Contra as mentiras – a UNE necessita de um bom debate de divergências
Foto de Camila Mai

Contra as mentiras – a UNE necessita de um bom debate de divergências

Nas batalhas contra a extrema direita e nas lutas em defesa dos direitos da juventude sabemos que a nossa unidade fortalece a luta do movimento estudantil. E não nos furtamos dela. Mas também não nos furtamos de fazer o bom debate político das nossas divergências, sem as baixarias e mentiras que são tipicamente utilizadas por setores da direita.

Fabiana Amorim 17 abr 2023, 13:47

No último fim de semana ocorreu o CONEG da UNE, em que o Movimento Juntos!, juntamente com os movimentos Correnteza, UJC, Rua e Afronte, denunciou a operação de artificialização que, sob a direção da UJS e através do movimento Bloco na Rua, junto com outros agrupamentos da direção majoritária da entidade, foi feita para garantir sua maioria na UNE de forma antidemocrática (https://juntos.org.br/2023/04/vale-tudo-para-garantir-a-maioria-da-une/). Esperávamos ter aberto com a carta um bom debate entre os setores da juventude, para buscar sínteses que pudessem refletir a concepção de movimento, o papel das entidades, a necessária luta unitária contra a extrema direita. 

Porém, fogem e se abstém da defesa e/ou justificativa dos seus métodos e regras antidemocráticas. Deveriam responder porque temos regras burocráticas que tornam mais permissivas a construção de DCEs vazios, com pouca participação e sem representação ampla, do que inscrever chapa para disputar delegados em eleições proporcionais para o Congresso da UNE? O delegado tem o papel de ir ao Congresso votar na sua tese, ja a diretora do DCE tem o papel permanente de representar os estudantes por pelo menos um ano. Os delegados devem representar a pluralidade de ideias e posições que fortalecem a UNE como entidade.

Desde que abrimos publicamente este debate, militantes da UJS e páginas ligadas a essa juventude vêm fazendo um ataque coordenado ao nosso movimento nas redes sociais, chegaram recentemente ao absurdo de nos chamar de a “juventude de Bolsonaro” e fazendo referências às disputas internas do PSOL para afirmar que o Juntos! “fundou um partido e não dirige mais ele”. 

Em primeiro lugar, é patética a tentativa de ligar o Juntos! ao Bolsonaro, e mostra o desespero de quem não é capaz de responder na política ao debate e às denúncias de fraudes. É patético porque os companheiros sabem que estivemos lado a lado em diversos momentos de luta e enfrentamento contra Bolsonaro. Somos parte daqueles que construíram a unidade de ação desde o governo golpista de Temer, com as ocupações de escolas e o #OcupaBrasilia, até as manifestações antifascistas e antirracistas, e todas as lutas contra Bolsonaro. Fomos um dos primeiros a apresentar um pedido de impeachment de Bolsonaro, quando a UNE e outras organizações de esquerda titubeavam e achavam que ainda não era hora. 

Aqueles que nos acusam de ter posições à direita são justamente os que se calam sobre as violações de direitos humanos que ocorrem hoje na ditadura de Ortega da Nicarágua, e que se recusam a reconhecer a agressão russa contra a Ucrânia, ficando ao lado de setores ligados ao imperialismo russo, que possui um governo autoritário e extremamente conservador. Não à toa inclusive quem teceu repetidos elogios a Putin foi o próprio Bolsonaro. Nós do Juntos!, por outro lado, estamos junto à classe trabalhadora do mundo todo contra as opressões e agressões dos Estados em que levam apenas a classe dominante a triunfar. Defendemos a bandeira da auto-determinação dos povos. 

Em segundo lugar, o comentário feito sobre o PSOL muito nos espanta que seja feito justamente pela juventude do PCdoB, que vive uma crise de projeto e identidade. Os rachas recentes, com quadros importantes, alguns inclusive que foram dirigentes e Presidentes de grandes entidades como a UBES, indo para o PT e até mesmo para o PSOL, mostram a fragilidade que o PCdoB se encontra hoje. Além disso, o partido diminuiu sua influência parlamentar, reduzida a 6 deputados federais (menos da metade do PSOL) e perdeu nos últimos dois anos cerca de 13 mil filiados, em uma tendência de queda permanente. Sofrem hoje o balanço da aposta de se diluir no campo dirigido pelo PT, e no campo programático se deparam com as insuficiências do programa neodesenvolvimentista que apostou na lógica etapista e de conciliação com a burguesia, levando, por exemplo, a liderar a defesa do projeto de Belo Monte. Nesse cenário a manutenção da direção das entidades estudantis, utilizando muitas vezes métodos escusos para isso, se impõe como uma necessidade. 

O PSOL, por outro lado, tem hoje a maior bancada federal da sua história, com 13 deputados, a diversidade da bancada é expressão do crescimento das lutas democráticas na sociedade, e vêm ampliando sua influência sobre um setor de massas, disputando prefeituras, e se tornando o segundo maior partido de esquerda do Brasil. O MES, corrente do PSOL com a qual o Juntos! tem relação, tem 2 deputadas federais reeleitas no último pleito, ambas fundadoras do Juntos!, além de uma bancada expressiva pelo país de vereadores e deputados estaduais em capitais importantes como São Paulo, onde temos a mais jovem vereadora negra eleita na história. Ocupamos o parlamento burguês como forma de fortalecer a luta fora dele, fazendo de nossos parlamentares verdadeiros tribunos do povo. 

Estamos entre aqueles que fundaram o PSOL e temos muito orgulho desse feito e do alcance e pluralidade que o partido alcançou. Não é segredo para ninguém que há divergências internas no PSOL, mas se isso ocorre é também porque hoje as posições do PSOL influenciam não apenas um pequeno grupo de vanguarda, mas o conjunto da esquerda do país e podem apontar para a superação de uma velha esquerda que segue apostando na conciliação de classes como projeto e na burocratização dos movimentos sociais como método de imposição de maioria. Não à toa foi no PSOL que os últimos impulsos de renovação e fortalecimento das lutas feministas, antirracistas, contra a LGBTQIA+fobia, dos povos originários, da juventude encontrou mais ressonância e visibilidade, inclusive parlamentar. O nome Socialismo e Liberdade carrega consigo uma aposta na superação da velha esquerda e na construção do método da mobilização como caminho de afirmação das nossas pautas e bandeiras. 

Nas batalhas contra a extrema direita, nas lutas em defesa dos direitos da juventude, como a recente pela revogação imediata do Novo Ensino Médio, ou mesmo na construção de calendários unificados de mobilização, sabemos que a nossa unidade fortalece a luta do movimento estudantil. E não nos furtamos dela. Mas também não nos furtamos de fazer o bom debate político das nossas divergências, sem as baixarias e mentiras que são tipicamente utilizadas por setores da direita. Não é e nem deve ser o nosso método. Na luta unitária do Sem Anistia ao Bolsonaro e os golpistas e pela prisão dele e de seus comparsas, contém com a militância do Juntos!.


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