Sobre hiperssexualização dos nossos corpos
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Sobre hiperssexualização dos nossos corpos

Se para muitos ainda somos a “mulata tipo exportação” eu digo que somos mulheres negras, fortes e protagonistas do nosso próprio querer, do nosso próprio destino.

Kassiele Nascimento 16 fev 2015, 20:09

Kassiele Nascimento

Em tempos de carnaval, Globeleza e Sexo e as Nega, os dois últimos programas que reforçam estereótipos racistas  e machistas sobre nós, mulheres negras, é inevitável discutir a hiperssexualização dos nossos corpos sem que o debate esteja atrelado à nossa representação na sociedade brasileira.

No período escravagista no Brasil, nossas ancestrais eram, constantemente, estupradas pelos seus senhores e induzidas a acreditar que serviam apenas para o sexo. O reflexo disso hoje é o entendimento social do que é a mulher negra, sempre associado a uma visão racista, machista e exotificada. Historicamente, temos lidado com um não lugar- muito bem definido- que nos é imposto: sempre entre a exploração, subserviência e animalização dos nossos corpos.

Nos poucos espaços midiáticos que retratam a mulher negra, seguimos sendo vistas como a mulata do samba, a mulher fogosa e da “cor do pecado” ou a empregada doméstica. Isto é, somos anuladas enquanto sujeitos ao passo que nossas pluralidades de vivências e capacidades são reduzidas a um corpo e a serviço do homem branco. Essas concepções nos violentam enquanto mulheres e de nada colaboram na nossa emancipação.

Durante o carnaval, uma festa tradicional do povo negro, embora atualmente passe por um processo de embranquecimento e comercialização, todas essas questões se intensificam. Enquanto vamos aos blocos, aos desfiles das escolas para nos divertir também temos de enfrentar sem hesitar a explicita objetificação de nossos corpos e apagamento de nossa identidade. Seja ouvindo de estranhos “samba pra mim, moreninha”(essa eu já ouvi) ou até ser questionada por qual razão não quer ficar determinada pessoa, afinal, estamos ali pra isso, não é mesmo?

Saibam que não. Se para muitos ainda somos a “mulata tipo exportação” eu digo que somos mulheres negras, fortes e protagonistas do nosso próprio querer, do nosso próprio destino.

Kassiele Nascimento, militante do Juntos RS , Coordenadora de Negras Negros DCE UFRGS- Gestão Podemos 2015 e Coordenadora Geral do Diretório Acadêmico da Comunicação/UFRGS

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