Os ataques deles são combustível para a nossa revolta! Carta do Juntos ao 21° CONEG da UBES
Juntos no CONUNE em Brasília

Os ataques deles são combustível para a nossa revolta! Carta do Juntos ao 21° CONEG da UBES

O Coletivo Juntos! convida cada estudante secundarista para organizar no seu grêmio e na sua escola a faísca de revolta que vai incendiar o Brasil. Nossa luta é nós por nós, contra aqueles que querem massacrar nosso futuro.

8 dez 2021, 12:20

A gente que lute: nossa batalha é para sobreviver

O Brasil está vivendo muitas crises, e nós estudantes estamos sentindo todas elas na pele. Agora, mais do que nunca, é essencial que estejamos a postos para lutar pela realidade que queremos construir. A luta da educação é linha de frente em todas as batalhas travadas contra o Governo Bolsonaro, que já havia escolhido estudantes e professores como seus inimigos. 

Desde que Bolsonaro assumiu a presidência em 2019, ele elegeu a educação como sua inimiga prioritária, isso sabemos, mas foi na pandemia da covid-19 que sua faceta negacionista e genocida se apresentou com maior força. No Brasil, o isolamento social nunca foi uma realidade, especialmente para quem dependia do trabalho para sobreviver. Com bastante luta, as universidades e escolas mantiveram a suspensão das atividades presenciais, o que foi muito importante para frear a disseminação do vírus entre os jovens. Entretanto, com o distanciamento, as escolas aderiram a um ensino remoto emergencial feito de um formato excludente para a realidade dos estudantes brasileiros. 

Muitos tiveram que lidar com a falta de internet e equipamentos básicos, como celulares ou computadores. Além disso, a pandemia trouxe demandas urgentes para as nossas vidas e das nossas famílias, como a necessidade de trabalhar por conta dos preços altos e do aumento do desemprego. Como resultado, 4 milhões de estudantes entre 6 a 34 anos tiveram de abandonar as aulas no período de 2020. Segundo Agência da câmara de notícias, dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que durante a pandemia de Covid-19, os números de evasão escolar aumentaram em 5% entre os alunos do ensino fundamental e 10% no ensino médio. 

Para os que ainda estão matriculados, a dificuldade foi de acesso, com 4 milhões de estudantes sem conectividade. E ao cobrarmos do governo a responsabilidade em garantir o acesso da juventude às plataformas digitais, Bolsonaro nos respondeu com o veto ao projeto que visava à distribuição de celulares, tablets e chips de internet aos estudantes. É importante entender que a evasão escolar é um projeto para tirar os nossos da escola e nos colocar em empregos precários desde cedo. É tarefa do movimento secundarista combater esse projeto!

No dia-a-dia, a vida dos brasileiros se torna cada vez mais difícil. O Brasil voltou para o mapa da fome no governo Bolsonaro. Já são 49,6 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar e isso se reflete, também, nas escolas. As crianças e adolescentes enfrentaram o período de distanciamento social de barriga vazia, afinal, era nas escolas em que muitos faziam suas refeições, afinal, ela cumpre um papel social importantíssimo na vida de milhares de jovens e famílias, sendo o local de acolhida para as dificuldades enfrentadas. Em diversos estados ocorreram desvios na verba destinada às merendas escolares, como no Rio de Janeiro. Lá, o Governo do Estado afirmou que as escolas dariam cestas básicas, entretanto, muitas dessas cestas vinham com comida fora da validade, ou quantidades para durar apenas uma semana. Em muitos lugares pelo Brasil, ou essa situação se repetiu, ou só eram entregues lanches e pouca comida.                       

Apesar da luta dos profissionais da educação para garantir a saúde e a vida da comunidade escolar, a volta presencial às aulas aconteceu de maneira desorganizada, em um momento em que nem alunos, nem profissionais se sentiam seguros para estar de volta. Se com as aulas remotas, houve evasão escolar, o retorno presencial não está dando conta de amenizar o problema. Muitos estudantes relatam problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, fruto do grande estresse que todos nós passamos durante a pandemia e continuamos passando. E o governo Bolsonaro, mais uma vez, trabalha para essa situação se aprofundar: o combate à pobreza menstrual, que é mais uma luta importante para a permanência dos estudantes nas escolas, foi atacado quando o governo vetou a lei de distribuição de absorventes para pessoas em situação de vulnerabilidade social. 

