Já vai tarde, Weintraub!
ABRAHAM WEINTRAUB. FOTO: WALTERSON ROSA

Já vai tarde, Weintraub!

Ontem comemoramos a demissão de Abraham Weintraub. Entre as muitas figuras pitorescas e odiosas deste governo, Weintraub certamente era uma de destaque.

Julia Maia 19 jun 2020, 14:52

Ontem comemoramos a demissão de Abraham Weintraub. Entre as muitas figuras pitorescas e odiosas deste governo, Weintraub certamente era uma de destaque. Desde quando assumiu a pasta, o ex-ministro não poupou esforços em atacar as universidades públicas, a pesquisa científica, o movimento estudantil, o ensino crítico, a liberdade pedagógica, defendendo abertamente uma elitização do acesso à educação no Brasil. Além disso, demonstrou diversas vezes seu desprezo pela democracia, pelos povos indígenas, pelos movimentos sociais, pelo STF, até mesmo pela China e pela esposa do presidente francês, Emmanuel Macron. Assumidamente, uma figura um tanto polêmica e controversa.

O obscurantismo e autoritarismo, tão presentes no governo Bolsonaro, e evidentes na condução do MEC, despertaram a indignação dos estudantes e de boa parte da sociedade civil, que ocuparam de forma massiva as ruas nos atos dos dias 15 e 30 de maio, em 2019. Os maiores atos de rua durante o governo Bolsonaro foram impulsionados pelo movimento estudantil, e já gritavam “Fora Weintraub!”. O projeto de Weintraub para as universidades públicas (que na prática previa o fim destas), chamando de “Future-se”, também foi derrotado pela força dos movimentos sociais. Da mesma forma, sua posição contra o adiamento do ENEM foi revertida pela luta dos estudantes secundaristas. O próprio presidente Bolsonaro admitiu, em seu pronunciamento do dia 24/04 deste ano, que os estudantes não davam descanso para Weintraub, sempre atuando como uma oposição vigilante e barulhenta.

As tensões de Weintraub com o STF e seu envolvimento no inquérito das fake news foi mais um elemento de instabilidade à sua permanência no governo. A crise no andar de cima se agudiza cada vez mais, e as disputas intra-burguesas demonstram que a hegemonia da direção política do país está abalada. Parte da burguesia não sabe o que fazer com Bolsonaro e seus ministros, e começa a abandonar o barco. Entre a população, também cresce o descontentamento com o governo, que se demonstra incapaz de solucionar a crise sanitária, política, econômica e social que vivemos.

Para os que se consideram militantes revolucionários, estes momentos de crise são pontos chave, brechas raras na política que podem permitir um salto no avanço da consciência de classes. O marxismo é fundado a partir de uma visão dialética, que entende as contradições como parte integrante da realidade. É a partir destas contradições que sínteses de novo tipo podem ser formadas, assim como sociedades de novo tipo podem ser gestadas. As contradições, porém, não geram sínteses de forma automática: elas dependem da ação, e fundamentalmente, da luta de classes. Não existem rotas pré-definidas, nem destinos traçados. Uma visão teleológica da realidade, que entende o futuro como algo que não construímos no presente, não pode ser considerada uma visão marxista.

Por isso, para nós marxistas revolucionários, a demissão de Weintraub é sim motivo de comemoração. Sua saída é resultado de uma conjunção de fatores, e, dentre estes, a luta do movimento estudantil e dos setores populares em oposição a este governo foram imprescindíveis. É tarefa do movimento estudantil e da juventude seguir pressionando Bolsonaro contra parede, e o reconhecimento de nossas conquistas é fundamental para impulsionar nossa luta. A demissão de Weintraub é mais um barril de gasolina para o fogo dos indignados que escolheram fazer história com as próprias mãos e que não irão parar até derrotar Bolsonaro e seu projeto antidemocrático, autoritário e repressivo.


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