Da Faculdade de Medicina para toda USP: vamos barrar o machismo!
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Da Faculdade de Medicina para toda USP: vamos barrar o machismo!

Esses casos também não são exclusivos à FMUSP: há muitos cursos em que vigora a cultura de trotes e festas machistas. Mas o feminismo cresce na USP.

Maria Luiza Perroni 23 nov 2014, 21:46

*Por Maria Luiza Perroni

Os casos de violência física, sexual, ou verbal às mulheres na USP são diários, numerosos e, tratados pela Instituição Universitária como algo naturalizado. No entanto, as discussões sobre o machismo, assim como sobre o racismo e LGBTfobia, tem se ampliado e gerado debates muito qualificados, tendo por finalidade a conscientização e, por consequência, a desconstrução dessas práticas opressoras. As Universidades têm sido espaço privilegiado para formulação e organização de estudantes no combate às opressões e grande parte das estudantes tem contato com a pauta e com coletivos feministas em seus cursos.

Tem circulado pela mídia acontecimentos de casos extremos de violência sexual dentro da Universidade e, mais fortemente, dentro da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), onde há relatos de diversos tipos de assédios e casos de estupro. A opressão machista já se mostra presente e enraizada desde os primeiros dias das calouras no curso. Elas contam que nas atividades de recepção elas contam são obrigadas a participarem de “brincadeiras” constrangedoras, de festas nas quais são assediadas e abusadas. Isso é muito comum na FMUSP. O que não é comum, pelo menos até um tempo atrás, eram denúncias terem ganhado corpo e serem noticiadas. Não o são por que na maioria das vezes esses tipos de casos são criados e incentivados pelas próprias instituições presentes na faculdade, tais como a Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC), que tem o costume de promover festas nas quais as mulheres são vistas como objetos à disposição.
Algumas alunas relatam que suas bebidas foram alteradas, e que só voltaram a ficar conscientes quando já se encontravam no hospital. Outras dizem que foram obrigadas a irem para determinados locais e, mesmo dizendo, insistentemente, aos gritos que não queriam ter relações sexuais, não foram respeitadas.
Poucas tiveram a coragem de denunciar, por que além de serem ridicularizadas pelos colegas de curso, a Universidade não oferece nenhum tipo de apoio e preparo para lidar com os casos, dizendo até que as denúncias sobre as violências sexuais mancham o nome da faculdade.

Esses casos não são isolados, são diários, e só demonstram o quanto a opressão machista é enraizada, institucionalizada e que, em certa medida, recebe o aval da Universidade.

No final do ano de 2013 as mulheres do curso de medicina criaram o Coletivo Feminista Geni para tentar barrar estes casos absurdos e dar suporte às vítimas, que na maioria das vezes são sentenciadas como culpadas pelo próprio assédio sofrido. Grande parte das denúncias partem do Coletivo, que além de denunciarem os agressores, mostram como a Universidade é conivente com tais casos, uma vez que ela não se posiciona sobre os ocorridos, recusando-se a procurar e punir os agressores, querendo varrer os escândalos para debaixo do tapete. Agindo de tal forma, a faculdade classifica essas agressões como naturais, e colabora para a perpetuação dessas violências. A USP tem locais desertos totalmente mal iluminados, com uma guarda universitária que fica restrita somente em alguns pontos, e que se mostra despreparada para lidar com os casos de violência, o hospital universitário não tem nem um tipo de acolhimento especial às mulheres vítimas de violência, trotes e festas que perpetuam a cultura machista.

Em meio a tanto horror, a auto organização das mulheres cresce na FMUSP e em outras faculdades, para coibir e por fim extinguir essa cultura que desrespeita as mulheres, que as oprimem, e as veem como mero objeto sexual. Com a ampliação do movimento feminista, muitas mulheres se sentem mais seguras e confiantes para denunciarem, visto que terão o mínimo de apoio e suporte. Essa agitação do movimento também é importante para causar pressão à Universidade que, somente agora, depois das denúncias serem muito noticiadas, resolveu criar um questionário online para mapear os casos de violência e racismo na USP.

É preciso que se tenha medidas mais enérgicas e eficazes para combater todas essas opressões, que tornam o espaço da Universidade muito constrangedor para as minorias. Na FMUSP, é preciso que a USP deixa de se silenciar e compactuar com os casos de assédio e estupro, apoie as estudantes e puna os responsáveis.

Esses casos também não são exclusivos à FMUSP: há muitos cursos em que vigora a cultura de trotes e festas machistas. Mas o feminismo cresce na USP. É preciso estimular que em todos os cursos sejam organizados coletivos feministas para que mais mulheres se sintam imponderadas e amparadas para denunciarem o machismo e cobrar a responsabilidade da USP, a exemplo do que vem acontecendo na Faculdade de Medicina, para que consigamos avançar ainda mais. O último Encontro de Mulheres Estudantes foi muito amplo e forte e encaminhou várias resoluções importantes, como a campanha “Chega de violência contra a mulher, Por uma Universidade Feminista!”. No próximo dia 25, dia internacional de combate à violência contra a mulher, acontecerá um ato na Faculdade de Medicina como lançamento da campanha e do abaixo-assinado cobrando medidas da Reitoria que combatam a violência contra a mulher. O feminismo cresce e vamos vencer o machismo na USP!

*Maria Luiza Perroni é estudante de Geografia da USP e militante do Juntos!


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