O que é ser militante do Juntos?
Comunicação do Juntos!

O que é ser militante do Juntos?

Esse é um texto que originalmente estava presente no Jornal do Juntos! e agora vem para nosso site para apresentar aos nossos militantes e também aqueles que querem nos conhecer melhor como é militar em nosso movimento.

João Pedro de Paula 20 abr 2024, 11:38

Na edição do Jornal Juntos! elaborada para a Bienal da UNE de 2023, publicamos um texto com o mesmo nome. Com a ideia de apresentar uma síntese do que é militar conosco, para debater entre nossos próprios militantes e principalmente para trazer novas caras para nossas fileiras. Agora, trazemos um texto com o mesmo sentido para nosso site.

O Juntos!, movimento de juventude fundado em 15 de julho de 2011, já possui mais de uma década de história. As logos mudaram, os motes que estampamos em nossas camisas também, já usamos “por um outro futuro”, “organize a sua indignação” e hoje estamos com “anticapitalistas e antifascistas”. Cada um tentando atualizar a nossa cara mais imediata para o momento que vivemos, mas nosso sentido de construção mantém o mesmo fio de continuidade pelo qual o movimento surgiu. Mas afinal, o que defendemos e o que significa construir o Juntos!?

  1. A mobilização é o nosso método

Para os mais diversos desafios que temos, para os muitos direitos que queremos conquistar, encontramos a mobilização como o caminho. Em uma sociedade composta por classes sociais antagônicas, o que move a realidade é o conflito, a luta social. Até hoje, nada que conquistamos nos foi dado. Desde o direito mais específico e menor que possa parecer, até às transformações mais estruturais da nossa realidade. A abolição da escravidão, como diz o Samba da Mangueira, não veio do céu nem das mãos de Isabel, foi arrancada pelas longas décadas de luta do povo negro. 

A luta coletiva é o que muda e também o que educa. É na luta que não só podemos ter transformações mais imediatas da realidade, como também semear um mundo novo. É nela que nos reencontramos como um coletivo, contrapondo a lógica individualista que o modo de vida neoliberal nos impõe hoje, como se fôssemos a todo instante concorrentes entre si. É também na luta que aprendemos que é possível transformar, que é possível conquistar na luta, seja a coisa mais básica, seja aquilo que possa parecer mais distante, mas que é essencial para abalar e destruir as raízes do capitalismo. 

  1. Queremos ir da luta à revolução!

Nós somos daqueles que acham que derrotar o capitalismo é uma das chaves para superar nossos problemas. Vivemos numa sociedade em que poucas pessoas possuem bilhões na conta do banco ao mesmo tempo em que há bilhões de pessoas sem ter onde morar e o que comer. Não aceitamos como natural a realidade desigual de hoje: vemos que é possível e necessário superá-la. Por isso, nos reivindicamos como anticapitalistas.

Mas não achamos que vamos convencer as pessoas de que o problema é o capitalismo só falando dele e de uma revolução de uma forma que possa ser abstrata. A cabeça pensa onde os pés pisam. A fome, o racismo, o machismo, a lgbtfobia, o desemprego são o que as pessoas sentem no dia a dia, de formas diferentes, mas quase sempre sendo exploradas e oprimidas nesse mundo injusto. Para construir o socialismo, mais do que nunca, é preciso dialogar e lutar pela superação dessa realidade imediata. 

Nós queremos estar em todas as lutas possíveis do nosso tempo, não só porque queremos ter melhores condições de vida no hoje, mas para dizer que as lutas também precisam ir além. E muito importante: que essas lutas são conectadas! Reconhecer seus pontos em comum não significa ignorar cada particularidade, mas entender que elas fazem parte de uma totalidade que precisa ser enfrentada conjuntamente. 

Mas então o que é militar pela revolução? Militar não é afirmar o quão somos os verdadeiros revolucionários, radicais e grandes entendedores do marxismo. Militar não é se resumir a lutar pelo possível no agora, pensando apenas um dia de cada vez. Militar não é afirmar o nosso programa como a única solução para os todos problemas do país.

