Amplitude e independência no DCE da USP para preparar nossas próximas batalhas
Reprodução Sâmia Bomfim

Amplitude e independência no DCE da USP para preparar nossas próximas batalhas

Convocamos todas e todos que acreditam em um programa de independência, mobilização e unidade para enfrentar o neoliberalismo da USP, de Tarcísio e Lula e para defender um movimento estudantil da USP amplo, democrático e combativo.

Juntos USP 25 abr 2024, 19:00

A maior universidade do Brasil, que completou recentemente 90 anos, vai passar nas próximas semanas por um processo bastante importante para seu movimento estudantil, que serão as eleições do DCE da USP. Num cenário marcado pela greve nas universidades federais, que têm sido um divisor de águas entre o movimento estudantil independente e aquele que possui amarras com o governo federal, mas também por uma ofensiva da agenda neoliberal e autoritária do governador Tarcísio, que avança não só na privatização da SABESP e do metrô e da CPTM, mas também na educação com o leilão das escolas e e no genocídio deliberado nas periferias de São Paulo, a USP mostrou um caminho diante das incertezas do presente. Ano passado, no primeiro ano após a derrota do Bolsonaro, onde não tivemos grandes lutas de rua a nível nacional e o pragmatismo dos acordos parecia ter vencido, foi o movimento estudantil da USP que reavivou nessa nova geração pós-pandemia a urgência e a necessidade da auto-organização com a Greve de 2023. Por isso, mais do que uma disputa sobre quais forças políticas estarão no DCE, acreditamos que esse é um debate de interesse coletivo dos estudantes, que diz respeito ao futuro da direção do movimento estudantil da USP e, com sua influência política, também do país. 

Cerca de dois anos atrás, o Coletivo Juntos! se propôs a dar um passo importante, antes inimaginável para o cenário de desmobilização da USP: apostamos na unidade dos setores combativos para resgatar o protagonismo do DCE da USP nas lutas de dentro e fora da universidade. Em um cenário de retomada das atividades presenciais, após dois anos de pandemia, o Movimento Estudantil da USP estava fragmentado e enfraquecido, com uma gestão de DCE, composta pelos setores petistas, que abdicava da construção de mobilizações coletivas e optava pelos conchavos com a reitoria como estratégia principal do movimento estudantil.  Com mais de 60% dos votos em uma eleição com 8 chapas, a chapa “É tudo pra ontem!”, significou um novo paradigma para o movimento estudantil da USP. A nossa proposta, era reunir todos os setores que consideramos independentes, consequentes e combativos (Juntos!, Correnteza, UJC, Afronte, RUA e Rebeldia), mas por uma aposta lulista da Juventude Sem Medo e um sectarismo do Correnteza contra o Rebeldia, a conformação possível se deu entre Juntos, Correnteza e UJC. E se desde 2017 o que primava era uma visão de DCE “que faz pelo estudante” a partir das suas relações privilegiadas com a burocracia da universidade, a atual gestão do DCE mostrou que é possível e necessário arrancar avanços através da auto-organização dos estudantes, de forma ampla e unitária.  

Entre acertos, mas também insuficiências, a Gestão “É tudo para ontem!” foi marcada pela aposta no desenvolvimento das lutas dentro e fora da universidade. Vencemos dizendo que não seria possível esperar as eleições para derrotar Bolsonaro, pois a extrema-direita não era apenas um fenômeno eleitoral, e sim um movimento que precisava ser derrotado nas ruas. Mesmo que isso não tenha sido possível, fomos aqueles que também fizeram campanha para Lula, buscando levantar a bandeira firme do antifascismo dentro da USP, impulsionando cursos e estudantes a fazerem uma disputa a quente para virar essa página perigosa da nossa história. Assim como também disputamos um novo projeto de permanência estudantil na Universidade, compreendendo que a tardia aprovação das cotas na USP está transformando a universidade e que o auxílio de 500 reais era absolutamente insuficiente. Mais do que conquistas da nossa gestão ou benesses da nova reitoria, as conquistas e retrocessos que tivemos em relação ao PAPFE também demonstraram o nível de acúmulo e auto-organização do movimento estudantil da USP, que retomou a ideia de participação, combate e protagonismo nas decisões que nos dizem respeito; a maior expressão disso se deu em uma das maiores greves estudantis da USP das últimas décadas.

