Em 2024 precisamos ir além para derrotar a extrema direita
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Em 2024 precisamos ir além para derrotar a extrema direita

Por uma alternativa independente e anticapitalista para a juventude

Theo Louzada Lobato 22 dez 2023, 15:20

A tentativa de votação, em 20 de dezembro, do “novo” Novo Ensino Médio foi um símbolo dos desafios e contradições que vivemos no último período. A PL que foi colocada para ser votada em urgência por orientação do governo mantinha diversos retrocessos presentes no projeto anterior que em tese estaria sendo revisado: seguia retirando matérias obrigatórias, diminuindo carga horária e permitindo contratação de professores sem licenciatura. Demonstrando até o último minuto disposição de permitir uma votação no fechar de portas do Congresso que consolidaria enormes retrocessos para a educação brasileira, após uma importante pressão política de diversos setores da sociedade, o PL foi colocado para ser debatido somente em março de 2024.

Colocamos, desde o começo, como Juntos, que a forma que o governo vem pautando esse projeto, não só rifava os direitos da juventude, mas também dava um espaço para fortalecer a extrema-direita. A estratégia de aplicar ajustes com a justificativa de que é o possível dentro da correlação de forças não nos é estranha: é o principal argumento para a política de austeridade neoliberal colocada pelo governo Lula com o arcabouço fiscal e mais recentemente com a meta de déficit zero auto-imposta por Haddad.

Esse modo de governar, muito distinto da imagem que o governo tentou colocar para si na sua posse com a simbólica subida na rampa com diversos setores da sociedade, também se expressou recentemente com a entrada do Brasil na OPEP+, grupo de grandes exploradores do Petróleo no mesmo período em que o governo se punha como liderança ambiental na COP 28. Ou seja, repete um modelo de discurso progressista, colocando ao mesmo tempo políticas antipopulares – algo que vimos ser tentado e falhado em outros governos latinoamericanos.

O resultado de medidas como essa, expressão do pacto do governo com a burguesia, foi fundamental para o surgimento da extrema direita já na década passada no Brasil, mas também foi elemento importante da tomada ou retomada de força desses setores em diversos países, como os Estados Unidos e a Argentina. Nesse sentido, é necessário analisar, o que 2023 nos ensinou e quais desafios a juventude tem para 2024?

As idas e vindas de um ano de transição

Derrotar Bolsonaro foi fundamental, uma marca para nossa geração. Não há dúvidas que caso seu governo continuasse seria um desastre gigantesco para a juventude brasileira. Não à toa, mesmo críticos, estivemos na campanha de Lula para derrotar, custe o que custasse, o bolsonarismo nas urnas ainda em 2022. Porém, a demonstração dos limites do governo já estavam visíveis na chegada: a indicação de ministros como Simone Tebet e Daniela do Waguinho para cargos ministeriais colocava que esse não seria um governo popular, mas um que dependeria muito dos acordos com a burguesia para se manter.

A mudança de gestão, entretanto, também trouxe uma importante diferença para a dinâmica da luta nas ruas. Após um desastroso 8 de janeiro que ajudou a desarticular os setores mais radicais da extrema-direita, as mobilizações de rua diminuíram já no começo do ano – em parte por uma expectativa nos avanços prometidos pela campanha de Lula. Algumas exceções importantes, como a greve dos professores do Rio de Janeiro, foram exemplos importantes do enfrentamentos estaduais, mas o tom geral foi de esperar e entender o que seriam os próximos passos do novo governo.

No movimento estudantil, a realidade não foi tão diferente, apesar do Novo Ensino Médio já ser colocado em pauta desde o começo do ano, houve muita dificuldade na articulação de iniciativas massificadas pelo país. Parte da responsabilidade foi das próprias entidades nacionais, UNE e UBES, que tiveram resistência em pautar os temas mais polêmicos ao governo – como arcabouço fiscal e o próprio NEM, encontrando formas de última hora de se posicionar de forma mediada, mas não de articular mobilizações mais amplas que pudessem efetivamente atrapalhar os planos do Governo.

O Congresso da UNE foi uma expressão importante dessa política, onde o setor majoritário articulou convites para Luís Barroso e Camilo Santana ao mesmo tempo que recusou puxar uma data de lutas contra o NEM em sua plenária final. Além disso, o CONUNE foi um ponto de largada importante para delimitar onde estavam as perspectivas de cada setor da juventude para o próximo período. Por um lado, ao não definirem uma posição clara de independência ao governo tivemos setores como a Juventude Sem Medo demonstrando suas limitações (que seriam ainda mais visíveis no Congresso do PSOL), por outro tivemos a rearticulação de um campo da Oposição de Esquerda como um processo em construção mas com o mérito de apontar uma estratégia não-sectária e independente para o próximo período.

