MBL e Novo são expulsos da Unicamp: universidade não é lugar de racista!
Estudantes enfrentam militantes do MBL na Unicamp

MBL e Novo são expulsos da Unicamp: universidade não é lugar de racista!

Não dialogamos com fascistas, e lutamos permanentemente em defesa dos direitos do povo, e por uma sociedade cada vez mais igualitária e justa. Que cobrem dos bilionários a crise, taxando suas exorbitantes fortunas, e deixem os pretos e pobres na universidade!

Juntos Unicamp 2 jul 2022, 11:24

Na última quarta-feira (29/6), o movimento Juntos e o Diretório Central dos Estudantes da Unicamp, somados a outros coletivos do movimento estudantil e dezenas de estudantes da universidade interrompemos a atividade que o Unicamp Livre e a UJL promoveram junto do partido Novo, para apresentar suas ideias reacionárias contra o avanço das políticas afirmativas nas universidades públicas, e para defender a cobrança de mensalidade nessas instituições de ensino e de produção de conhecimento científico para a sociedade.

Estes coletivos liberais são financiados pelo Students for Liberty, uma organização internacional que recebe arrecadações milionárias de banqueiros e empresários, principalmente norte-americanos, e que remunera pessoas e garante estrutura para grupos como MBL e similares promoverem uma série de propostas contra os serviços públicos ofertados gratuitamente ao povo, como as universidades públicas e o SUS. O objetivo deles é avançar com as privatizações, muito lucrativas a esses bilionários, mas que jogam para o povo as contas da crise econômica profunda que atravessa todo o mundo. Como é conhecido, os métodos utilizados por esses grupos de extrema-direita, que estão nas redes e nas ruas desde 2016, são associados à provocação, exposição e humilhação de seus opositores, junto com violência moral e física. Estes foram parte importante da consolidação do golpe parlamentar de Michel Temer e a ascensão e eleição do genocida Jair Bolsonaro em 2018. Impedir a propagação desses grupos está diretamente associado a conter o avanço da extrema-direita fascista e o neoliberalismo radical em nosso país, que nos últimos anos foi responsável por colocar milhões (principalmente jovens) no trabalho precário e sem perspectivas de futuro, na situação de miséria e fome.

As universidades públicas historicamente se constituíram a partir de uma lógica de extrema desigualdade na possibilidade de acesso e permanência, como é amplamente reconhecido por toda a sociedade. Nós, estudantes negres, pobres e trabalhadores, graças às políticas afirmativas como as cotas para estudantes de escolas públicas, raciais e o vestibular indígena, temos pela primeira vez na história do nosso país a oportunidade de ingressar nessas instituições e nos formar profissionalmente com qualidade, e assim produzir ciência a partir da nossa realidade, como os mais ricos sempre puderam fazê-lo. Diferentes pesquisas nos últimos anos vem comprovando como as políticas afirmativas foram essenciais para a transformação no perfil dos estudantes do ensino superior público, mesmo que ainda haja muito que precisa avançar para que a inclusão da maioria do povo seja efetivada nessas instituições. 

Esses dados comprovam que tudo jogou contra nós até os dias de hoje, e que não podemos relaxar na luta para impedir os retrocessos nas recentes políticas públicas que democratizaram as universidades. Desde a prova do vestibular, que por si só já filtra de maneira excludente a maioria dos estudantes oriundos de escolas públicas e regiões periféricas, até a estrutura, métodos de ensino e financiamento das universidades públicas, historicamente nos impediu de aqui estar, e ainda hoje o modelo de universidade não alcança as novas demandas desses estudantes cujo perfil socioeconômico é mais dependente das garantias de programa de permanência (como moradia, alimentação, transporte, saúde e segurança, por exemplo). Não houve contrapartida orçamentária para acompanhar a transformação no perfil dos estudantes e o pior nos ronda: o comprovado avanço no acesso promovido pela conquista das cotas raciais e socioeconômicas, fruto de décadas de luta política dos movimentos negros e estudantis, pode sofrer um grande ataque este ano.

Em poucas semanas, entrará em pauta no congresso nacional a revisão da lei de cotas, e não à toa grupos oportunistas de extrema-direita preparam o terreno para questionar a validade dessas políticas – mesmo que contra o que a própria ciência demonstra. Ao movimento estudantil, se impõe a necessidade de mobilização urgente em defesa das políticas já conquistadas, e pela exigênciadas de um maior investimento na educação e na ciência para a continuidade desse processo de popularização  universidades públicas. A realidade dos mais pobres, mesmo aqui dentro, ainda é tocar a duras penas nossos cursos de graduação ou pós-graduação, conciliando múltiplas jornadas de estudo e trabalho, o que gera condições ainda muito desiguais de concorrência com nossos colegas. Além disso, sabemos que a maioria do povo nem vislumbra a possibilidade de acessar tal direito, mesmo sendo gratuito.

Com a série de cortes promovidos no orçamento da educação e da ciência desde 2014, o financiamento das universidades, principalmente das federais, se torna cada vez mais insustentável, e é preciso mais investimento e se repensar as formas de sustentar o orçamento, cuja demanda só cresce. Contudo, a ameaça de possibilidade de cobrança de mensalidades pode aprofundar ainda mais as desigualdades que tanto destacamos aqui, como a experiência prática já comprova. É preciso cobrar dos mais ricos a responsabilidade pela crise como um todo, taxando-se as imensas heranças e rendas que poucos bilionários estão acumulando enquanto a maioria do país vê o salário não rendendo até o fim do mês, e tem que sobreviver em meio aos altíssimos preços do combustível e dos alimentos, e num cenário em que os direitos trabalhistas se tornaram obsoletos. Esta é a política dos neoliberais: enriquecer acionistas, e tirar do povo seus direitos historicamente garantidos.

Acreditamos que a maioria da juventude não se ilude com as manobras argumentativas desses grupos oportunistas, e estamos a disposição para organizar todos aqueles e aquelas que acreditam que nem os bilionários e nem a fome deveriam existir, começando pela defesa da universidade pública, de qualidade, gratuita e de fácil acesso a todo o povo. Não dialogamos com fascistas, e lutamos permanentemente em defesa dos direitos do povo, e por uma sociedade cada vez mais igualitária e justa. Que cobrem dos bilionários a crise, taxando suas exorbitantes fortunas, e deixem os pretos e pobres na universidade!


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