Seguiremos lutando: sem tréguas, sem anistia!
Entre os dias 02 e 05 de janeiro, o Juntos! participou da 13ª Bienal da UNE, que aconteceu no Rio de Janeiro. Estivemos com uma delegação de mais de 400 jovens de todas as regiões do país organizados para disputar os rumos do Movimento Estudantil nacional secundarista e universitário, e apresentar a necessidade de enterrar Bolsonaro e a extrema-direita, e construir um Brasil que nunca existiu.
Bienal da UNE: o primeiro encontro estudantil após os atos do dia 08 de janeiro
A Bienal da UNE aconteceu em um momento fundamental da conjuntura brasileira. Há praticamente um mês, militantes golpistas invadiram as sedes do Congresso Nacional, do STF, e do Palácio do Planalto, numa demonstração de que a extrema-direita (e a luta para derrotá-la) não terminou na derrota de Bolsonaro nas eleições do ano passado. Apesar de não ter chegada a uma vitória eleitoral em sua reeleição, Bolsonaro consolidou uma legião de seguidores de extrema-direita, exemplificada nos acampamentos em frente aos quartéis do exército e na própria invasão das sedes dos 3 poderes em Brasília, com anuência das forças de segurança do Distrito Federal.
Este evento, além da sua própria gravidade em si, deixa nítida a necessidade de seguirmos mobilizados para derrotar a extrema-direita, como fizemos nas manifestações no dia 09/01, em resposta aos eventos do dia anterior. O combate ao Bolsonarismo não pode se limitar às instituições – ainda que elas sejam importantes – porque elas respondem à lógica de manutenção do regime político brasileiro e seus interesses de classe- mesmo que elas possam se chocar por vezes com os interesses do Bolsonarismo -, e possuem uma correlação de forças muito desfavorável a quem defende os interesses do povo. É necessário expressar uma nova relação de forças nas ruas, a partir de baixo, da mobilização, dos trabalhadores e dos movimentos sociais, e para isso os estudantes cumprem um papel fundamental.
Inegavelmente, o Movimento Estudantil foi ponta de lança da luta contra Bolsonaro e a extrema-direita. O Tsunami da Educação, em 2019, foi a primeira grande demonstração de maioria social contra Bolsonaro, naquela ocasião a partir da luta em defesa da educação. Mas, além dele, não faltaram demonstrações de força dos estudantes contra a extrema-direita, seja nos grandes atos de 2021, nas campanhas de solidariedade durante a pandemia, na luta contra os interventores nas universidades, contra os cortes de verba e por mais orçamento. Diante disso, a Bienal se impôs como uma importante resposta unitária do Movimento Estudantil.
A Bienal: um reencontro que não pode ser visto de forma isolada
Acreditamos que a Bienal da UNE foi um importante espaço de encontro, intervenção e debate, reunindo cerca de 5 mil estudantes de todo o país. Reuniu importantes debates, sobre meio ambiente, negritude, a educação, cultura e identidade nacional, perpassado por uma agenda de mostras e apresentações das mais diferentes intervenções culturais brasileiras. Ao mesmo tempo, acreditamos que fez falta um espaço mais marcadamente de unidade antifascista, que pudesse ter apontado um sentido comum do conjunto do Movimento Estudantil para a luta decisiva contra a extrema-direita.
Desde o fim da pandemia o movimento universitário ainda não tinha tido um encontro na dimensão da Bienal: isso significa que na maior parte do governo Bolsonaro, não pudemos ter espaços de troca e elaboração presencial entre os estudantes. Nisso, a Bienal teve um papel fundamental – trouxe de volta milhares de estudantes um espírito da força e do peso que o movimento estudantil pode ter quando se organiza coletivamente. A faixa de “Sem Anistia” colocada nos Arcos da Lapa foi um símbolo de unidade importante no combate da extrema direita, que precisa ser vista como uma agenda contínua para todo nosso próximo período. Enquanto parte da juventude de direita, como a UJL, entravam no encontro como forma de tumultuar e reforçar bandeiras que foram base de apoio ao genocídio bolsonarista em todos últimos anos, a existência de um debate e ação de unidade antifascista teria feito o enfretamento a essas políticas através da imposição de uma maioria social contra essa agenda retrógada.