É o equilíbrio entre paciência e impaciência. Porque sendo apenas impacientes podemos achar que a revolução será feita amanhã se assim avisarmos as pessoas da importância dela, supondo que a consciência da nossa organização é o centro da realidade. E sendo apenas pacientes, nos resumimos ao pragmatismo de garantir o pão de cada dia, esquecendo que podemos muito mais (e que não há contradição nisso).

Militar no Juntos! é pensar em como costurar um caminho da luta à revolução, unindo através da ação a diversidade dos nossos desafios.

  1. Somos marxistas e ecossocialistas!

Temos o marxismo como o nosso guia para ação, enquanto método de leitura da realidade, e também como programa político para a transformação desse mundo. O marxismo é a síntese entre a teoria para desvendar a realidade e a ação coletiva para transformá-la. Estudamos teoria, mas sempre pensando em como ela pode nos ajudar na nossa intervenção política cotidiana. E em um movimento constante, de refletir, agir, refletir, etc. 

Reivindicamos as ideias de Marx, Engels, Rosa, Lênin, Trotsky, Fanon, Lélia Gonzalez e muitos outros militantes que contribuíram para termos mais condições de lutar hoje. Mas entendemos que o marxismo não é algo dogmático, estático. Ele é também um método para produzir novas elaborações de uma realidade que não foi vivida pelos que vieram antes de nós.

Ser marxista não é ler Marx e Lênin como se seus textos fossem a única chave para o hoje. Nem mesmo se amarrar a práticas militantes sem pensar em se e como fazem sentido ou não no agora. Ser marxista é encontrar o essencial nas obras clássicas, trazendo contribuições que seguem válidas e especialmente identificando a forma como chegaram às conclusões de seu próprio tempo, para que possamos fazer o mesmo.

Socialismo para nós é uma sociedade com plena democracia, que não foi, mas ainda pode ser realizada. Valorizamos as diversas experiências revolucionárias dos povos em lutas, mas não nos prendemos em fórmulas nem em estéticas que possam aparentar na forma como socialistas, mas que no conteúdo, na prática, não tem nada disso. 

Como foi a perspectiva de um socialismo autoritário e burocratizado defendido pelo stalinismo ou na própria China do século XXI, país em que o Partido Comunista tem bilionários como membros e que persegue aqueles que fazem críticas democráticas ao regime.

Por isso, nos reivindicamos como ecossocialistas, na perspectiva de construir uma revolução que também tenha como centro o enfrentamento da crise climática que coloca nossa existência em risco. Achamos que precisamos puxar um freio de emergência para derrotar essa lógica produtiva que vem destruindo nosso planeta. É ecossocialismo ou extinção.

  1. Somos internacionalistas! 

“Se o racismo é internacional, o antirracismo também precisa ser!”

Essa frase surgiu em muitos cartazes durante o levante negro que se ergueu pelo mundo após o brutal assassinato de George Floyd nos EUA durante a pandemia. O capitalismo é um modo de produção que faz tudo estar conectado. Um retrocesso nos direitos trabalhistas em um país vizinho, atinge diretamente a nossa realidade, porque aqui vão começar a dizer que é possível explorar mais. Esse exemplo pode ser repetido para diversos casos. 

Temos uma extrema-direita que é articulada globalmente. A mesma que defende o genocídio do povo palestino pelo Estado de Israel e também defende o genocídio do povo negro e indígena no Brasil, inclusive com o uso dos mesmos armamentos e práticas militares. Não podemos achar que iremos derrotá-la apenas em cada localidade que estamos. Se os fascistas estão articulados entre si, os antifascistas também precisam ser! 

Mais do que nunca, a nossa luta precisa ser internacional. As experiências revolucionárias do século passado nos demonstraram que não existe socialismo em um só país. Agora, até para os desafios mais imediatos temos que fortalecer laços de solidariedade com aqueles que lutam em todo o mundo! 

