Estudantes estão há mais de um mês ocupados na reitoria da Universidade de Paris Nanterre (França)
Foto: Visions of Travel

Estudantes estão há mais de um mês ocupados na reitoria da Universidade de Paris Nanterre (França)

Estudar é um direito, não um privilégio!

Aline Schmidt 27 nov 2021, 11:50

Desde o 27 de Outubro, o movimento estudantil liderado pela auto organização dos chamados “sans-facs” (estudantes não matriculados oficialmente na Universidade, mas que assistem aulas) ocupa o prédio do presidente da Universidade de Paris Nanterre com a exigência da matrícula imediata dos estudantes não inscritos, e contra qualquer tipo de seleção que impossibilite o acesso inalienável à educação. 

Atualmente em Nanterre, o movimento “sans-facs” é composto por 61 estudantes não matriculados de várias áreas do conhecimento e possui um apoio forte entre mais de 600 membros da comunidade educacional, incluindo representantes sindicais locais ou nacionais de professores como CGT, FO, FSU ou Sud. Todos os anos, milhares de estudantes ficam de fora da Universidade por não serem aprovados no processo de seleção e o movimento luta para matrícula urgente desses estudantes e para que a educação seja um direito de todos, não um privilégio para poucos.

O reitor da universidade tem o poder de inscrever todos esses estudantes imediatamente, mas a justificativa que a reitoria oferece a eles e ao movimento estudantil é de que matriculá-los agora geraria uma grande dívida da Universidade. Num universo de mais de 30.000 estudantes, o movimento questiona como a inclusão de 61 estudantes seria capaz de comprometer o orçamento e convida o reitor a aderir à luta junto deles contra a precarização, os cortes na educação, pela ampliação de vagas no ensino superior, e por mais investimentos públicos.  

O cenário de escassez orçamentária que afeta todos serviços públicos atinge mais fortemente os estudantes pobres com origem na classe trabalhadora, imigrantes e estudantes estrangeiros, contribuindo para um projeto elitista e restrito de Universidade. É muito importante o apoio à luta dos sans-facs porque essa é uma luta nossa pelo direito à educação para todos, contra a seleção social, pela distribuição de riquezas de acordo com a necessidade da maioria da população. O movimento lembra que o governo francês de Macron, durante a pandemia, distribuiu 500 bilhões de euros aos empregadores, e agora se recusa a conceder 20 bilhões necessários para a criação de novas vagas nas Universidades. Desta forma, a justificativa de que o problema é a falta de vagas é uma grande mentira. Na verdade, por trás dela está um projeto declarado de enfraquecimento da educação pública e de sua responsabilidade social.

A seleção social afeta sobretudo os imigrantes e estudantes estrangeiros que precisam desembolsar um valor anual exorbitante na graduação e na pós-graduação, criando barreiras para a permanência do setor mais vulnerável e um ambiente menos plural culturalmente. Cercar de solidariedade internacional esse importante movimento que a partir da confiança na mobilização dos estudantes unindo as categorias da educação em defesa do acesso a todos, a maiores investimentos públicos e a ampliação de vagas é dever de toda a juventude que luta por uma sociedade mais justa.

No Brasil também vivemos um cenário de destruição das Universidades Públicas, o combate ao pensamento crítico, a ciência e a pesquisa. Assim como na França, sobre a justificativa de limitado orçamento, as reitorias, conselhos administrativos das universidades e governos têm escolhido precarizar a educação ao invés de lutar pela ampliação de seus investimentos públicos e para que todas, todos e todes tenham o direito fundamental de estudar garantido. O cenário de mercantilização da educação e asfixiamento das contas se repete quando as escolhas das reitorias e dos governos, seja no Brasil, na França e em todo mundo, é de levar em frente um projeto de educação excludente pensado somente para alguns e pouco diverso. 

A saída para derrotarmos internacionalmente esse modelo neoliberal de educação deve passar pela confiança na luta em unidade entre os setores da educação, no método da mobilização a exemplo dos camaradas de Nanterre que permanecem bravamente ocupados há 1 mês e na solidariedade internacional à todos que lutam por uma sociedade feita para a maioria do povo!


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