Em pleno 8 de Março, o discurso de Dilma é um ataque às mulheres
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Em pleno 8 de Março, o discurso de Dilma é um ataque às mulheres

É uma afronta às mulheres em luta se utilizar do oito de março para reafirmar o pacote de ajustes e jogar a responsabilidade da crise sobre as costas e os bolsos dos trabalhadores e trabalhadoras.

Sâmia Bomfim 9 mar 2015, 16:22

Sâmia Bomfim

Fiquei curiosa quando vi que a Dilma apareceria com um pronunciamento em Rede Nacional em pleno Oito de Março. Será que ela dialogaria com algumas das demandas e necessidades das mulheres levantadas nas ruas de todo país? Na verdade, foi difícil escutar seu pronunciamento: em alguns bairros de São Paulo pessoas saíram nas sacadas para protestar contra seu discurso. Não sei qual política essas pessoas defendiam, mas foi bastante lamentável ouvir tantos xingamentos machistas em pleno Dia das Mulheres. A crítica à presidenta Dilma não deve passar por aí. O machismo não é um método considerável para se expressar a indignação. Ainda temos muito o que lutar.

Mais tarde, no youtube, pude assistir ao discurso completo. Bastaram alguns segundos para ver que de fato Dilma direcionou seu discurso às mulheres brasileiras. Mas nem de longe seu discurso buscou qualquer diálogo com nenhuma das demandas levantadas pelas mulheres nas ruas neste oito de março. Ao contrário, o discurso de Dilma foi no sentido de aprofundar a política que denunciamos hoje nas ruas – de cortes de verbas em áreas sociais, retirada de direitos das trabalhadoras e nenhuma perspectiva de avançar ou criar políticas que sirvam para dar dignidade e segurança para as brasileiras.

É verdade que, como disse Dilma em seu discurso, “ninguém melhor do que uma mãe, uma trabalhadora, uma empresária, é capaz de sentir em profundidade um momento que um país vive”. De fato o machismo faz as mulheres sentirem com muito mais profundidade os problemas sociais e econômicos do país. O desemprego afeta especialmente as mulheres, setor que também mais ocupa os postos precários de trabalho. O aumento de tempo de contribuição para o acesso ao seguro desemprego e as pensões também têm mais impacto sobre as mulheres, que têm maior rotatividade no mercado de trabalho. Os cortes na Educação prejudica as mulheres estudantes, que têm mais dificuldade para entrarem e permanecerem nas Universidades em função da dupla jornada de trabalho e da construção social que priva as mulheres do acesso aos espaços de poder e formação. Os cortes de verbas em áreas sociais para manter os privilégios da elite também revela a falta de disposição deste governo em investir em políticas de combate a violência contra a mulher. Seu compromisso para “salvar a economia” revela que sua política é voltada para aqueles que exploram e oprimem as brasileiras.

Na verdade, é uma afronta às mulheres em luta se utilizar do oito de março para reafirmar o pacote de ajustes e jogar a responsabilidade da crise sobre as costas e os bolsos dos trabalhadores e trabalhadoras. Isso só reafirma que a mobilização das mulheres e do povo na rua são uma necessidade cotidiana para que se arranque conquistas nesse governo. Muitas companheiras presentes no ato de hoje apresentavam em seu discurso algum tipo de esperança de que esse governo pode ser nosso aliado nesse cenário político. Depois desse discurso de Dilma, acredito que fica claro que o caminho para a saída da crise política e econômica e para a melhoria da vida das mulheres é lutar por mais direitos, contra os cortes, por uma saída à esquerda para a crise. E, nisso, infelizmente, Dilma está entre nossos inimigos.

 Sâmia Bomfim é militante do Juntas! 

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