  1. Trabalho de base: ninguém muda o mundo sozinho

Marx nos ensinou que uma ideia só tem força quando é assumida pelo povo. Não adianta construirmos o mais seleto e convicto grupo de militantes sem ter qualquer inserção na realidade. A história nos ensinou que não é uma organização ou movimento que fará a revolução. Ela pode e deve ser a parte mais decidida desse processo, como os Bolcheviques na Rússia, enquanto condutora das lutas sociais. Mas quem faz a transformação é o povo consciente dessa necessidade e possibilidade. 

O Juntos! existe enquanto movimento para organizar uma parcela importante do povo que é a juventude, presente na maioria das lutas desse país e que por si está em contradição com o hoje porque busca um outro futuro. Queremos conectar essas lutas e apontar que o caminho está na mobilização e não nas instituições dessa democracia que só serve para alguns. Por isso dizemos que a mobilização precisa ser permanente. Mas ela por si é insuficiente para tanto. É preciso a auto organização do povo e da juventude, acumular a experiência das lutas de hoje com as de ontem, para pensar as próximas. Isso se faz com trabalho de base.

Então o que é fazer trabalho de base? É organizar uma reunião de estudantes de um curso, universidade, bairro ou cidade, para preparar uma luta pelo passe livre ou mesmo estudar um texto como formação política, para termos militantes mais preparados. É construir brigadas para vender o nosso jornal e fazer com que outras pessoas conheçam e assumam nossas ideias e se tornem militantes.

Assim, militar é sempre pensar como podemos ter mais capacidade de conscientizar e influenciar as pessoas para construir lutas cada vez maiores e assim fortalecer o movimento e seguir nesse processo dialético de mobilização e auto organização. É acima de tudo, estar onde o povo e a juventude estão e construir no meio disso uma organização política.

  1. Núcleos de base e centralismo democrático: reunimos, debatemos e agimos! 

Com o acúmulo da experiência daqueles que vieram antes de nós, nos organizamos por um método chamado centralismo democrático, que é composto por dois pólos que podem parecer contraditórios (centralismo e democracia), mas que se articulam na luta. 

O mundo no trabalho sempre nos ensinou a apenas obedecer e seguir ordens. Para construir um novo mundo, precisamos ter cada vez mais democracia e isso passa também pela nossa própria organização. Assim, cada militante tem direito de debater a nossa linha política em seu núcleo, que é o espaço mais básico de organização da nossa atuação, que pode ser organizado por universidade, escola, bairro, cidade, o que fizer sentido para realidade do local. E como não somos um grupo de estudos, toda reunião nossa sempre deve tirar encaminhamentos para ação. Debatemos e então atuamos como um corpo só. 

O centralismo democrático vai muito além disso, porque nem sempre conseguimos nos reunir para debater todas as questões e em certos casos atuamos a partir de uma confiança política nas orientações da direção do núcleo. Mas ele é sempre uma síntese entre democracia e centralismo.

Todo núcleo nosso tem um ou mais dirigentes, que é o militante que está momentaneamente na tarefa de conduzir o espaço. Às vezes aquele que é o mais experiente, quem mais se dedica, ou um conjunto de vários fatores. E que busca trazer unidade com a linha política do Juntos! no Estado ou nacionalmente. Afinal, somos um movimento só, mas que tem suas intervenções adequadas a cada espaço que atuamos. 

Como somos uma organização voltada para a transformação da realidade, cada militante nosso precisa estar localizado em algum núcleo e/ou ter alguma tarefa, para contribuir nesse processo. Uma tarefa básica de um militante do Juntos! é justamente a venda do nosso Jornal, instrumento em que podemos apresentar nossas ideias para mais pessoas, fortalecendo a nossa organização e consequentemente a nossa capacidade de intervir nas lutas do dia dia. Mas é claro, a contribuição de cada militante sempre deve ser considerada a partir do que é possível em sua própria dinâmica de vida, pensando individualmente as tarefas e localização de cada um.

Este texto é limitado. Militar no Juntos! vai muito além do que está escrito aqui, porque se trata de uma experiência coletiva, mas que é expressa através de cada individualidade. Espero que o texto possa ser útil para aqueles que estejam querendo nos conhecer melhor ou aos nossos militantes, porque sempre é bom relembrar o que somos, o que fazemos e porquê. 


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