Eduardo Leite, governador do RS, se assume homossexual: entre a coragem de se posicionar e o oportunismo da ausência na luta LGBTI+
Foto: Reprodução/TV Globo

Eduardo Leite, governador do RS, se assume homossexual: entre a coragem de se posicionar e o oportunismo da ausência na luta LGBTI+

Saudamos a iniciativa, […] mas não nutrimos quaisquer ilusões com Leite, basta de representatividade vazia, nós queremos uma plataforma concreta para as LGBTI+, que seja antifascista e anticapitalista!

Emanuelle Lourenço e Pedro Levi 2 jul 2021, 09:17

Eduardo Leite (PSDB) foi eleito em 2018 como o governador mais jovem do país. Com propostas aliadas ao programa do seu partido, defendeu o enxugamento da máquina pública, a privatização dos presídios e uma agenda reformistas para o estado do Rio Grande do Sul. Aliado e apoiador do governo Bolsonaro, já em seu primeiro ano de mandato o governador avança nas tratativas de privatizações de estatais, facilitou a construção de empreendimentos de alto risco ambiental e aprovou reformas tributárias de ataque ao povo gaúcho.

Em 2020, com a pandemia e a crise política e humanitária instalada no país, aprofundada pelo governo genocida de Jair Bolsonaro, seu partido assume uma postura de ofensiva/diferenciação do governo federal e passa a criticar o presidente. O governador de São Paulo, João Dória, amigo e companheiro de partido de Eduardo Leite, à princípio se postulava como uma das apostas para a candidatura do PSDB, mas saiu da jogada e passou a defender que seu partido deveria atentar aos mais jovens, mirando no governador do RS, que hoje está franca pré-candidatura à presidência.

Hoje, Eduardo Leite quer ser parte de uma alternativa eleitoral construída por diferentes frações burguesas, a chamada 3° via, em contraponto às candidaturas de Lula e Bolsonaro. A mudança no cenário político nacional e gaúcho, abriu uma janela de oportunidade ao governador. Leite ganha destaque e vira uma das promessas de seu partido. É nesse contexto que passado mais um Dia do Orgulho LGBTQIA+ (28 de junho) sem nenhum posicionamento ou agenda pública em consonância com o mês do orgulho LGBTI+, o governador escolheu se assumir gay diante de um famoso programa de entrevistas.

É preciso registrar que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT+ no mundo. Fruto de uma realidade histórica e violenta enraizada no patriarcado, no racismo e no machismo, se assumir LGBT é sempre um ato de coragem. Certamente, quando se é figura pública o peso de se assumir pode repercutir no incentivo a tantos outros e outras exteriorizar sua sexualidade e identidade de gênero em também atos de braveza, além de promover um importante debate social sobre diversidade.

Vale ressaltar também que a possibilidade do governador se assumir só existe porque muitas LGBTI+ construíram uma importante luta contra a LGBTfobia, por visibilidade e políticas públicas para a comunidade. Enquanto Eduardo Leite afirma “sou um governador gay, e não um gay governador”, nós seguimos defendendo a necessidade de pautarmos a luta LGBT+ nos locais de estudo, trabalho e lazer, defendendo o nosso direito de ser e amar!

É necessário lembrar dos limites de uma política calcada na representatividade vazia. Leite utilizou o bolsonarismo como trampolim político no 2° turno das eleições de 2018, apoiando um candidato declaradamente preconceituoso, e foi eleito com uma agenda neoliberal de ataque aos direitos do povo. Seu projeto é de defesa da aglutinação de políticas que precarizam a juventude e a classe trabalhadora, inclusive através da plataforma LGBTfóbica de Jair Bolsonaro. Já em seu mandato, o governador agiu com letargia na posse de conselheiros LGBTs do estado e entregou ao imobilismo uma conquista histórica de tantos movimentos sociais.

A inclusão desigual de pessoas LGBTs no mercado de trabalho, com algumas poucas em lugares de poder, passou a firmar alguns valores de uma suposta importância de representatividade como conceito com fim em si mesma. A ideia que representantes LGBTs (no geral homens cis gays brancos de origem social elevada) em espaços sociais economicamente privilegiados basta, é um equívoco ideológico!

As LGBT+ querem sim ocupar todos espaços, mas com um programa político de transformação social, que defenda os interesses da comunidade, como também das mulheres, da negritude e de toda a classe trabalhadora. Nós, que sempre soubemos da ameaça que Bolsonaro representava à vida do povo brasileiro, fomos um setor ativo na construção do #EleNão e hoje somos linha de frente das lutas pelo Fora Bolsonaro. Afirmar a identidade LGBT+ não é o suficiente, é necessário combater a agenda de exclusão e extermínio desse governo genocida!

Por isso, saudamos a iniciativa de Eduardo Leite de assumir e expressar sua sexualidade e desejamos que também seja garantido esse direito à tantas outras LGBTI+, estejam ou não em espaços de poder. Porém, não nutrimos quaisquer ilusões com Leite, basta de representatividade vazia, nós queremos uma plataforma concreta para as LGBTI+, que seja antifascista e anticapitalista!


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