Porém, as limitações da Bienal se expressaram desde sua construção. O peso institucional para ministros e secretários nas mesas, somadas à falta de um momento de armação ou orientação da mobilização estudantil no próximo período, colocaram em alerta um desafio para nós. O movimento estudantil não pode sair do combate ao bolsonarismo para ser uma correia de transmissão do atual governo – é necessário independência e uma reivindicação constante que os direitos dos estudantes sejam garantidos. Nada nunca caiu do céu para nós, a derrota de Bolsonaro ainda é pouco: se não estivermos mobilizados permanentemente não teremos conquistas. Essa mensagem, que faltou na Bienal, precisa estar em nossa narrativa e construção pelas entidades de base do movimento.
Nesse sentido, vale ressaltar duas importantes atividades que nós do Juntos participamos. A primeira, nosso cortejo por Justiça Por Marielle – uma atividade que disputou o sentido de fortalecer o papel do movimento estudantil não se fechar somente em uma disputa interna, mas que possa ser um polo de disputa de consciência e construção de mudanças estruturais no país. A disputa para que tenhamos prisão para Bolsonaro e sua gangue e uma resposta imediata para saber quem matou nossa companheira Marielle é um tema importante que os estudantes precisam ser ponta de lança. Nesse sentido, nossa atividade passou por todo centro da cidade do Rio de Janeiro buscando dialogar com a população sobre esse tema – agregando mais pessoas durante o cortejo e ampliando esse fator ponta de lança e exemplo necessário do movimento estudantil em conexão com a população e os trabalhadores.
Além disso, a atividade que nós do Juntos construímos com os coletivos RUA, Afronte, Manifesta, Fogo no Pavio, Pajeú, Ecoar, Vamos à Luta e Travessia, merece destaque. Juventudes que se referem no PSOL como um aliado da luta estudantil no enfrentamento à extrema-direita, por Justiça para Marielle e na reivindicação de mais direitos e de uma sociedade justa e igualitária. A mensagem dessa atividade foi fundamental para colocar a necessidade de expressar uma nova forma de fazer política – que não seja voltada a defesa de governos e sim à luta e mobilização estudantil e que, ao mesmo tempo, não se feche em si, numa lógica que nos bastamos por nós mesmos, mas que coloque como desafio debater e se conectar com os milhares de estudantes, em toda sua pluralidade no país. O movimento estudantil é um polo fundamental para construirmos uma maioria social no Brasil e influenciar e se conectar com os diversos setores da sociedade, ele deve servir a uma luta política anticapitalista por mudanças estruturais no Brasil e no mundo – isso constitui um dos nossos maiores desafios.
Os próximos passos: luta por um movimento estudantil antifascista, amplo e independente
Se por um lado a extrema-direita segue forte, por outro sabemos que a eleição de Lula altera as condições de luta e de reivindicações. Diferentemente de Bolsonaro, que apostava suas fichas na instauração de um regime autoritário, Lula sem dúvidas é um defensor das liberdades democráticas da forma como elas existiram no Brasil desde o final da Ditadura Militar. Isso nos coloca diante de um novo horizonte: se passamos os últimos anos respondendo a todo momento aos inúmeros cortes de verba e ataques à educação, agora devemos não somente negar, mas afirmar qual projeto de educação e, por consequência, de sociedade queremos para o Brasil. Enfrentaremos o retrocesso das ideias neofascistas, afirmando também o programa de direitos urgentes que estão conectados com as mudanças estruturais necessárias.
