O reconhecimento da mulher no cinema (e na vida) incomoda muito homem
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O reconhecimento da mulher no cinema (e na vida) incomoda muito homem

A exibição do filme Que Horas ela Volta? de Anna Muylert, sobre o protagonismo feminino, acaba sendo interrompido por um show de machismo de Cláudio Assis e Lírio Ferreira

Maria Augusta Brandão 31 ago 2015, 15:14

Na noite (29/08) de exibição do filme Que Horas Ela Volta? da cineasta Anna Muylaert, dois homens aparentemente bêbados roubam a cena de Anna e de seu trabalho.

Cena do filme "Que Horas ela Volta?"

Cena do filme “Que Horas ela Volta?”

O filme, que tem Regina Casé como protagonista, já é vencedor de dois prêmios, do festival de Sundance e de FilmFestspiele Berlim, e está cotado para concorrer ao Oscar, retrata o protagonismo feminino de uma mulher pobre e trabalhadora.

Os cineastas Pernambucanos Cláudio Assis e Lírio Ferreira entraram no Cinema do Museu bêbados e logo no início do encontro, Cláudio Assis não deixou Anna sentar na cadeira do palco. “Lírio estava gritando que o filme era maravilhoso. Quando alguém tentava fazer uma pergunta para Anna, ele interrompia. Claudio Assis chamou Regina Casé de gorda e o maquiador do filme de bichona”, relatou o cineasta Felipe André Silva, que estava presente na ocasião.

A mulher nunca teve espaço no cinema pernambucano, ou melhor dizendo, no cinema brasileiro. São sempre homens que realizam, produzem e são reconhecidos pelos melhores filmes brasileiros já feitos. Sempre quando uma mulher brilha mais que o homem em algum momento, ele sente seu ego ferido e acha que precisa reagir, porque por algum “milagre”, nessa vida e sociedade onde os homens reinam, a mulher está sendo reconhecida pelo seu trabalho. Porque por alguns minutos, não é ele, o homem, que está no pedestal.

A questão posta é que, mesmo que Cláudio Assis e Lírio sejam cineastas reconhecidos, premiados e nomeados regionalmente e nacionalmente, mesmo que os dois estivessem bêbados, mesmo que o cenário do cinema brasileiro seja total reprodução da nossa sociedade machista e não dê espaço para a mulher, mesmo que as pessoas e notícias nos jornais tentem naturalizar este ocorrido, nada disso justifica a opressão que aconteceu naquele sábado a noite. Nada, nada mesmo, justificará o manterrupting, a gordofobia e a homofobia.

Manterrupting, é quando um homem insiste em interromper a fala de uma mulher. É um comportamento muito comum em reuniões e palestras, quando uma mulher não consegue concluir sua frase porque é constantemente interrompida pelos homens ao redor. Essa é uma forma de diminuir, inferiorizar e intimidar a mulher, tirando seu poder de fala.

Aquela noite de estréia foi marcada por muitas agressões simbólicas e verbais. Não podemos deixar que essa cena se repita. Não nos silenciaremos. Quanto mais as mulheres ocuparem os espaços na sociedade, e quanto mais se posicionarem e repudiarem esses comportamentos, mais nós avançaremos.


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