Sobre os ataques nas escolas
Reprodução/TV Gazeta

Sobre os ataques nas escolas

Apenas através do reconhecimento do fascismo como propulsor desses ataques, seremos capazes de construir um ambiente escolar antifascista livre do extremismo e que abrace a diversidade.

Para além da solidarização com as vítimas dos massacres ocorridos em escolas, nós, do coletivo Juntos, reiteramos a necessidade de análise sociopolítica dessas ações: apenas através do reconhecimento do nazifascismo como propulsor desses ataques, seremos capazes de construir um ambiente escolar antifascista livre do extremismo e que abrace a diversidade.

Nos últimos meses os ataques às escolas cresceram assustadoramente, aumentando o temor das crianças e adolescentes, e de suas famílias, por suas vidas. Entretanto, ao contrário do que domina no imaginário popular, esses casos não estão isolados: fazem parte de um projeto político nazifascista de aquisição do poder através do amedrontamento da população. Por si só, o fato de esses atentados ocorrerem em instituições básicas de ensino já demonstra seu caráter retrógado. As vítimas são, muitas vezes, crianças e mulheres, sendo essas últimas as principais a ocupar cargos dentro do ambiente escolar de base, tanto na área do ensino como nas demais. Assim, os indivíduos por trás desses assassinatos procuram demonstrar sua superioridade moral e física em relação a  grupos historicamente vistos como inferiores, em um processo simbólico carregado de significados. A escolha dos locais de ataque também não é ao acaso. Os colégios, sinônimos de propagação do conhecimento e de luta pela emancipação, ocupam papel central na promoção de debates e no compartilhamento de vivências essenciais para a construção identitária dos seres humanos. Dessa forma, para além da promoção do assassinado e do medo em massa, esses atos extremistas demonstram o interesse em censurar os processos coletivos de aprendizagem e reimaginação do mundo, em uma nítida política totalitária. 

Dos 23 massacres ocorridos nos últimos 22 anos no Brasil, 9 foram entre o segundo semestre de 2022 e 2023, de modo que é inegável a influência misógina e supremacista (branca), bem como a flexibilização da venda de armas durante o governo fascista de Bolsonaro. Segundo levantamento UOL, 33% dos ataques desde 2019 tiveram referências nazistas, fruto da banalização de discursos intolerantes proferidos pela extrema-direita que, a partir de seus dispositivos ideológicos, persuadem jovens, convencendo-nos a ter aversão ao “diferente”, de modo a ampliar a hegemonia nazifascista em um país em que as devidas reparações históricas não foram concretizadas, colaborando ainda mais para a instabilidade e o colapso políticos. Dessa forma, muito mais que supostos casos isolados, percebe-se a conexão através do conteúdo discriminatório e violento dos atentados,  funcionando como precursores de um projeto político fundamentalmente neonazista.

Ao falarmos sobre a divulgação através do meio midiático (internet, redes sociais, jornais…) a respeito de crimes de ódio e massacres em instituições de ensino, é aberto um amplo debate sobre o silenciamento e o apagamento dos casos, além da discussão sobre o jornalismo policial e a militarização de escolas. Portanto, é válido ressaltar que o campo jornalístico deve tratar o tema com muita delicadeza,  pois os autores nazifascistas procuram espalhar medo e obter idolatria de outros jovens. Para tal, diferentes pontos de vista são apontados: um em que a mídia deve silenciar-se para impedir que outros jovens sejam influenciados; e outro em que os casos devem ser divulgados sem sofrer silenciamento. O campo midiático deve sim divulgar os casos ocorridos, já que o apagamento deles nos traz uma realidade distorcida e empobrece as críticas à ação da extrema-direita no Brasil. Entretanto, esse debate deve ser feito de um ponto de vista não reacionário no qual impeça a idolatria desses criminosos no qual fotos e nomes dos mesmos não sejam enfatizadas ou sequer faladas. Além disso, os meios de comunicação online como o twitter e o instagram são, hoje, a principal forma de disseminação dos pontos de vista fascistas, criando “liberdade” para esse tipo de discurso e identificação, de modo que é necessário uma monitoria capaz de impedir a disseminação desta tal idolatria. 

