Diálogo de um Bárbaro
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Diálogo de um Bárbaro

Nessa quinta-feira, 28, o reitor da UERJ provou o que dissera em sua própria nota. Não há diálogo com a barbárie.

Theo Louzada Lobato 1 jun 2015, 15:55

“Não há diálogo com a barbárie, ‘o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons’” (Martin Luther King). Assim começa, contraditoriamente, a talvez mais repudiável nota de um reitor (Ricardo Vieralves) na história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, capaz de ilustrar a política de repressão estrutural e direta que tem sido recorrente numa universidade que se mostra, a cada dia, ser uma das mais antidemocráticas do país.

Os acontecimentos do dia 28/05 não podem ser entendidos sozinhos. A última assembleia geral dos estudantes, puxada pela oposição ao atual DCE, conseguiu fazer uma paralisação –completa ou parcial – de diversos cursos entre os dias 20 e 28 de maio, e as intervenções, assembleias de cursos e mobilizações estavam ocorrendo diariamente nesse meio tempo. Na sexta-feira passada (dia 22), por conta da organização de uma ocupação no Conselho Universitário, Vieralves mostrou sua face antidemocrática e suspendeu as aulas em todos os campi.

Para o dia 28 estava marcada uma segunda assembleia geral dos estudantes, na qual a discussão acerca da greve dos discentes parecia inevitável. A data, porém, acabou coincidindo com uma remoção na Favela do Metrô – comunidade próxima à UERJ –, e a necessidade imediata da presença estudantil para impedir que mais moradores ficassem sem casa acabou se sobrepondo àquela reunião.

Fomos para a porta da favela tentar compor um ato com os moradores, mas em poucos minutos fomos brutalmente reprimidos por um batalhão de choque que correu para cima dos manifestantes, agredindo a todos que estivessem em sua frente. O ato se dispersou, mas conseguiu se encontrar na porta da Universidade onde tentamos nos recompor, agora para parar a rua São Francisco Xavier – em frente ao portão principal.

A cena seguinte foi ainda mais chocante. Antes mesmo de chegarmos todos na rua, um confronto físico entre um policial e um manifestante terminou com um policial sacando seu revolver e apontando para a manifestação. Corri quase ao mesmo tempo em que escutei o tiro. Houve relatos de que ele havia atirado para o alto e, também, para cima. No entanto, o certo é que logo depois fomos recebidos a jato d’água pelos seguranças e por bombas de efeito moral pela polícia. Importante deixar claro que esse cenário de guerra se deu dentro da universidade enquanto tentávamos nos proteger.

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O confronto entre alguns manifestantes e os seguranças ficou ainda mais intenso com a depredação física da universidade e a agressão física praticada contra diversos estudantes, alguns dos quais tiveram de ser socorridos ao hospital. Válido ressaltar o caso do estudante de geografia, Rafael, que fora carregado para dentro do prédio principal, espancado e posto em cárcere privado, sendo solto após uma árdua negociação. O massacre institucional durou horas, terminando depois de negociações para que se cessassem os jatos d’água e para que os estudantes abrigados no prédio pudessem descer.

Nessa quinta-feira, 28, o reitor provou o que dissera em sua própria nota. Não há diálogo com a barbárie. “A associação perigosa entre membros da UERJ e pessoas estranhas a nossa comunidade” realmente existe – se trata de uma reitoria antidemocrática, em conjunto com um Governo Estadual com as mesmas características que pôde mostrar qual é a resposta para aqueles que não concordam com as barbaridades cometidas não só na UERJ, mas também na Favela do Metrô. A falta de democracia, o abuso de autoridade e a opressão estrutural tem de ser combatido em conjunto: o diálogo que não será feito com o bárbaro, precisa ser feito com os moradores da Favela do Metrô e da Mangueira. Temos de canalizar nossas energias a fim de construir uma universidade verdadeiramente popular. Assim, certamente, estes “membros indignos” – que fazem ser o que é, atualmente, a maior estadual do Rio de Janeiro – não poderão passar

Theo Louzada Lobato é estudante da UERJ e militante do Juntos! RJ


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