Versões sobre os indignados de domingo
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Versões sobre os indignados de domingo

A justeza da ampla indignação não deve significar a condescendência com o conservadorismo dessa parcela, assim como o rechaço a esses mesmos não deve ser extensível a todos que se indignam com a corrupção do governo.

Felipe Ultramari Moreira 17 mar 2015, 21:38

Felipe Moreira

No último domingo foi às ruas a parcela mais conservadora e elitista do amplo espectro de pessoas que avalia o governo Dilma como ruim ou péssimo. A justeza da ampla indignação não deve significar a condescendência com o conservadorismo dessa parcela, assim como o rechaço a esses mesmos não deve ser extensível a todos que se indignam com a corrupção do governo. Esses me parecem aspectos essenciais dos quais partir.

A mídia, que operou desde a convocação do ato, tenta impor ao todo a marca da parte. A suposição por trás da narrativa construída para os atos é de que o povo foi às ruas no último domingo. A caracterização generalista busca diluir a marca de classe e ideológica e na diluição simular que todos insatisfeitos estão representados. A pesquisa do Datafolha mostra que a avaliação negativa do governo cresceu em todas as classes sociais, regiões, faixas de renda e de idade. Notemos também que importantes marcas dos insatisfeitos que foram às ruas em junho estiveram ausentes no domingo, o rechaço à Globo e à Polícia Militar.

A esquerda governista opera em dois sentidos. Busca reduzir numericamente e ideologicamente os insatisfeitos aos que foram às ruas domingo. Se movem por cinismo e alienação. Mesmo os que foram as ruas no último dia 13, nos atos convocados pelo MST, CUT e UNE, não estavam absolutamente satisfeitos com o governo. Isso entre seus apoiadores. Supor que a oposição ao governo, em menor ou maior grau, se reduz às centenas de milhares que protestaram no 15, numericamente e ideologicamente, é um delírio. Os dados mostram o contrário. Nem são todos como os que foram às ruas domingo ou mesmo apenas centenas de milhares. A história está tirando a prova.

Não me parece que a oposição ao governo se confunda com afagos ou gestos à sua parcela mais conservadora e elitista ou que o combate às suas posições signifique a condescendência com o governo. A juventude de junho não foi às ruas. As universidades federais estão numa brutal crise. O FIES foi cortado e/ou restringido. As greves crescem em número e expressão. O Paraná é o estandarte de outro rumo. A insatisfação cresce e há algo a acontecer. A mídia e a elite tentam aprisionar o processo político ao circulo de ferro que dominou a política nas últimas décadas. O circulo se move, aqueles nele trocam de posição, mas quem está dentro segue dentro e quem está fora segue fora. É o tempo de se livrar da casta e deixar que apodreçam abraçados, cobertos pelos seus delírios de controle. Há uma saída à esquerda.

Felipe Moreira é sociólogo e militante do Juntos!


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