Por outro lado, o jornalismo policial surge trazendo como solução o armamento da população e o combate da violência com mais violência. Mas, na visão realista da coisa, sabemos que isso apenas piora e aumenta a doutrinação direitista no campo das escolas, trazendo como exemplo os Estados Unidos – país extremamente militarizado e com grande ocorrência de massacres. Neste sentido, é preciso demonstrar que a militarização de instituições de ensino apenas concorda com os interesses burgueses. Além disso, o silêncio do Governo chama atenção, até porque, algo precisa ser feito imediatamente para frear essa onda de ataques que vem ocorrendo. Com isso, é fundamental cobrar as autoridades por respostas e por punições contra os responsáveis por esses atos imperdoáveis de violência!! 

Ademais, percebe-se que a escalada da violência escolar não é de hoje. Nos anos 2000, por exemplo, as escolas do Distrito Federal, em especial as da rede pública, eram assoladas com brigas, de modo que não era incomum a morte de jovens, inclusive daqueles/as/us que não tinham relação alguma com os conflitos. Entretanto, quando se trata de estudantes da rede privada, como o recém ataque em Blumenau, o olhar midiático muda. Da mesma forma, é perceptível a diferença de tratamento que os atentados no Sudeste/Sul, como em São Paulo e Santa Catarina, recebem se comparados com aqueles que ocorrem nas demais regiões, como os ocorridos em Goiás e Ceará. Assim, por mais que lamentemos a morte de todos os indivíduos vítimas desses conflitos, é importante a análise de como a mídia hegemônica os/as/es retrata, colocando maior enfoque em áreas que são historicamente privilegiadas, bem como em corpos mais aceitos pela sociedade. 

Assim, se o problema é não somente social, mas estrutural, bem como é mais comum do que pensávamos, a solução deve ser coletiva: em um país em que o ambiente escolar é, muitas vezes, o único local de convívio sociocultural de indivíduos, é necessário que qualquer mudança e tentativa de solucionar essa problemática seja discutida e aprovada pela comunidade. Não aceitaremos qualquer política pública embasada em uma suposta proteção escolar, mas que, na prática, vise a perseguição, desmobilização e apagamento de estudantes, em especial na periferia, como tem sido observado com a militarização das escolas. Em momentos de crise, é imprescindível que a coletividade tome força, uma vez que são os indivíduos que sofrem recorte de cor, classe e gênero mais afetados pelas políticas de terror, amparadas no medo populacional.

As escolas devem ser um espaço libertador, onde se formem cidadãos críticos e conscientes, que tenham a clareza da indispensável importância de ter conhecimento sobre a história para que suas mazelas não se repitam, novamente, de forma brutal. Paulo Freire disse: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”, e vemos claramente o resultado dessa educação que reprime, hoje, no Brasil. Desta forma, torna-se indispensável a criação de grêmios estudantis que irão promover cultura e debates políticos dentro da área escolar. A forma de politização de jovens é a principal arma antifascista que podemos apontar, pois ao criar jovens conscientes sobre o passado e presente, interessados no combate do crescimento do ódio, podemos florescer uma realidade revolucionária. Indispensavelmente, deve-se nutrir o sentimento de revolução e de possibilidade de mudança nos jovens. É urgente a nossa mobilização e reação.

Por fim, o Juntos! e todo o movimento estudantil convida e sugere que os membros da comunidade escolar apresentem interesse na criação de um Grêmio, bem como de outros espaços capazes de construir políticas escolares por e para os/as/es alunos/as/es. Vamos caminhar em conjunto para o combate do nazismo e do fascismo nas nossas escolas, não permitiremos o crescimento desses acontecimentos, precisamos abrir os debates políticos e fornecer acesso ao conhecimento progressista!!!


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