Os apps estão parados: agora quem fala grosso somos nós!
(Foto: Roberto Parizotti/Fotos Publicas)

Os apps estão parados: agora quem fala grosso somos nós!

Sobre a paralisação dos trabalhadores de aplicativos

Gabriel Braga e Laura Ravana 8 jan 2023, 10:42

O consumo de aplicativos de entrega de diversos ramos vem numa crescente desde o auge da pandemia, com esse aumento de consumidores aconteceu também um boom na categoria dos trabalhadores de aplicativos como do Uber, iFood e similares, não só os colocando em evidência mas também em uma das frentes daqueles que não tiveram o direito ao isolamento social e a condições de segurança garantidas durante a crise sanitária que caia sobre o mundo. 

O discurso da valorização do empreendedorismo individual, o anseio pelo título e status social de “ser seu próprio chefe” enganou e ainda engana muitos trabalhadores dessas classe, que fazem rotinas exaustivas e colocam dia a dia suas vidas em risco em troca de um salário incerto que muitas vezes é a única renda de muitas famílias. 

Em julho de 2020, líderes espontâneos se forjaram nas lutas da categoria e assim surgiu o primeiro Breque dos apps, que teve apoio em vários estados e desaguou no dia 25 do mesmo mês, numa paralisação nacional. Foi o primeiro de muitos em busca de mais direitos. 

 Agora, o movimento dos trabalhadores de aplicativos anuncia oficialmente a primeira paralisação nacional de 2023 no próximo 25 de janeiro, onde serão reivindicadas melhores condições de trabalho, participação nas discussões sobre a regulamentação das plataformas no Brasil e criação de um fundo social para proteção aos trabalhadores.

Vale relembrar que a categoria dos trabalhadores de aplicativos foi diretamente atingida pela Covid-19. Diversos entregadores foram infectados pelo vírus, porém sem quaisquer direitos para assegurar seu trabalho. Além disso, o alto nível de desemprego durante a pandemia aumentou a procura pelos aplicativos como alternativa de trabalho. Porém, muitos desses trabalhadores foram submetidos a condições extremamente precarizadas de trabalho sem garantias.

Durante o governo Bolsonaro, esses trabalhadores organizaram diversas mobilizações a favor da categoria, exigindo melhorias, mostrando que a luta precisa seguir independente de governo. Nesse sentido, a proposta da auto-organização desse importante setor levanta um debate importante sobre as lutas durante o governo Lula.

O processo de eleição em 2022 para a derrota da extrema-direita na figura de Jair Bolsonaro exigiu a mais ampla unidade para que a democracia permanecesse. Dessa tarefa, saímos vitoriosos. No entanto, a defesa do atual governo Lula não pode ser um impedimento para que a classe se organize em prol de melhores condições de trabalho. O novo ministro do trabalho já deu declarações sobre a reforma trabalhista e não se colocou completamente contra, pelo contrário, declarou que haveria apenas uma revisão parcial e que os trabalhadores de aplicativo, por exemplo, não teriam direitos assegurados como CLT e que teria mais diálogos e negociações com os empresários.

Ora, não deveria ser agora, em um governo de esquerda, que diálogos como esses deveriam ter prioridade com a classe trabalhadora? Se antes lutamos arduamente contra a reforma trabalhista, por que deveríamos agora aceitar sua versão maquiada? Com a maior abertura para defender abertamente nossas posições, é tarefa das organizações de esquerda apoiar e impulsionar qualquer luta organizada pelos trabalhadores.

A classe trabalhadora e suas movimentações tem o dever de serem soberanas e acima de tudo INDEPENDENTES, o  partido, a voz, a palavra de ordem e o guia da classe foi e sempre será os trabalhadores. Claro que defender um governo de esquerda num cenário ainda de crescente do fascismo no Brasil é uma tarefa essencial, mas isso não tira o mérito e muito menos apaga o fogo das lutas dos breques de apps em todo país.

As frentes amplas que foram construídas para a vitória de Lula na última eleição terão consequências. Nós da esquerda radical sabíamos disso, mas é preocupante que essas uniões sejam mais valorosas ao governo do que a voz e a união com o povo e a classe trabalhadora.

É preciso sim organizar greves gerais, movimentações de base e construir atos nacionais pelo revogaço das reformas! Não aceitaremos revisões parciais e negociatas com a iniciativa privada pela escolha de quais direitos eles nos darão ou não. Não queremos apenas uma fatia do bolo, nós queremos mudar a receita! A luta da classe trabalhadora no brasil não começou no governo Bolsonaro e tão pouco acabou no governo Lula, todo apoio a greve dos trabalhadores de aplicativo e seguiremos juntos pela emancipação de todos sem nenhum direito a menos.


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