Tese do Coletivo Juntos! ao Congresso da UEE-RJ
É a partir da expansão das nossas fronteiras, criando espaços amplos e democráticos e apostando a mobilização social, que o movimento estudantil pode se fortalecer e a UEE precisa ter um papel nessa construção.
O Rio de Janeiro é o berço do bolsonarismo, mas também é a linha de frente no seu enfrentamento. No mesmo Estado onde Cláudio Castro, um dos maiores aliados de Bolsonaro no país, é governador, as mobilizações contra o presidente e seus aliados foram uma faísca para as lutas de rua em 2021, com a revolta dos moradores do Jacarezinho contra a chacina praticada pelo Estado e, poucos dias depois, um levante dos estudantes da UFRJ contra os cortes nas universidades.
Estamos vivendo um cenário muito difícil nacionalmente, com mais de 560 mil mortos, 19 milhões de brasileiros passando fome, um aumento geral da miséria e do desemprego e um plano de desmonte completo da educação, com bilhões sendo cortados. No Rio, as coisas não são mais fáceis – a taxa de desemprego por exemplo está 32% maior que o nível nacional – e o papel da milícia e seu conluio com o governo estadual e diversas prefeituras amplia ainda mais nossos desafios.
Além disso, o genocidio da juventude negra e favelada vem se consolidando enquanto política de segurança pública de Cláudio Castro e Bolsonaro. Só este ano, o estado do Rio de Janeiro registrou 8 operações por dia e um aumento de 33,9% nas operações policiais em relação ao mesmo período de 2020. A ADPF 635, que proíbe operações policiais nas favelas durante a pandemia no Rio de Janeiro, segue sendo descumprida pela polícia e a violência nas favelas avança. A morte de Kathlen Romeu, Heitor Souza, Kaio Guilherme, João Pedro e Ágatha Felix não são casos isolados. Fazem parte de uma política que enxerga pretos e pobres como alvos. Não podemos mais aceitar tantas vidas ceifadas por esse Estado racista e genocida. A juventude negra e favelada quer viver e por isso tem se organizado.
É por esses diversos motivos que as manifestações contra o governo têm tido um papel e expressão tão importante no último período. As centenas de milhares de pessoas que têm ocupado as ruas, pedindo vacina, o fim do genocídio da população negra, um auxílio justo e a saída imediata do presidente, têm demonstrado que existe espaço para resistir a esses absurdos. Dentre eles, o peso da participação de estudantes tem que ser destacado – são milhares de secundaristas e universitários indo se manifestar contra essa política de negacionismo e genocídio.
Nesse cenário que inicia o Congresso da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro. Nesse segundo CONUEE construído pelo Juntos, acreditamos que existe um avanço na entidade no sentido de conseguir ter servido como um espaço de articulação do movimento nos últimos dois anos. Porém ainda há muito a avançar e o Congresso precisa servir para isso.
O movimento estudantil de fato tem sido protagonista e ajudado a dar o tom na luta das ruas, isso já vinha acontecendo especialmente desde a manifestação de cerca de 4 mil pessoas organizada pelo DCE da UFRJ no dia 14 de maio. Mas ao mesmo tempo que esse destaque tem organicamente surgido, especialmente a partir dos próprios estudantes em si, dos CAs e DCEs, é preciso um debate sobre qual perspectiva a UEE e os movimentos que a constroem nos próximos passos da luta.
Primeiro, o movimento estudantil precisa adotar uma estratégia de derrotar Bolsonaro ainda em 2021, e não somente no discurso. De pouco nos adianta uma lógica onde nosso movimento sirva no fortalecimento de uma lógica eleitoral, criando um objetivo de desgaste – e não derrubada – de Bolsonaro. Nossa saída é o impeachment já! E isso só vai ser possível com mobilização social. Por isso, a aposta na mobilização permanente como método de enfrentamento ao governo é essencial. A estratégia de colocar manifestações de mês em mês, sempre no mesmo modelo e sem conectar com as bases dos locais de estudo, tem se mostrado insuficiente. Prova disso é a diminuição dos atos no 24J em boa parte do país. Ter uma aposta de datas diferentes de mobilização com táticas diversas que levem até a própria base dos nossos cursos é um desafio constante. A não participação de diversos movimentos – e da própria UEE – no 13J, junto à greve dos correios, que está sendo privatizada, é um erro que não pode ser repetido. O mesmo vale para o peso quase simbólico que parte do movimento jogaram no 11 de Agosto. Nossa aposta precisa ser nas ruas!
Consequentemente, é necessário que se crie e articule espaços onde todos estudantes possam participar, tanto para colocar em debate pautas locais que podem necessitar de solidariedade entre universidades, como o debate sendo feito atualmente na UFRJ sobre a EBSERH, como para articular dias de luta no geral. Desde assembleias de curso até encontro entre os CAs e DCEs de todo Estado – como tem sido feito nacionalmente pelo campo da oposição. Nisso a UEE pode ser protagonista. A ausência de debate com os estudantes e espaços de articulação do movimento estudantil, como tem ocorrido no último período na UFF, precisa ser combatida e o fortalecimento de espaço de auto-organização com apoio da entidade pode ser uma importante solução.
Por fim, durante a pandemia, segue nosso desafio de defender a Permanência Estudantil nas universidades. São diversos estudantes que abandonam suas universidades, seja pelo preço da mensalidade ou por não ter as mínimas condições financeiras ou sociais para seguir estudando. Lutas como a do Bilhete Único Universitário, que já tem sido tocada, são importantes nesse sentido. A defesa de uma universidade popular é a defesa do sentido da universidade em si. Ataques como o que o bolsonarismo ensaia na lei de cotas, que será revisada em 2022, tem que ter uma resposta desde já.
É a partir da expansão das nossas fronteiras, criando espaços amplos e democráticos e apostando a mobilização social, que o movimento estudantil pode se fortalecer e a UEE precisa ter um papel nessa construção. Nós do Juntos temos apostado nessa estratégia por meio das nossas construções – seja no DCE da PUC e da UFRJ, na oposição na UFF e nas nossas construções por outras universidades no Rio. É com estudantes na rua que se derrota Bolsonaro!