Entrevista com moradora e manifestante de Itu sobre a crise da água
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Entrevista com moradora e manifestante de Itu sobre a crise da água

Nossa correspondente especial do Juntos em ITU, Giulia Tadini, entrevistou uma das moradores da cidade e membro da comunicação do movimento “Itu Vai Parar”. Confira a entrevista, com Mônica Seixas.

Mônica Seixas 22 out 2014, 11:55

Nossa correspondente especial do Juntos em ITU, Giulia Tadini, entrevistou uma das moradores da cidade e membro da comunicação do movimento “Itu Vai Parar”. Confira a entrevista, com Mônica Seixas*.


Juntos: Há quanto tempo Itu está com racionamento? Desde quanto a cidade enfrenta problemas com a distribuição da água?

Monica Seixas: Itu tem um histórico de racionamento de água. Há pelo menos vinte anos a questão vem se agravando. Anualmente enfrentamos racionamento nos meses de estiagem e alguns pontos de alagamentos em meses de chuva.

J: De onde vem a água? Quem gere a água na cidade?

M: Primeiro é preciso entender que aqui não é Sabesp. Aqui, o serviço de água e esgoto é privatizado (sem participação do poder público). A concessionária se chama Águas de Itu e está no serviço há 9 anos. A concessão se deu justamente por conta da promessa de acabar com o problema da água na cidade. Os últimos dados oficiais que temos datam da época da concessão, quando a prefeitura justificou a necessidade de abrir mão do serviço.

J: Qual é a causa da crise da água em Itu?

M: Na época em Itu se falou em investimentos em reservação. Nossos córregos estavam assoreados. Armazenavam pouca água. Quando não chovia, secava, quando chove, transborda. E também revelam que nos tínhamos um dos maiores índices de perda de água tratada do estado. 38% do que se joga na rede, se perde por vazamentos na rede. Nossa tubulação é tão velha e tão danificada, que não é raro a recebermos água barrenta nas torneiras. Vale ressaltar que itu está geograficamente inserida na região de Sorocaba. Chove aqui o mesmo que nas cidades vizinhas. Mas aqui sempre faltou água. Esse ano, a estiagem pegou o estado todo. Mas nessas condições, já que não houve o investimento, sofremos primeiro.

J: Em que bairros a situação está mais grave?

M: Em setembro de 2013 já se noticiava os longos cortes no abastecimento pela imprensa. Os bairros mais alto da cidade ficavam até 5 dias sem receber água. A prefeitura daqui sempre negou o problema. A cada denúncia uma desculpa. Até que em fevereiro desse ano se anunciou oficialmente o racionamento. Receberíamos água a cada 48h. De lá pra cá o racionamento nunca foi cumprido. Os bairros mais altos já estão há 15 dias sem água. Há famílias que ficam meses sem receber uma gota de água. Quanto mais alto o bairro, com menos frequência a água chega. Nove meses de angústia. Sem sabermos quando será a próxima vez que a água chega. Em junho, oficialmente nossas represas secaram. Itu não tem mais água. Quando soubemos acabou. A água que recebemos, a concessionária compra das cidades vizinhas e injeta na rede, ou distribui com caminhão pipa.

J: Como se organiza o movimento na cidade?

M: Hoje, o Itu Vai Parar e o Itu Pede Socorro são dois movimentos supra partidários que pautam a discussão da água em Itu. Ambos defendem o fim da concessão, a participação popular na gestão da água e o fim do lucro na sua gestão. O Itu pede Socorro pede a intervenção do estado aqui. E eles aceitam outra empresa. Nós do Itu Vai Parar queremos que o serviço volte a ser público.

J: Como vem reagindo a prefeitura? Há muita repressão policial?

M: A repressão aqui é gigante. Os atos eram super pacíficos no começo. Mas a polícia e principalmente a guarda municipal batem forte. E a prefeitura não dialoga. A raiva aumenta quando o tempo passa, o prefeito some e a água nada. No dia 29 de setembro, em um ato em frente a prefeitura. Um dos nossos (de Itu Vai Parar) foi preso. Ele ateou fogo numa caçamba de lixo. A polícia gritou. Ele até se entregou. Virou para os policiais e disse: “Vamos conversar”. Conversar? Ele apanhou muito e na frente de todo mundo. Temos vídeos na fan page. Na cadeia apanhou mais. Considero tortura o que fizeram com ele. Arrancaram seus piercings com alicate. Mandavam ele “chorar como mocinha”. Pagamos a fiança e ele responde em liberdade.

J: Qual é a reação da população a esta situação? (como se organiza, em que locais, que tipo de ações)

M: De lá pra cá a gente entendeu que não tem conversa com o poder público. Agora o movimento ficou no espontaneísmo mesmo. Todos os dias, um grupo pequeno se reúne em algum bairro e…fogo! Na segunda foram 4 atos simultaneamente. Já contabilizei 12 presos (todos já soltos depois de fianças). É isso, gente. Ainda sem manifestação do poder público. Sem resposta. E com o povo cada dia mais irritado. E a toda hora: fogo! Tem mais fogo que água por aqui. Nove dias frenéticos. Com atos diários. Às vezes vários no mesmo dia. Mas ituano não quebra nada. Fogo aqui só em lixeira (o serviço também é terceirizado e precário) e em pneus.

J: Quais são as reivindicações do movimento?

M: Em princípio a população se uniu em torno do pedido do decreto de calamidade pública. Porque é a única alternativa para obtermos água. A prefeitura se recusa. Entendemos, ao logo das tentativas de diálogo com a prefeitura, que o problema era maior. Precisamos pedir transparência. E percebemos o protecionismo a empresa concessionária. Em caso de calamidade pública cancela-se a concessão. Então a pauta foi se formando a medida que as pessoas foram se aglomerando.

J: Quais são os próximos passos?

M: Agora. Estamos formando o conselho informal da água. Estamos fiscalizando por conta a entrega da água e estudando o problema, além de realizarmos plantios coletivos, a fim de refazer nossas matas ciliares. Também estamos mapeando e ocupando poços artesianos. E tem o encontro estadual da água nascendo. E a gente espera a ajuda de todos vocês.

*Monica Seixas é do PSOL Itu e da comunicação do movimento “Itu Vai Parar”.


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