Orçamento cortado, interventor empossado: o que é o projeto de reordenamento dos institutos federais?
Mobilização no IFRN

Orçamento cortado, interventor empossado: o que é o projeto de reordenamento dos institutos federais?

A tentativa de criação de 10 novas redes federais carrega consigo uma jogada oportunista de utilizar a influência dos IFs nas comunidades como cabo eleitoral de Bolsonaro para 2022, pois, não só os campis envolvidos no reordenamento serão escolhidos a dedo, como também as reitorias das novas redes serão baseadas na indicação direta de Bolsonaro, e não passaram por um processo democrático de eleição entre os campis.

Pedro Feltrin 27 set 2021, 14:41

Nos últimos anos, as instituições federais de ensino têm se tornado cada vez mais protagonistas nos espaços em que ocupam: na sua proposta pedagógica de ensino público, gratuito e de qualidade, nas pontuações do Enem, em premiações de eventos internacionais e no combate à pandemia aqui no Brasil, bem como, o exemplo de luta dado nas ruas com o enfrentamento aos retrocessos impostos nos últimos anos.

No dia 30 de agosto, o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, se reuniu com alguns reitores onde defendeu a “criação” de 10 novos Institutos Federais. No entanto, o decorrer do planejamento não envolve a criação de novos campi, cursos e matrículas, mas apenas a reorganização territorial dos campi já existentes.

O projeto de reordenamento dos IFs não é uma proposta recente, sendo inclusive cogitada no passado. Porém, o que faz a ideia do reordenamento, hoje, ser encarada com maus olhos é que, além de ser uma proposta dada pela gestão de Bolsonaro (gestão essa que logo após sua posse já cortava e ameaçava privatizar as Universidades e Institutos Federais, que em 2020 desdenhou da ciência que produzimos diariamente no combate a Covid-19, e que, de forma autoritária nomeou interventores nos nossos campus), desde 2015 o orçamento dos IFs tem sido reduzido, e hoje, estamos vivendo o maior déficit orçamentário das nossas instituições.

Apesar do reordenamento ser um plano que poderia, e muito, ajudar algumas redes federais com a gestão de seus campis, redimensionando os traços geográficos, econômicos, sociais e culturais, como por exemplo é o caso do IFSP, que se responsabiliza por 37 campis através apenas de uma reitoria. O projeto nos moldes apresentados por Milton Ribeiro não contempla a fundação de novos campis, não revoga os cortes no orçamento da rede, não propõe novos cursos, não contrata novos funcionários, técnicos e administrativos, ou se quer amplia vagas para o processo seletivo dos estudantes.

Além da clara falta de recursos para o cumprimento de um reordenamento qualitativo para os campis, existe mais um elemento central no debate que coloca mais uma vez em risco a democracia e a soberania dos Institutos Federais. A tentativa de criação de 10 novas redes federais carrega consigo uma jogada oportunista de utilizar a influência dos IFs nas comunidades como cabo eleitoral de Bolsonaro para 2022, pois, não só os campis envolvidos no reordenamento serão escolhidos a dedo, como também as reitorias das novas redes serão baseadas na indicação direta de Bolsonaro, e não passaram por um processo democrático de eleição entre os campis.

Nós, estudantes da rede federal, que em 2020 articulamos uma jornada de lutas vitoriosas e incansáveis em defesa da democracia interna dos campis e na derrubada dos interventores do IFRN e IFSC. Diante dessa nova ameaça, devemos estar atentos e vigilantes com o andar deste projeto (que tende a ser votado no dia 15 de outubro de 2021), e com os espaços de debate sobre o tema, ocupando nossos lugares nos Conselhos Superiores, organizando plenárias nos nossos campus, pela derrubada desse reordenamento antidemocrático e oportunista! 

No dia 2 de outubro, vamos às ruas de todo o Brasil para gritar “Fora Bolsonaro” e afirmar que: REORDENAMENTO, SEM INVESTIMENTO, É SUCATEAMENTO!!


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