SOMOS TODAS VALÉRIA! Chega de transfobia!
valeria

SOMOS TODAS VALÉRIA! Chega de transfobia!

Mais uma vez, vemos uma mulher transexual ser agredida e humilhada. Não podemos e não iremos nos calar diante disso, junte-se a nós no ato do dia 6.

Ângelo Messias 5 set 2015, 12:39

*Ângelo Messias é Transviada e militante do Juntos! LGBT

Luiza. Andréia. Verônica. Laura.

Esses são os nomes de algumas mulheres trans e travestis que foram agredidas e até mortas no Brasil este ano. E, no último domingo, mais um nome se juntou a esses: Valéria.

Valéria Houston. Cantora. Negra. Mulher. Transexual. Agredida covardemente na Rua da República, em Porto Alegre/RS, no meio da tarde.

É doloroso pensar nisso, é doloroso falar nisso. Se ser LGB é ter um alvo pintado nas costas, ser da população T é ter um alvo ainda maior.

A agressão ocorreu em torno das 16:00h em uma rua movimentada e conhecida na capital como LGBT friendly. Apesar do grande número de pessoas que transitavam pela rua e presenciaram o ataque, ninguém socorreu Valéria e seu companheiro. Ninguém!

Valéria foi agredida, humilhada, e seu companheiro, na tentativa de defendê-la, foi igualmente atacado. Por que ninguém se mexeu pra socorrê-los?

É um fato para pessoa trans: o mundo nos vê como animais, não como seres humanos. Ou até menos que animais, por que o cachorro que leva um chute é socorrido. Quando uma travesti ou mulher trans é agredida, vira motivo de chacota, e depois a agridem mais uma vez, se referindo a ela no masculino. É uma realidade que sentimos na pele, e ainda ouvimos que “tem que agüentar o que escolheu” – como se identidade de gênero fosse uma escolha, ou ainda que fosse, que isso isentasse alguém de nos respeitar .

Não bastasse termos nosso gênero diuturnamente desrespeitado com os mais diversos discursos de ódio, ainda somos violentados e violentadas fisicamente. O Brasil lidera o ranking dos países que mais matam a população T no mundo. Mata mais que dobro do segundo colocado, o México. O CIStema nos mata todo dia!

O mesmo CIStema que nos desrespeita e impede que sejamos chamadas pelo nome que escolhemos; que nos priva do direito que qualquer cidadão cis tem: de usar banheiros fora de casa; que nos expulsa dos bancos das escolas – quando não aceitamos suprimir nossa identidade de gênero -; e que nos nega acesso a empregos e nos empurra à prostituição compulsória.

As agressões que sofremos estão em todos os lugares. Estão desde quando levantam o queixo e nos olham de cima a baixo e dizem: “Desculpe senhora, mas aqui no seu RG diz Sandra, não Márcio.”, “Ih, não é uma mulher de verdade” ou “Que história é essa de nem homem nem mulher? O que tem no meio das tuas pernas?”.

A marginalização que pessoas T estão expostas é gigantesca! É preciso urgentemente construir um outro modelo de sociedade, que rompa com este paradigma apropriado pelo capitalismo que perpetua a lógica de cidadãos de segunda classe.

A porta para uma sociedade menos LGBTfóbica passa por uma educação que respeite as diferentes formas de ser e amar. Somos ensinados a sermos transfóbicos e desde cedo aplaudidos por isso. Nosso modelo de educação expurga o que julga diferente da hetero-cis-normatividade. Não à toa, no Brasil, de acordo com a ANTRA (Articulação Nacional dos Travestis, Transexuais e Transgênero) a evasão escolar de pessoas T ultrapassa índices de 70%.

Em contra-partida o que vemos é o retrocesso e o fundamentalismo tomando conta e barrando dos Planos Estaduais e Municipais de Educação o debate de gênero e sexualidade dentro das escolas, em detrimento da inclusão no currículo de moral e ética. Parece meados de 1970, mas não: estamos em 2015. Vemos ainda governo que se diz pró-LGBT vetando iniciativas como Kit escola sem homofobia, que apesar do nome também tratava sobre identidade de gênero, e com as piores justificativas: “meu governo não fará propaganda de opção sexual”.

E assim, vemos mais Valérias apanhando na rua. Vemos Joãos tendo suas identidades negadas. Vemos Adrianas, Flávios, Sofias, Nathans, Carlas, Marias, todas e todos tendo quem eles são, de verdade, apagados/invisibilizados. Todos ouvindo que eles querem privilégios, e não os mesmos direitos – que deveriam ser – universais.

Por isso e por muito mais, não podemos e nem iremos nos calar!

Neste domingo, dia 6 de setembro, a Valéria, o Juntos! LGBT e demais coletivos e movimentos sociais estarão protestando no local da agressão. Junte-se a nós!

Domingo, 06/09. Rua da República com a Sofia Veloso – às 16:00h.


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