de seus direitos mais básicos, como um salário digno, vale-alimentação compatível com a demanda de energia gasta em sua função e a mais que merecida hora extra para quem trabalhar nos domingos e feriados, é compreendida pela população carioca, que em apoio à greve não se incomoda em cair na Folia no meio de montanhas de lixo.

Com total autonomia, inclusive sobre o próprio sindicato, os garis cariocas deflagraram uma greve que já é histórica e que se manteve em pleno carnaval. Atualmente o piso salarial de um gari é de R$803,00 e o valor do vale-alimentação é de R$12,00 diários. A categoria reivindica aumento do salário para R$1.200 e vale à R$20 diário. O baixo salário dos garis mostra a contradição da cidade que esbanja recursos públicos nos megaeventos. A prefeitura do Rio, que em 2013 foi a cidade do Brasil a ter o maior gasto com carnaval (35 bilhões de reais), é a mesma que no Carnaval de 2014 se recusa a atender o aumento salarial reivindicado pelos garis.

Mas a população e trabalhadores cariocas sabem que o problema do Rio de Janeiro não é a falta de recursos, mas sim a prioridade dos governos. Assim como o governo do estado, a prefeitura do Rio opta por beneficiar empresários e empreiteiros, enquanto as escolas públicas, hospitais e transportes passam por uma situação caótica.  A greve dos garis é mais uma das respostas que a cidade do Rio tem dado, desde 2013, ao prefeito Eduardo Paes. As Jornadas de Junho que continuaram em 2013 com a maior greve da Educação que a cidade já teve, mostra que ainda tem muitos frutos a colher. A greve dos garis em pleno carnaval é mais um símbolo para este novo momento histórico em que estamos vivendo.

Os garis, defendendo os seus direitos e condições de vida digna, são um importante exemplo da força dos trabalhadores, que mais uma vez demonstram não se calar diante das ameaças de demissões e repressão do governo e criminalização do movimento grevista por parte da imprensa. Evidentemente, o terror promovido pela prefeitura, à Comlurb e até mesmo a própria Justiça do Trabalho, que configurou a greve como abusiva, causa certo receio em quem depende do salário para sobreviver. Contudo, o lixo se acumula cada vez mais nos cartões postais da cidade, fazendo com que a mídia, que antes dizia estar tudo sob controle, comece a reconhecer a força do movimento de greve. A greve dos garis mostra que nem mesmo no Carnaval iremos nos esquecer dos problemas da nossa cidade. As críticas aos governos que foram palavras de ordem em diversos blocos da cidade, tiveram sua expressão concretizada com a greve dos trabalhadores da Comlurb, que deixaram claro, em seus atos quais são as prioridades dos trabalhadores do Rio de Janeiro. Suas palavras de ordem sintetizam o desejo da maioria do povo carioca: “O prefeito quer fazer copa, nós queremos fazer compras!”

*Pedro He-man é estudante de história da FFP/UERJ e militante do Juntos!RJ.

**Thaís Coutinho é professora das redes municipal e estadual do Rio, diretora do SEPE/RJ e apoiadora do movimento Juntos


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