EDITORIAL: Quais os próximos passos da luta pelo #ForaBolsonaro?
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EDITORIAL: Quais os próximos passos da luta pelo #ForaBolsonaro?

É possível – e necessário – gestar a resistência das dificuldades. Estudantes, vamos rumo ao 11A fazer do nosso movimento mais uma vez linha de frente no combate a esse governo de misérias!

O Brasil está em chamas! De um lado, materiais que datavam até 1960 do audiovisual do país viram cinzas no fogo criminoso que atingiu a Cinemateca em São Paulo. Há meses os funcionários do órgão alertavam o governo sobre as condições degradantes que expunham o acervo de décadas de história. De outro, a estátua de um bandeirante que escravizou, torturou e massacrou índios para servir de mão-de-obra às lavouras de cana-de-açúcar no Nordeste é queimada por ativistas corajosos que desejam reivindicar uma nova memória coletiva. Não é difícil adivinhar onde o dedo do governo federal e das forças repressivas atuaram para proteger ou culpabilizar os incendiários. O presidente é o Borba Gato recriado e o que há de genial, sensível e transformador produzido pelos nossos não lhe interessa. 

Sabemos que Bolsonaro precisa cair agora, não apenas porque a queda de um tirano pelas mãos do povo é pedagógica, mas principalmente porque mais vidas podem ser poupadas pelo interrompimento de sua administração mortífera. Temos a consciência de que apesar de importantes, os atos que protagonizamos até aqui ainda não foram suficientes para empurrá-lo de vez do poder. Mas isso significa que deveríamos abandonar as mobilizações ou acreditar na ideia derrotista de que elas “atingiram um teto”? Nos ajudará cruzar os braços quando a fome faz centenas de novas vítimas a cada semana no país, o desemprego é uma realidade quase inescapável para muitos de nós e ainda há bilionários que seguem preservando lucros imorais às custas da desgraça da maioria? 

Por isso, nos parece óbvio defender a continuidade dos protestos nas ruas. Primeiro porque já superamos como movimento a suposta contradição em ocupá-las (tirar Bolsonaro é uma das mais úteis medidas sanitárias que podemos tomar pelas nossas vidas) e segundo porque um “descanso” da pressão popular pode ser o espaço que o governo precisa para se recuperar. As movimentações no andar de cima que assistimos nas últimas semanas são provas de que há uma tentativa assim em curso. O presidente tratou de reajustar os ministérios com maior abertura para o centrão, a exemplo da nomeação de Ciro Nogueira (PP) como chefe da Casa Civil. Coesiona sua base no Congresso justamente para blindá-lo dos desgastes provocados pelas ruas e passar com mais facilidade as medidas antipovo – e um dos setores que mais intensamente sentem essas medidas é o da educação.

No limiar de 2021 já tivemos de tocar uma batalha em defesa do orçamento das Universidades e Institutos Federais, ameaçados de fechar as portas por falta de recursos básicos de funcionamento; o PROUNI sofreu recentemente um corte expressivo no número de bolsas; o sucateamento devastador da educação básica produziu uma geração tão carente de perspectivas que o ENEM deste ano alcançou o menor número de inscrições desde 2005 e a produção de conhecimento científico, caminhando há bastante tempo com sérias debilidades, deverá ser impactada como nunca com o “apagão” na plataforma da CNPQ. Não à toa os estudantes são aqueles que estão na linha de frente da oposição a Bolsonaro e temos data para reverter a nossa indignação em ação concreta. O 11 de agosto, Dia do Estudante, precisa ser uma síntese do que reivindicamos para a educação. É papel do movimento estudantil acendê-lo como uma arma contra o obscurantismo do governo e mais um passo largo que nos aproxima do seu fim. 

Não falarão tão bem ou de maneira tão ousada como nós as direções vagarosas da esquerda envelhecida que dificilmente apostam na força popular. Parte da narrativa “derrotista” que começamos o texto nos referindo reside na tática desses setores em limitar atos espaçados e mensais, enquanto para além da necessidade de responder mais rapidamente ao governo nas ruas, devemos avançar nas condições que permitem atos mais amplos, que extrapolem a vanguarda das organizações de esquerda. Os protestos que aconteceram no dia 13 de julho em muitos estados, marcados por fora das cúpulas burocráticas, produziram uma lição importante nesse sentido. Naquele momento fomos capazes de reunir as nossas demandas com os trabalhadores dos correios, o movimento indígena e o funcionalismo público. Se trata de um exemplo de como a unidade na diversidade se combinam na tarefa comum de derrotar o governo, desde que haja intenções reais de levar a luta às últimas consequências.  

Sendo assim, para que o grito da educação seja ecoado nas manifestações do 11A temos que concentrar esforços nas panfletagens, brigadas, plenárias e espaços de construção até lá. A UNE (que ainda está lenta na convocação), os DCEs, CAs, grêmios e todas as nossas entidades devem entrar com peso para que o 11A seja uma realidade. Superar também a lógica dos atos repetitivos passa pela garantia de que o movimento não será determinado de cima para baixo, mas sim pelo o que pode ser desenvolvido nos locais de estudo, nas bases. Ao lado de outros setores da classe trabalhadora, que também marcaram mobilizações próprias para o dia 18 de agosto, podemos definir os rumos da luta pelo #ForaBolsonaro. 

Por ocasião dos 10 anos de existência do Juntos, celebrados à serviço das lutas que tomaram o Brasil neste julho, relembramos o sentido agitado pelo coletivo “romper o dia”, organização que por algum tempo impulsionaram previamente os nossos fundadores. São muitos os sonhos que compartilhamos até hoje com aquela geração e o maior deles, sem dúvidas, é o desejo de romper as amarras de um presente de escassez. Não que a crise sanitária ou o governo Bolsonaro tenham inaugurado todos os pesadelos de uma vida empobrecida pelo capitalismo para as massas trabalhadoras, mas a fotografia das desigualdades e das injustiças está mais nítida. 

O presidente é um filho putrefato do sistema que já comprovamos odiar pessoas como nós. Não hesitamos em negá-los. Façamos como os jovens atletas brasileiros que atravessam distâncias continentais para alcançar vitórias nas olimpíadas, mas também obstáculos vergonhosos de um país de governantes que viram a cara para o esporte nacional. É possível – e necessário – gestar a resistência das dificuldades. Estudantes, vamos rumo ao 11A fazer do nosso movimento mais uma vez linha de frente no combate a esse governo de misérias! 


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