Essa estratégia, da luta política unitária combinada com a independência, ainda precisava ser posta em prática, algo que parcialmente pôde ser feito com alguns importantes processos de luta no final do ano. As mobilizações em São Paulo foram fundamentais, ao unificar os setores estudantis e trabalhadores em uma demonstração de que ainda existe espaço para construção de luta política nas ruas. O enfrentamento a Tarcísio teve como um dos pontos fortes a entrada em greve dos estudantes da USP e UNICAMP, que fizeram duas das maiores greves dos últimos anos nas universidades. Com fins e resultados diferentes, ambas tiveram importante participação do Juntos demonstrando uma necessidade da afirmação da combinação da unidade nas ruas para o enfrentamento aos retrocessos com a independência política de governos para que as mobilizações pudessem ir até o fim. O mesmo pode ser dito para a ocupação da reitoria da UFMA na qual participamos com centralidade.

Esses processos, em conjunto com importantes vitórias eleitorais recentes em DCEs, como a UnB, UFSM, UFRGS, UFC e UNIFESSPA, demonstram que existe espaço para uma política independente e radical. O Novo Ensino Médio, as consequências do arcabouço fiscal, a precarização de diversas universidades demonstram na prática que existem limites grandes que o governo Lula se impõe, não contemplando as necessidades da juventude brasileira. Ou seja, aponta a necessidade de luta. E, além disso, o desafio de que o desencanto ou indignação surgindo desses limites não vá, como foi na Argentina ou em outros países, a ser tomado pela extrema direita.

Apostar no futuro: é preciso ir além!

É preciso, se quisermos de fato derrotar a direita brasileira, ir além do possibilismo da conciliação de classes. A juventude pode ser um setor central em apontar que é necessário um projeto de ruptura – que não busque uma saída da crise que vivemos aumentando os laços com os setores que a causam, mas sim na mobilização e luta política. Nisso, o Juntos têm um papel central: ser um setor que aposte em uma estratégia que afirme que, em conjunto com a busca por unidade na mobilização, é necessário uma agenda independente e anticapitalista para o Brasil.

Mais que isso, é necessário a construção de um projeto ecossocialista. Que afirme tanto que a juventude pode ser um polo importante de resistência contra as medidas de ajuste fiscal, seja pela extrema direita estadualmente ou, onde necessário, pelo governo federal, mas que também coloque no centro lutas como o marco temporal e o desmatamento, denunciando as consequências cada vez mais explícitas da crise climática.

Ou seja, seguiremos entendendo que a extrema-direita é nosso principal adversário e que ela está longe de estar morta. Mas para derrotá-la é necessária uma política de ruas, independente e combativa e será um desafio conquistar a juventude um projeto que consiga debater a necessidade de não limitar nossa política aos acordos com os grandes capitalistas. Em outras palavras,nossa agenda precisa ir além dos limites do Governo Lula, não permitindo que suas debilidades se tornem fortalezas de um projeto reacionário.

Nesse sentido temos um desafio fundamental: os acampamentos ecossocialistas do Juntos precisam ser um espaço que coloque essa reflexão. Além de um encontro importante de início de ano de toda nossa militância e simpatizantes, precisa ser um espaço que defina o Juntos como um importante polo para aqueles que querem ir além. Articular para 2024 um projeto que combine a unidade da luta com a afirmação de uma política independente e anticapitalista, colocando os debates necessários, como a construção de uma mobilização permanente antifascistas pela prisão de Bolsonaro, a luta contra as políticas econômicas neoliberais do governo,contra as privatizações e em defesa do meio ambiente no centro. Junto a isso afirmar um movimento estudantil democrático e independente, que entenda que a possibilidade de conquistas dos nossos direitos não vai ser possível colocando expectativas na simples negociação com o governo, mas na ampliação e conquista dos estudantes de todo país para a mobilização.

Ou seja, precisamos dar um passo à frente no próximo ano, para impedir que seja a extrema-direita que dê. Para isso é fundamental seguir disputando para que a juventude organize sua indignação de norte a sul do país, construindo uma saída de lutas nas universidades e especialmente nas escolas e se conectando com os trabalhadores e bairros nas mobilizações que surgirem. Mas além disso será necessário reafirmar um projeto de ruptura, ecossocialista e revolucionário, que coloque além das palavras a necessidade de conquistar os direitos que já sabemos que não serão dados por aqueles que têm pautado retrocessos sem que haja mobilização.


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