O que fazer diante do áudio vazado da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo?
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O que fazer diante do áudio vazado da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo?

Reunião entre Secretaria de Educação e dirigentes de escolas indica que o governo adotará uma ofensiva política na próxima semana, o que exigirá ainda mais organização e resistência por parte dos estudantes.

29 nov 2015, 21:29

A mídia alternativa “Jornalistas Livres” conseguiu gravar o áudio de uma reunião da Secretaria de Educação do estado de São Paulo em que planejavam-se ações para derrotar o movimento de ocupações e impor o projeto de reorganização. O encontro era conduzido por Fernando Novaes, chefe de gabinete e braço direito do secretário de educação, Herman Voorwald, e contava com a presença de 40 dirigentes de escolas. Cabe destacar que a reunião foi realizada em pleno domingo, o que demonstra o tom de urgência e o desespero de Alckmin. O tom geral da reunião indica que o governo adotará uma ofensiva política na próxima semana (Novaes se expressa de forma agressiva, e chega a falar em “guerra” e “guerrilha”), o que exigirá ainda mais organização e resistência por parte dos estudantes.

Para que possamos vencer o governo nesse momento, devemos observar alguns elementos centrais da sua estratégia:

1) Não retroceder: Fernando Novaes afirma que o governador “nem cogita” abandonar o projeto de reorganização. Inclusive, o decreto da reorganização deve ser assinado por Alckmin e divulgado no Diário Oficial nesta terça, dia 01/12.

2) Fato consumado: O governo pretende já adotar as medidas necessárias para consolidar a reorganização (como a transferência de alunos) para assim tornar esta medida um fato consumado, irreversível. Em outras palavras, ignorar a reivindicação das escolas ocupadas para adotar a reorganização a toque de caixa nas demais.

3) Desmoralização e “radicalismo X diálogo”: Este foi o ponto mais enfatizado pelo chefe de gabinete. O governo pretende construir a ideia de que o movimento não possui reivindicações concretas, não está disposto ao diálogo e possui motivações político-partidárias. A orientação é simplesmente ignorar a demanda central pela anulação da reorganização e alegar que não existem reivindicações particulares de cada escola ocupada. Além disso, devem ser criados falsos canais de negociação (falsos porque o próprio Novaes inicia a reunião dizendo que o governo não irá retroceder) e, diante de uma recusa do movimento em participar desses espaços ou aceitar os seus termos, acusa-lo de ser radical e não querer o diálogo. Em outras palavras, Alckmin quer inverter o jogo, e fazer parecer que o movimento é antidemocrático, e não ele.

4) Contra-propaganda: Seguindo o conselho do bispo Dom Odilo Scherer (você não leu errado. É isso mesmo: o bispo da Igreja Católica dá conselhos ao governador do PSDB sobre educação pública), o governo dará a batalha política para convencer professores e pais de alunos do projeto de reorganização. Inclusive, pediu para os dirigentes ligarem para os pais de alunos em escolas ocupadas.

5) Realizar pequenas concessões: Novaes aconselha os dirigentes a atender reivindicações pontuais dos manifestantes caso isso contribua para diminuir a tensão política e garantir o fundamental, que é a reorganização.

6) Repressão: A decisão do Tribunal de Justiça não permite, na maioria das cidades com escolas ocupadas, que a polícia atue com mandado de reintegração de posse. No entanto, a orientação é que caso ocorra tensão entre manifestantes que queiram desocupar e aqueles que querem manter a ocupação, a polícia ajude os primeiros. Em outras palavras, usar a própria comunidade para subverter uma decisão judicial. Além disso, Novaes anuncia que a Secretaria de Segurança Pública “flagrou” um carro que seria da APEOESP nos arredores de uma ocupação e pretende, com isso, processar o sindicato.

Diante de tudo isso, o que devemos fazer para resistir?

Em primeiro lugar, espalhar com a maior força possível o áudio da reunião e denunciar a articulação do governo. Sabemos que a mídia paulista blinda Geraldo Alckmin e nossa atuação será fundamental.

Mas o mais importante é vencer a batalha política de convencimento da comunidade escolar e da opinião pública. Devemos divulgar nossas iniciativas, convidar a comunidade a debater, fortalecer nossos argumentos e denunciar a precariedade da rede estadual. Além disso, devemos denunciar a falácia dos canais de negociação do governo, mas sem recusar por princípio a participação nesses espaços para não cairmos na sua armadilha de nos criar a pecha de radicais e indispostos ao diálogo. Ao mesmo tempo, devemos denunciar o fato de que o governo ignorou o movimento e na prática já iniciou a implementação da reorganização.

É preciso ficar atento também em relação às demandas específicas das escolas. Devemos aproveitar a força política das ocupações para arrancar das direções melhorias em nossas escolas. Não podemos perder essa oportunidade!

Entretanto, não podemos deixar com que isso seja usado para nos distrair da reivindicação central do movimento, que é o fim da reorganização.

Por último, é preciso estar atento a todas as tentativas de intimidação e repressão. Muitos dirigentes têm feito ameaças, intimidações, chantagens, ofensas ou proferido informações falsas a professores e alunos. Isso tudo é crime e deve ser registrado e denunciado. A Polícia Militar também tentará reprimir as ocupações. Mas isto também está em desacordo com a determinação da Justiça. Todas as ações da PM devem ser filmadas, fotografadas e, se possível, acompanhadas por advogados.

Essa semana será crucial para o sucesso do nosso movimento. Estivemos em vantagem nessa luta até agora. Precisamos manter a força das ocupações, convencer mais colegas e resistir! O estado vai vir “quente”, “mas nós já tá fervendo!”

Escute aqui o áudio.

* Este texto foi produzido por um professor da rede pública que apóia o movimento, mas que preferiu não se identificar, por medo de ser perseguido politicamente

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