Entre Marçal e Simeão Vilhalva: terras tomadas e vidas perdidas no MS
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Entre Marçal e Simeão Vilhalva: terras tomadas e vidas perdidas no MS

Devemos levar em consideração a importância das redes sociais como forma de expor as inúmeras violências e agressões cometidas contra os povos Guarani- Kaiowá, além de oferecermos apoio e sermos aliados nessa luta, enquanto movimento social.

Edgar Ribeiro e Iaia Toledo 13 out 2015, 20:15

Por Iaia Toledo e Edgar Ribeiro

Neste mês de agosto intensificaram-se no MS as perseguições de indígenas comandadas por latifundiários. “Estamos vivendo um genocídio e terrorismo”, afirma a líder indígena Guarani-Kaiowá Valdelice Veron, filha do Cacique Marcos Veron, assassinado em confrontos. Desde 1960 os guaranis são submetidos a uma sistemática desapropriação de suas terras. Em 1990 lutaram pela Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, de equivalência a 9 mil campos de futebol – atualmente dividida por 5 fazendas de gado. Nos anos 2000 continuaram as expulsões e o massacre. Num período de 12 anos, em nome do agro e hidro negócio, cerca de 400 indígenas foram assassinados e outros 586 cometeram suicídio. De tal modo o clima de guerra no estado continua – carregando problemas que seguem há anos sem resposta.

Nesse meio tempo, intensifica-se o triângulo amoroso entre latifundiários, grande mídia e governo Dilma. O primeiro historicamente mobiliza milícias privadas e o Estado a fim de exterminar os povos indígenas, sem abandonar o apoio de oligarquias coloniais e atuais. A segunda demonstra-se em estado bipolar: ora silencia toda a situação, ora possui audácia de acusar o movimento indígena de “falsos índios, assassinos, invasores”. Já o terceiro, junto com a rainha da motosserra Katia Abreu, defendem a bancada dos ruralistas no Congresso Nacional e paralisam as demarcações de terras. Em seguida, o trabalho escravo de guaranis continua presente (exemplo no corte da cana), agrava-se desnutrição nas comunidades e calam-se seus gritos de dores.

Dentro deste debate sobre os aliados do genocídio, é importante apontar a criminalização das lideranças indígenas como uma estratégia ruralista. São mais de 50 lideranças indígenas respondendo inquéritos e líderes presos por lutarem por direitos. Além de serem assassinados – entram os jagunços e bugreiros em cena – e terem seus corpos ocultados, como já ocorreu com tantos caciques. Ou seja, a criminalização já vem acontecendo há décadas, e é defendida por desde políticos locais à grandes poderes econômicos.

Os mesmos também defendem a criação de uma CPI para investigar o CIMI(Conselho Indigenista Missionário), com o argumento de que o Conselho incentiva e financia o conflito fundiário. Acusam e rotulam os povos indígenas. Como o papel aceita tudo, a bancada do boi derrama nele seus interesses espúrios em defesa do grande capital. Em contrapartida, a mobilização indígena reivindicou a criação da CPI do genocídio, como forma de trazer a realidade brutal dessa guerra.

A Constituição Federal de 1988, carinhosamente batizada de “Constituição Cidadã” seria, a princípio, uma importante aliada dos povos indígenas frente às pressões dos grandes latifundiários e demais inimigos declarados. Porém, a justiça se mostra cada vez mais uma aliada da burguesia, colocando-se ao lado dos ruralistas, burocratizando e retardando o andamento dos processos de demarcação de terras. Face à isso, os advogados indígenas tem sofrido constantes perseguições, como é o caso do advogado e líder Terena Luiz Elói que responde a processos internos na OAB/MS para ter seu registro suspenso.

Apesar de homologada em 2005 pelo presidente Lula e reconhecida como terra tradicionalmente ocupada, os Guarani Kaiowá não podem ocupá-la pois o ministro do Supremo Tribunal Federal à época, o gaúcho Nelson Jobim, suspendeu os efeitos do decreto presidencial. Passaram-se 10 anos, e o STF ainda não julgou o caso.

Diante disso, o Cacique Elpídio Pires, em debates realizados na UERJ(Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e na UFF(Universidade Federal Fluminense), disse: “Precisamos de vocês como aliados para travar essa luta”. Portanto, devemos levar em consideração a importância das redes sociais como forma de expor as inúmeras violências e agressões cometidas contra os povos Guarani- Kaiowá, além de oferecermos apoio e sermos aliados nessa luta, enquanto movimento social.

A juventude precisa sair em defesa dos povos indígenas, pois tudo o que foi exposto é reflexo da crise atual do capitalismo, que para se sustentar precisa utilizar a violência, a corrupção, o racismo e a segregação. Vamos, juntos, dizer que as terras demarcadas são, por direito ancestral – e não burguês- desses povos, pois muito antes nesses mesmos locais, diversos indígenas enriqueciam o ambiente com a sua cultura, ao invés de tirar lucro das mesmas.

 

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