Juntas debate aborto e parto humanizado na UFRGS
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Juntas debate aborto e parto humanizado na UFRGS

Ainda que nossa presidente seja mulher, não houve nenhum avanço nessa pauta. No Uruguai a descriminalização, erradicou as mortes por aborto e diminuiu o número de casos da prática.

Fabiana Lontra 6 jul 2014, 14:05

Fabi Lontra

No dia 2 de Julho as Juntas! em conjunto com o J!Setorial Saúde organizaram a roda de conversa “Saúde Pública e Autonomia da Mulher – o Aborto e o Parto Humanizado”. Além desses temas, foram debatidos também os métodos contraceptivos e as consequências do aborto inseguro. Todos esses temas são frequentemente marginalizados e pouco discutidos entre as próprias mulheres, que muitas vezes têm complicações de saúde por não obterem as informações necessárias no SUS ou mesmo em consultórios ginecológicos particulares. 


No Brasil, a cada dois dias uma mulher morre por ter realizado um aborto inseguro. A maioria é negra e pobre, pois quando mulheres ricas optam por interromper a gravidez, podem pagar por um procedimento seguro em clínicas clandestinas. O aborto da mulher pobre é feito com agulhas de tricô, chás, em clínicas de garagem e, se não leva à morte, pode gerar sérias infecções e acabar com a fertilidade da mulher. juntasufrgs


Não podemos mais olhar para a saúde das mulheres apenas quando estãojuntasufrgs2 gestantes. A bancada fundamentalista hipócrita colabora com o número de mortes maternas quando ignora o Estado Laico e barra qualquer discussão sobre aborto nas esferas políticas. Ainda que nossa presidente seja mulher, não houve nenhum avanço nessa pauta – e o Estatuto do Nascituro mostra que houve, inclusive, um retrocesso. Enquanto isso, o Uruguai mostra o caminho com a descriminalização, que erradicou as mortes por aborto e até mesmo o número de casos da prática.juntasufrgs3


Um fator importante que explica o número de abortos no Brasil é a falta de educação sexual e políticas de contracepção no SUS. A maioria das mulheres pobres e marginalizadas desconhece as opções de proteção – que no sistema público são poucas – , o que resulta em filhos indesejados, o já mencionado aborto inseguro e a disseminação de DSTs, principalmente a AIDS, que tem se espalhado de forma vertiginosa nas periferias.


Caso a mulher deseje ter seu filho, a hora do parto também pode ser difícil e opressora: a violência obstétrica, a lógica de linha de produção e economia de tempo nos hospitais pode tornar um momento especial em um trauma. A autonomia da mulher é ferida quando lhe fazem episiotomias* e outros diversos procedimentos desnecessários sem consultá-la, seguindo o ciclo de sonegação de informações que, muitas vezes, começa no pré-natal.

A mulher deve decidir se quer e como quer ter seu filho. Por isso esses debates são tão necessários tanto na esfera do feminismo quanto na das políticas públicas. O corpo é nosso!

– Episiotomia: Corte feito no períneo na hora do parto que deixa cicatrizes, até mesmo alterações estruturais permanentes. É feito de forma compulsória e, dependendo do caso, sem necessidade por médicos que, muitas vezes, sequer comunicam à mulher que o procedimento será feito.

* Fabi Lontra é estudante de letras na UFRGS, da Juntas e do GTE-RS


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