Nós do Juntos! valorizamos a extração de lições de cada experiência de luta que construímos. Sem pretensão de autoproclamação, acreditamos que só foi possível concretizar, depois de muitos anos, uma greve que fosse de fato massiva e construída debaixo pra cima na universidade porque a frente do DCE estava uma orientação política que combinou a unidade na luta com a busca pela massificação. A contradição escandalosa de uma universidade bilionária, com ausências tão escancaradas como a falta de professores, precisava de uma resposta à altura. Acreditamos que boa parte dos grupos que atuam na USP, incluindo nossos companheiros de gestão, ao colocarem a autoconstrução como principal prioridade, não teriam essa capacidade de articulação que necessariamente precisa ir além de suas próprias fronteiras. Dizemos isso não para autoproclamar que o Juntos! foi o único responsável pela construção da greve, muito menos o único capaz de levar adiante as lutas na USP, mas justamente para apontar a necessidade da construção de um polo independente e que busque a massificação num momento em que a esquerda majoritária do país não possui interesse em produzir grandes mobilizações e enfrentamentos. 

Por isso, apresentamos como desafios, das lições extraídas da luta concreta, mas também abrindo espaço para as novas gerações que entram esse ano e se deparam com os mesmos problemas estruturais da USP, dois principais temas. O primeiro, passa pela necessidade de disputa de um projeto mais global de universidade. A fortaleza da greve da USP foi justamente a sua diversidade de iniciativas, pautas e atores políticos, mas a dispersão por vezes também nos confunde, e nos apresenta apenas parte da realidade. Os limites apresentados pela reitoria da USP –  de caráter distinto das últimas reitorias pelo seu “verniz democrático” -, ao não atender a totalidade das nossas pautas e nem resolver de fundo as motivações da greve, demonstra que não tem, nem terá nenhuma disposição de enfrentar a lógica privatista, meritocrática e neoliberal da Universidade de São Paulo, que aplica a mesma lógica do Teto de Gastos imposto a nível federal. Ainda que tenhamos tido vitórias concretas importantes – como o funcionamento dos bandejões nos sábados, já em funcionamento -, não será possível resolver os problemas do sucateamento de determinados cursos, de permanência, transporte, moradia, sem que haja um enfrentamento à lógica de funcionamento da USP. Pela primeira vez, durante a greve, uma geração passou a saber o que é Gatilho Automático, Edital de Mérito, e tantos outros mecanismos utilizados pela burocracia da universidade para que ela siga sendo uma ferramenta ideológica e econômica da elite paulistana, sem verdadeiramente abrir suas portas para a classe trabalhadora.

O segundo desafio, passa por construirmos um movimento estudantil mais democrático. Mas isso não passa apenas por um debate de método de uma assembleia ou de funcionamento de um DCE, ainda que achamos que serão debates importantes a serem feitos. Isso passa também pela encruzilhada de como garantir uma representatividade real na política de uma universidade como a USP e não apenas dos estudantes do Butantã, e como fazer do DCE uma guarda-chuva político do ativismo e cultural na universidade, para além das forças políticas e estruturas do movimento estudantil. A experiência vivida em uma greve é irreversível e sempre traz aprendizados coletivos e individuais, por isso defendemos a necessidade de encerramento o mais unitário possível, pois ao reconhecer as limitações da reitoria da USP, precisávamos que os cursos saíssem moralizados diante da experiência da greve, mais preparados para novas experiências de luta. Um exemplo disso, foi a greve de 2016 que reverteu na aprovação das cotas apenas em 2017. Ou mesmo a forte e corajosa greve dos estudantes da Medicina no início desse semestre… Achamos, porém, que para que tenhamos passos mais sólidos e unitários, que possam de fato construir lutas vitoriosas contra a estrutura neoliberal da USP, é necessário construir pautas de maioria na USP, que busquem unificar os estudantes de Piracicaba à Lorena, da EACH à Saúde Pública. Isso significa a necessidade de um movimento estudantil mais democrático, capaz de construir sínteses apesar das nossas diferenças.

Convocamos todas, todos e todes que acreditam nesse programa de independência, mobilização e unidade para enfrentar o neoliberalismo da USP, de Tarcísio e Lula; para defender um movimento estudantil da USP amplo e democrático, que siga sendo protagonismo político como há muito foi; para darmos um passo adiante e preparamos novos e decisivos enfrentamentos; e para conquistarmos as cotas trans, reais cotas PPI para professores, o vestibular indígena, o retorno do gatilho automático, o fim do edital de mérito e do teto de gastos na USP, bolsas automática para cotistas, a ampliação dos transportes e das moradias, e uma USP 100% pública. Para isso, é necessário um novo DCE, que reconheça todos os importantes avanços que tivemos nos últimos dois anos, retomando a vivacidade do movimento estudantil da USP, mas que busque ir além do que foi a última gestão, com uma centralidade em ampliar e massificar o DCE. O Juntos! convoca organizações, coletivos, coletivos auto-organizados, estudantes em suas mais diversas experiências na universidade, a seguir fortalecendo o protagonismo político do DCE Livre da USP, construindo uma chapa da unidade na luta, e que esteja à altura da coragem daquele que leva seu nome.


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