Em primeiro lugar, é necessário recuperar o orçamento da educação. Deixando bem evidente que não aceitamos as garras do setor privado na educação pública, como promoveu recentemente a Secretária de Ensino Superior do MEC e Ex-reitora da UFRJ, um Leilão de parte do patrimônio da maior Universidade Federal do país e como tende a se constituir a orientação geral do MEC em seu “modelo Sobral” de Camilo Santana. Precisamos ampliar o orçamento e garantir que seja aplicado, reajustar as bolsas, reverter a Reforma do Ensino Médio e discutir amplamente uma nova reforma, rever todas as intervenções e acabar com a lista tríplice, além de seguir ampliando as cotas raciais para pós-graduação e para pessoas trans. Esse é o momento de tomar em nossas próprias mãos o futuro da educação e o protagonismo do projeto que defendemos.
Acreditamos que mais do que se acomodar com o que nos é apresentado como possível, devemos erguer firme nossas bandeiras históricas e nos organizarmos desde baixo para avançar nessas lutas. Por isso o Juntos! promoveu durante a Bienal reuniões das frentes pela legalização da maconha, do Juntas!, das pessoas LGBT e pessoas Trans, da negritude, dos jovens trabalhadores, além dos secundaristas. É necessário uma esquerda que consiga representar a pluralidade da nossa luta chegando a todos setores. Nisso a pauta Ecossocialista é fundamental para avançarmos em uma concepção de esquerda que dialogue com a emergência climática que vivemos e a necessidade de ir à raiz dos problemas. Também é importante levar em consideração a situação de precarização do mundo do trabalho em que a maioria dos jovens estão metidos. Defender uma universidade e escola atenta aos interesses e necessidades do estudante trabalhador é uma de nossas prioridades.
Para isso, seguimos batalhando, junto aos setores da Oposição, para que a UNE seja uma entidade independente do Governo Federal, ou seja, para que saiba defender o Governo dos ataques da extrema-direita, mas que não se paute pelas agendas e pelos limites do Governo Federal, como ocorreu durante os 13 anos dos governos Lula/Dilma, e sim pelas necessidades dos estudantes. Buscamos disputar essa ideia na Bienal a partir das intervenções dos nossos parlamentares parceiros, Vivi Reis, mulher amazônida, ecossocialista e ex-Deputada Federal pelo PSOL/PA; Professor Josemar, Deputado Estadual pelo PSOL/RJ; e Fábio Félix, Deputado Distrital pelo PSOL/DF, o LGBT que foi o deputado mais votado da história do DF.
Somado a isso, é necessário seguir apostando na mobilização social como método de luta, priorizando os espaços democráticos de auto organização estudantil. Nisso, colocamos como prioridade a construção das mobilizações estudantis em todo país, o 8 de março e 14 de março surgem como primeiros calendários fundamentais para que os estudantes possam retomar as ruas em 2023. Além da unidade antifascista na semana de luta por Ditadura Nunca Mais final de março e início de abril. Nesse sentido, seguiremos em uma construção conjunta com os DCEs, Centro Acadêmicos e estudantes de forma geral no próximo período – é no trabalho de base, do dia a dia, que precisamos estar para construir uma nova alternativa para o movimento estudantil brasileiro.
Por fim, a radicalidade não pode se contrapor à necessidade de construir um movimento amplo, que dialogue com amplas camadas sociais, e siga disputando maioria social. Este processo exige, em determinados momentos, privilegiar intervenções unitárias a iniciativas que privilegiem a autoconstrução dos grupos. Não acreditamos que será com o heroísmo individual ou a autoproclamação que combateremos o fascismo, mas com a ação consciente do movimento de massas que demonstre sua maioria política. Nossa luta é para a construção de uma alternativa anticapitalista que seja ampla, para todos estudantes, mas que demarque sua independência e radicalismo, não abaixando a cabeça para nenhum fascista, mas também para nenhum governo. Esse ano ainda nos encontraremos no Congresso da União Nacional de Estudantes, reforçando o modelo de movimento que acreditamos e ampliando nossa intervenção a todo estudante que queira conhecer e construir uma alternativa real no seu curso, universidade e no país como um todo. Se você é um deles, vem conosco, faça parte do Juntos!