2 anos do crime da Vale em Brumadinho
Brumadinho Vale

2 anos do crime da Vale em Brumadinho

Hoje completam-se dois anos do crime da Vale em Brumadinho, foram mais de 272 pessoas mortas e, muito mais que números, essas pessoas eram nossos amigos, familiares e irmãos de classe.

Juntos MG 25 jan 2021, 20:47

A locomotiva da história é a luta de classes! Engana-se quem acha que tal luta se dá apenas em momentos revolucionários ou de contrarrevolução, ela ocorre no agora. Quando empresários, por exemplo, permitem que uma mina continue em operação, mesmo que existam riscos do rompimento de suas barragens, é porque em suas planilhas já se tem os números que o fazem concluir que tal risco vale a pena, que as vidas dos trabalhadores tem um preço e que é mais barato pagar por elas.

Hoje completam-se dois anos do crime da Vale em Brumadinho, foram mais de 272 pessoas mortas e, muito mais que números, essas pessoas eram nossos amigos, familiares e irmãos de classe. Ironicamente, o setor da mineração segue a todo vapor, o governo do partido NOVO em Minas junto ao Bolsonaro garantiram que tal atividade fosse colocada como essencial em meio a pandemia, o que demonstra o desdenho pela vida dos trabalhadores desse setor.

Assim como no passado, continuam minerando nossas montanhas e levando embora para o exterior. Se antes era a coroa portuguesa, hoje  são  as grandes corporações, com máquinas muito mais potentes e infinitos vagões de minério. Como bem dizia Carlos Drummond de Andrade:

“… O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição…”

E assim, pouco a pouco, nossos territórios vão se tornando inabitáveis. Percebemos isso ao ver que os rios não são mais como eram a poucas décadas atrás e que as matas deram lugar aos pastos. Junto com nossas montanhas perdemos nossos aquíferos, além de espécies endêmicas serem extintas sem chegarmos a conhecê-las. Não existe remorso por parte dos poderosos, eles não vivem nesses territórios, não é o modo de vida deles que se perde, no qual o modo de vida deles se trata da exploração e esse segue em alta. O risco de faltar água em nossas torneiras é real e o mesmo não existe para os donos da Vale. 

Falar da luta ecológica é falar da situação da classe trabalhadora, e se tem uma conclusão que esses poucos anos de dores e luta me trouxeram é de que ocupamos enquanto classe um lugar central na luta contra a opressão, exploração e extinção de todas as vidas. Os territórios que sofrem os impactos ambientais são os mesmos que vivemos, as vidas perdidas são as nossas e as relações que mantêm essa estrutura social são as que nos mantém explorados. Com isso, o perigo do ambientalismo liberal que apaga as dores do homem e menosprezam a classe, pois eles não pretendem romper a estrutura, marcham conforme o sistema ordena, nos colocam uns contra os outros e são anti-humanistas enquanto naturalizam a exploração do homem pelo capital.

É nosso dever afirmar o contrário: a luta ambiental real só se dará se esta for feita casada com a luta social, mais ainda, é preciso construir o ecossocialismo, pois não existe futuro para nós dentro do capitalismo. 

Hoje é dia de luta, de luto, de mobilização e de organização, e é nosso dever lembrar dos nossos que foram vitimados pela luta de classe e também  de afirmar que o crime da Vale em Brumadinho não é algo isolado, pois é parte de um sistema que explora e mata. 

É hora das rosas da resistência, que também brotam da lama de rejeito, avançar!

Aos mais de 272 assassinados pela Vale em Brumadinho, toda uma vida de luta!

Marcos Ferreira, militante ecossocialista do Juntos! e fundador da regional de Ibirité em MG
Ketson Neres, militante do Juntos! na UFMG


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