COP 28 e o teatro mundial da resolução da crise climática
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COP 28 e o teatro mundial da resolução da crise climática

A necessidade de tomar em nossas mãos o futuro do planeta

Renata Moara 19 dez 2023, 13:24

Nas últimas semanas centenas de líderes mundiais, empresários, lobistas, e lideranças sociais e ambientais se reuniram em Dubai para a tão esperada COP28. COP essa que aconteceu no petroestado dos Emirados Árabes Unidos, que tem a sétima maior produção de petróleo do mundo, e em meio a maior crise climática já enfrentada em milênios, onde todo o globo sofre as consequências dos desastres ambientais fomentados pela exploração desenfreada do planeta, sendo assim, para além do que já se esperava, a COP28 teve ainda mais visibilidade e atenção redobrada para o que seria debatido no evento.

Acontece que a COP, que outrora pode ter servido para que os líderes mundiais debatassem futuro, fossem traçadas metas, firmados compromissos para um futuro possível, essa definitivamente não foi a COP feita para debater e buscar soluções para os problemas do planeta.

Ainda que tenhamos a participação de movimentos ambientais, sociais, indígenas, esses participam muitas vezes de forma secundária e não são ouvidos pelos grandes capitalistas do mundo, e estão ali para ecoar as vozes dos lutadores dos territórios e denunciar os crimes ambientais cometidos ao redor do mundo, é o caso da liderança indigena do Baixo Tapajós Auricelia Arapiun, que esteve no evento denunciando as políticas ambientais criminosas de Helder Barbalho no estado do Pará sobre a Amazônia, e que também fez duras críticas ao governo federal que não tem cumprido com seu compromisso feito com quem ele mesmo subiu a rampa.

O fato é que essa COP foi um teatro mundial da resolução da crise climática. Não é demais afirmar essa sentença, já que para além de ter sido realizada em um país com economia petrolífera, essa foi a COP que mais reuniu lobistas ligados ao combustível, foram 2.456 no total. E as contradições começam a surgir quando um dos principais debates foi que a humanidade não comporta mais o uso de petróleo, carvão e gás natural, contudo, na carta final da Conferência não foi indicado abandonar, ainda que gradualmente, por completo essas matrizes. O ano mais quente da história também será o ano que baterá recordes em emissões de gases por combustíveis fósseis, e ainda assim saímos da Conferência com a promessa de mais exploração petrolífera, dando passos largos rumo ao leilão do fim do mundo.

A delegação brasileira, maior inscrita no evento com 1.337 pessoas, por meio dos líderes do governo, representou uma ambiguidade entre discurso e prática. A Ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirmou que “é preciso tirar o pé do acelerador das energias fósseis, e um dia após a COP temos um leilão de petróleo no Brasil que se for concretizado e licitado todos os blocos, teremos uma emissão superior a 1 GtCO2e (bilhão de toneladas de carbono equivalente). O volume de emissões geradas pelos novos campos equivaleria ao mesmo volume que o Brasil se comprometeu a cortar nos próximos 6 anos para cumprir com o Acordo de Paris de 2015.

Um dos blocos a serem leiloados fica a 2,4km da mineração de sal-gema da Braskem em Maceió, que hoje é responsável pelo maior crime ambiental em cidades no mundo, Maceió está afundando e corre ainda mais riscos com a exploração do Petróleo na região. Outros 11 blocos estão na cadeia marítima de Fernando de Noronha, a ameaça a estrutura do solo é grande podendo gerar explosões e incêndios, afetar o lençol freático e levar vazamentos de materiais tóxicos para o solo e atmosfera. Os efeitos danosos desse leilão não param, cerca de 80% da área ofertada é prioritária para a conservação ambiental.

Essa política econômica de asfixiamento do planeta afetará também 23 terras indígenas, sendo 22 na Amazônia, e 5 territórios quilombolas. O gerente de Oceanos e Clima da Arayara, Vinicius Nora, afirma que foram identificados na bacia do Amazonas cinco sobrepostos, em unidades de conservação, terras indígenas, áreas prioritárias para a educação, áreas de fracking e impactos em espécies ameaçadas. É imoral que o debate sobre a crise climática seja feito pelos responsáveis pelo caos ambiental que vivemos, lobistas do petróleo, setor financeiro, mineradoras – como a Vale, Braskem -, grandes indústrias dos alimentos processados.

O governo Lula vende nossos territórios aos grandes capitalistas mundiais ao mesmo tempo que discursa sobre sustentabilidade. Não há futuro do planeta, ou da Amazônia com nossas terras sendo exploradas até a última gota pela ganância dos bilionários do mundo. O que vimos nessa COP28 foi a mercantilização da crise climática, a tentativa de capitalizar dinheiro de fora para combater a crise, mas os capitalistas não estão preocupados em salvar o planeta, estão buscando formas de “segurar” o colapso ambiental para ter mais tempo e condições de explorar os recursos do planeta.

Esteve presente também na COP28 o governador do Estado do Pará, estado que deverá sediar a COP30 no Brasil. Helder segue a mesma lógica de falar para fora sobre a importancia da Amazônia e dizer que o Pará é exemplo de políticas ambientais, quando na verdade o estado é campeão em desmatamento e queimadas, sendo ele o governador que sancionou o dia do garimpeiro no Pará. Ou seja, a Amazônia segue sendo moeda de troca entre os poderosos.

Na contramão dos demais países da América Latina que defendem o petróleo e a agroindústria, a participação da Colômbia na COP28 mostra outras perspectivas que devem ser exemplos. Gustavo Petro, presidente da Colômbia decidiu não assinar novos contratos de exploração de petróleo no país, e aponta que o financiamento para a transição energética venha através do turismo, que segundo ele conseguiria um montante suficiente para substituir toda a extração de carvão, essa postura rendeu a Petro o título de “figura única” pela Revista Time.

O que então temos de saldo dessa COP28? Acredito que os problemas foram ainda mais escancarados, com essa política tímida de sinalização para a transição dos combustíveis fósseis, mas sem o fim da queima, seguiremos avançando no aumento da temperatura do planeta, o que trará danos à saúde humana e do planeta, a inalação dos gases provenientes da queima de combustíveis fósseis estão associadas ao aumento de mortes nas últimas décadas. O calor extremo que sentimos em 2023, responsável pelo aumento de desastres e pelo desequilíbrio ambiental, também é herança da queima de combustíveis fósseis.

Sendo assim, para frear o colapso ambiental e salvar o planeta, nós não vamos discutir nos termos deles, mas sim nos nossos. Não podemos nos adaptar a uma política ilusória de que o capitalismo salvará o planeta com seus bilhões de investimentos no mercado financeiro, na realidade o maior culpado do estágio crítico que estamos é justamente o modelo capitalista de produção. Portanto, não há saída efetiva da crise se não o rompimento com as estruturas vigentes e a construção do ecossocialismo, discutir nos nossos termos significa isso, é colocar na mesa que não aceitamos ser fantoches do capital, nem alegorias que sobem a rampa do planalto para ser capitalizadas. É tomar em nossas mãos o futuro do planeta. Anticapitalismo por uma questão de classe, ecossocialismo por necessidade!


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