Bolsonaro quer desmontar a educação

Tudo isso, e mais, nos mostra que o compromisso de Bolsonaro não é com a educação, muito menos com o povo. Seu plano não é o fortalecimento da educação, e sim a reforma do Ensino Médio, que é um aprofundamento da situação de miséria na educação, planejado desde o governo Temer. A reforma prejudica a formação do aluno através da redução de matérias obrigatórias, deixando apenas português, matemática e a divisão dos estudos por área de conhecimento (ciências biológicas, ou da natureza, como exemplo). Além disso, a mudança da carga horária estimula que os alunos preencham esse tempo com horas de trabalho, tornando ainda mais difícil a manutenção dos alunos na escola e aumentando a tendência à evasão. Essa mudança está sendo vendida como algo que vai dar mais autonomia aos alunos, mas que na prática só reduz a qualidade da educação.

A reforma do ensino médio veio junto com um forte ataque ao ENEM, que em 2021, de fato, teve a “cara do governo”: o primeiro exame do ano foi o ENEM com menor número de inscritos desde 2005. Já no segundo ENEM de 2021, houve o aumento de apenas 9%, tornando- se o ENEM com menos inscritos desde 2007. Ainda, apenas 11,7% de inscritos eram pretos, e 26,5% pobres – comprovados pelo sistema do Inep. O ENEM 2021 é o mais branco e elitista da história, além de ter sofrido ameaças de censura. Isso compromete definitivamente o acesso ao ensino superior no Brasil, que já era para poucos. Com a combinação entre reforma do ensino médio e o desmonte do ENEM, o que estamos vendo é o aparelhamento das escolas, o desmonte do ensino básico, e a implementação de cursos técnicos com baixa carga horária e baixa qualidade de ensino, para que se crie com agilidade mais mão de obra barata, ingressando os jovens cada vez mais cedo no mercado de trabalho de forma precária, enquanto não se garante o direito à educação, cujo acesso deveria ser universal. 

A saída que Bolsonaro fortalece, junto aos governos estaduais de vários estados (como Paraná, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia) é a da militarização. Fazer escolas cívico-militares que controlam seus alunos e impedem o pensamento crítico é só uma alternativa para fortalecer a extrema direita e as ideias fascistas entre a juventude. Não vamos aceitar: bolsonarismo entre os estudantes não passa!

Estudante é revolução!

A ferramenta que sempre tivemos para fazer frente a todos esses ataques é o movimento estudantil. Os secundaristas participaram das gigantescas ocupações de escolas em 2015 e 2016, além de estarem na linha de frente no tsunami da educação em 2019 contra os cortes de Bolsonaro. Mesmo durante a pandemia, fomos protagonistas de batalhas vitoriosas, como o #AdiaEnem e a luta pelo FUNDEB. Em muitas escolas pelo Brasil, somos nós que estamos organizando campanhas de solidariedade para oferecer comida, uniformes e livros a quem não consegue comprar. Inspirados nos secundaristas que não aceitam mais as mentiras dos grandes governantes por todo o mundo, estamos mobilizados contra as mudanças climáticas que estão nos fazendo vítima, contra o racismo que nos massacra dentro de nossas casas e contra o machismo e a LGBTfobia que nos violenta e nos impede de viver. Somos estudantes e é da nossa organização, em cada grêmio e sala de aula, que vai sair a revolta que está entalada na nossa garganta.

O 44° congresso da UBES, que irá ocorrer em maio de 2022, tem um papel central na rearticulação do movimento secundarista nacional. A UBES hoje precisa ser uma ferramenta que estimule  a organização por dentro das escolas, e não só um rosto nas negociações parlamentares, que os estudantes acompanham de longe. Devemos utilizar esse espaço como um palco para organizar um movimento secundarista que se comprometa em ser a pedra no sapato desses governos autoritários que nada fazem em prol de uma educação emancipadora e de qualidade. Transformaremos a nossa indignação em mobilização, e o nosso ódio, à radicalidade na luta coletiva com aqueles que prestaram solidariedade ativa em meio a crise que vivemos! A reorganização do movimento secundarista, a partir deste congresso, deve estar a serviço da construção de mobilizações nas escolas, nos bairros e periferias das nossas cidades com o objetivo de derrubar esse projeto excludente de desmonte da educação!

O Coletivo Juntos! convida cada estudante para organizar no seu grêmio e na sua escola a faísca de revolta que vai incendiar o Brasil. Nossa luta é nós por nós, contra aqueles que querem massacrar nosso futuro. Nos vemos na luta!

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